Vidros e superfícies espelhadas são uma ameaça fatal para as aves

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves alerta para uma ameaça pouco estudada e subvalorizada na Europa. Em Portugal, a informação é escassa e desconhecem-se os principais factores de risco.

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Segundo observações realizadas pelo cidadão comum, estima-se que a taxa de mortalidade das aves após as colisões ronde os 82% BOGDAN CRISTEL / REUTERS
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Oito em cada dez vezes que uma ave embate numa superfície transparente ou espelhada, essa colisão é fatal, divulgou a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, esta terça-feira, alertando para uma ameaça cada vez mais generalizada em Portugal.

A colisão das aves com superfícies transparentes ou espelhadas causa anualmente a morte de centenas de milhões de aves por todo o mundo. Esta causa não-natural é uma das ameaças menos estudadas e mais subvalorizadas na Europa, existindo pouca informação sobre as espécies afectadas e os principais factores de risco em Portugal, avança o comunicado da SPEA.

Esta ameaça tem vindo a tornar-se mais preocupante à medida que se generaliza a utilização de superfícies transparentes, como esplanadas, campos de padel ou protectores de auto-estradas, e espelhadas, como fachadas e janelas de edifícios recentes.

A associação lançou, em Outubro de 2023, uma iniciativa de ciência-cidadã para que os cidadãos avisassem sempre que vissem uma ave a colidir ou que tivesse colidido com uma barreira transparente ou espelhada, através de um questionário. O objectivo era recolher informação para depois encontrar soluções para cada local crítico. A partir do formulário disponibilizado ao público foram recolhidos 89 registos a reportar a colisão de 124 aves de 29 espécies diferentes.

Das observações efectuadas pelas pessoas estima-se que a taxa de mortalidade devido a colisões deste tipo seja de cerca de 82%, "um número alarmante" segundo a SPEA, tendo-se verificado que 64% dos embates resultaram na morte imediata das aves.

Contudo, o relatório da SPEA destaca que a taxa de mortalidade pode estar a ser subestimada porque existem estimativas de que cerca de metade das aves que sobrevivem a este tipo de embates acaba por morrer nas horas seguintes, devido às lesões sofridas.

O que é que pode ser feito?

Com base nos dados recolhidos ao longo de um ano, existem algumas espécies que parecem ser particularmente sensíveis a esta ameaça. No caso do guarda-rios, do gavião e do papa-moscas-preto, a morte por colisão com superfícies transparentes ou espelhadas corresponde a uma percentagem significativa da mortalidade não-natural. Além disso, as aves migradoras estão entre as mais afectadas. Além do papa-moscas-preto, outras migradoras como as toutinegras e felosas foram também impactadas.

"Uma parte significativa das colisões registadas foi em janelas espelhadas de moradias, pelo que os cidadãos também podem ter um papel importante para mitigar o impacto desta ameaça. Por essa razão, é também importante falarmos deste problema e de possíveis soluções", refere o técnico da SPEA responsável por coordenar esta iniciativa, Hany Alonso, em comunicado.

Com base nos dados recolhidos e em estudos internacionais, a SPEA recomenda que, "sempre que possível, se considere utilizar outros materiais, e que se evite em especial instalar superfícies transparentes e/ou espelhadas em áreas sensíveis como ribeiras, zonas húmidas, ou parques, jardins e outros locais com vegetação abundante".

Nas situações em que forem instaladas superfícies espelhadas ou transparentes, a SPEA apela a que se incluam medidas que "reduzam o risco de colisão, como instalar autocolantes ou películas anti-adesão para torná-las mais visíveis para as aves, estas devem ser instaladas no exterior da superfície, e cobrir toda a área".

A SPEA apela ainda às autoridades locais e às empresas para que adoptem estas boas práticas e para que considerem este problema na elaboração de estruturas urbanísticas, de modo a proteger a avifauna nacional e preservar a biodiversidade.

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