Depois de longa espera, brasileiros vão à AIMA em busca do cartão de residência

No dia em que o Centro Hindu comemora três meses de atendimento a imigrantes, brasileiros buscam resolver pendências para obter o cartão de residência que garante uma vida mais tranquila em Portugal.

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Fila de imigrantes com agendamento na entrada do Templo Hindu, no Lumiar Jair Rattner
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O frio marcou o dia em que o principal centro de atendimento para a legalização de imigrantes da Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA) completa três meses. Com a temperatura de 11 graus às 9 da manhã, os convocados para resolver sua situação no Templo Hindu de Lisboa estavam com casacos, gorros e luvas.

No caminho para o templo, uma demonstração de empreendedorismo imigrante. A cada 25 metros, com um saco de supermercado no chão, tendo dentro garrafas térmicas, cidadãos com origem do sudoeste asiático vendiam tchai — bebida quente de chá com leite açucarada.

Na porta de entrada, um segurança verificava se os imigrantes que ali chegavam tinham realmente o agendamento e se traziam o passaporte. O centro foi montado para a parte burocrática do processo de legalização de até 2 mil pessoas por dia. No entanto, esse número não é atingido porque várias das pessoas convocadas não comparecem ou não trazem todos os documentos necessários.

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Imigrantes do sul da Ásia vendem tchai na porta do Centro de Atendimento da AIMA Jair Rattner

O Centro Hindu é o maior dos 20 postos de atendimento montados pela AIMA e espalhados por Portugal para tentar zerar, até julho de 2025, os mais de 400 mil processos pendentes de pedidos de autorização de residência. Desde que começou a operar, esse centro já recebeu cerca de 100 mil imigrantes.

Sem documentos

Na fila para entrar, a mineira Monique Teodoro, 38 anos, tinha esperança de resolver sua situação. Natural de Campo Belo, ela está em Portugal há dois anos. “Fiz minha manifestação de interesse — instrumento que foi extinto em junho último, que era o primeiro passo para a legalização de quem imigrava para Portugal sem visto — em janeiro de 2023. Neste momento, não tenho nenhum documento para viver legalmente em Portugal”, diz.

Ela afirma que tem dois caminhos para legalizar sua presença em Portugal. “Além de todos os documentos que eles pediram, trouxe também, a minha certidão de casamento. Quem sabe, assim, seja mais fácil obter o título de residência”, relata a mineira, que é casada com um português.

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A mineira Monique Teodoro quer o título de residência para abrir uma empresa Jair Rattner

Monique conta que, no Brasil, trabalhava numa franquia de empréstimos bancários, com base no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e outros bens. “Em Portugal, vendo lingerie feminina brasileira. Eu importo do Brasil para vender”, explica.

Com o título de residência, a mineira pretende abrir uma empresa em território luso, mas ainda está em dúvida sobre a área em que vai atuar. “Estou em dúvida sobre o ramo de trabalho. Não sei se continuo vendendo lingerie ou se abro uma consultoria para diminuir a taxa de juros dos empréstimos para comprar casa em Portugal”, afirma.

Encalacrado

Para Alessandro Santos, 32, mineiro de Bocaiuva, a falta da autorização de residência está sendo um atraso de vida. “Tenho uma empresa de lavagem de carros em Cascais, mas não consigo abrir conta bancária. Se não posso receber numa conta, os clientes desconfiam”, reclama.

Em Portugal desde maio de 2023, Alessandro entregou a manifestação de interesse em agosto do ano passado. “Espero que consiga resolver tudo hoje. Depois, vou esperar os 90 dias úteis pelo documento. Se não recebê-lo, entrarei com uma ação judicial para a emissão de emergência do documento”, promete.

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Alessandro Santos precisa da autorização de residência para abrir a conta bancária de sua empresa Jair Rattner

Além de emperrar a vida profissional, o brasileiro se sente amarrado em Portugal devido à falta de título de residência. “Estou sem condições de mobilidade. Quero poder viajar, visitar minha família, conhecer outros países, mas não consigo”, diz ele, que, no Brasil, tinha uma empresa de tecnologia da informação, que fazia sites e aplicativos e dava suporte ao usuário.

Por amor

A cearense Hellen Tavares, 20, mudou-se para Portugal para seguir o namorado. “Ele veio primeiro, e eu vim por influência dele. Cheguei em julho do ano passado”, conta ela, que fez a manifestação de interessa em agosto. “Para ser sincera, foi tudo muito tranquilo. Meu namorado organizou tudo”, relata. Em Fortaleza, Hellen era manicure.

Trabalhando numa academia de ginástica como consultora comercial, vendendo planos de utilização do espaço, nem a falta da conta bancária atrapalhou sua vida. “Nos primeiros seis meses, recebia na conta do meu namorado. Depois, consegui abri minha própria conta", acrescenta.

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Hellen Tavares era manicure em Fortaleza. Em Portugal, trabalha em uma academia de ginástica Jair Rattner

Foi por causa de uma viagem do namorado que a engenheira civil mineira Ana Cecília Moreira, 33, também mudou de vida. “Eu o conheci quando ele estava de férias no Brasil. Decidimos manter a relação, e vim para Portugal”, lembra.

Na porta do centro de atendimento da AIMA, Ana Cecília acompanhava uma amiga. “Já fui atendida em 26 de novembro. Agora, estou esperando receber a autorização de residência”, relata a engenheira, que trabalha no metrô de Lisboa.

Sobre a experiência que teve na AIMA, ela faz uma avaliação positiva. “Fiquei impressionada, porque estão realmente com o intuito de resolver a situação dos imigrantes. O processo de entrada é demorado, mas lá dentro tudo é organizado. É só seguir o fluxo”, relata. Ela conta que, no dia 26, entrou às 9h30 da manhã no centro de atendimento e tinha todo o processo concluído às 12h40.

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Ana Cecília Moreira deixou emprego no Brasil para se juntar ao namorado. Atualmente trabalha no metrô de Lisboa Jair Rattner

Para a presidente da Casa do Brasil em Lisboa, Cyntia de Paula, o trabalho realizado pelo Centro Hindu nos últimos três meses foi positivo, sobretudo pelo papel que as associações e entidades que trabalham com imigrantes têm tido na estrutura. "Na semana passada, chegou-se a marca de 100 mil atendimentos. Agora, é importante que a emissão dos títulos também seja célere", afirma.

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