Mortágua acusa Governo de hipocrisia e “visão oportunista” na política de imigração
Coordenadora do BE foi ainda mais longe nas críticas ao executivo minoritário PSD/CDS-PP, acusando-o de tratar a imigração de “uma forma desumana”.
A coordenadora do BE acusou este domingo o Governo de hipocrisia e de ter uma “visão oportunista” da imigração, ao pretender facilitar a entrada de imigrantes no país para concluir obras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
“Ao admitir uma via verde para alguns trabalhadores, a começar na construção, o que o Governo está a fazer desde logo é admitir o erro e a hipocrisia da sua política passada. O fim da manifestação de interesse, independentemente dos problemas que a AIMA [Agência para a Integração Migrações e Asilo] tinha e dos processos de regularização, é um erro enquanto política de imigração”, acusou Mariana Mortágua, em conferência de imprensa no final de uma reunião da Mesa Nacional do partido, em Lisboa.
Na reunião foi marcada a 14.ª Convenção Nacional do partido para 31 de Maio e 1 de Junho do próximo ano, em Lisboa. Interrogada sobre se pretende voltar a apresentar uma lista à Mesa Nacional nessa ocasião, Mariana Mortágua respondeu apenas: "Sobre a convenção, veremos. O prazo de apresentação de moções é o dia 3 de Fevereiro, agora cabe ao Bloco de Esquerda organizar-se, fazer o debate interno e também as propostas à direcção do partido". Na última convenção, em Maio de 2023, Mariana Mortágua foi escolhida pelo partido como coordenadora nacional, sucedendo a Catarina Martins que ocupou este cargo durante uma década e é actualmente eurodeputada. A sua lista "A" conseguiu 67 dos 80 lugares da Mesa Nacional (o órgão máximo entre convenções), vencendo a moção "E", cujo porta-voz foi Pedro Soares, que ficou com 13.
Interrogada sobre a notícia avançada no sábado pelo Jornal de Notícias, segundo a qual o Governo pretende facilitar a entrada de imigrantes para concluir obras do PRR, Mariana Mortágua considerou que “a abertura de uma via verde para imigrantes é a demonstração da hipocrisia do Governo neste tema”. “O Governo decidiu uma política de imigração não porque ela é mais justa para as pessoas, não porque ela é melhor para o país, não porque ela respeita quem quer que seja. Mas para ir atrás, responder, disputar ideias com a extrema-direita e com o Chega. Foi por isso que Luís Montenegro decidiu acabar com as manifestações de interesse e impedir a regularização de imigrantes em Portugal”, criticou.
A coordenadora nacional bloquista salientou que agora, cerca de seis meses depois de ter anunciado o fim do mecanismo da manifestação de interesse, o executivo “chegou à conclusão, como qualquer pessoa chega, que a economia portuguesa não funciona sem imigrantes, que os imigrantes estão em Portugal porque há trabalho em Portugal e porque é esse trabalho que chama as pessoas”.
“E o que nós temos de garantir é que essas pessoas que chegam a Portugal para trabalhar têm direitos e deveres, mas têm um processo de regularização, que há regras sobre habitação, que há capacidade de formação, da língua, da integração, etc”, acrescentou.
Mariana Mortágua foi ainda mais longe nas críticas ao executivo minoritário PSD/CDS-PP, acusando-o de tratar a imigração de “uma forma desumana”. “Porque trata a imigração como se fosse apenas uma questão das necessidades do país, como se fosse apenas uma questão de quantos é que precisamos para montar andaimes, de quantos é que precisamos para erguer um prédio, de quantos é que precisamos para trabalhar nas estufas. E a imigração é isso, mas é muito mais que isso”, realçou.
Na óptica da coordenadora bloquista, a imigração é “a capacidade e a possibilidade de as pessoas procurarem uma vida melhor noutro país e aí constituírem o seu futuro”, lembrando que foi o que muitos portugueses fizeram noutros países. “Esta visão economicista da imigração e oportunista da imigração é uma visão que em si desrespeita os Direitos Humanos, é uma visão que não vê as pessoas como seres humanos e apenas como uma mão-de-obra barata. E nós devemos contrariar essa visão”, defendeu.