Abu Mohammad al-Jolani. Quem é o líder dos rebeldes sírios?
Aos 42 anos, Abu Mohammad al-Jolani, o líder do grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), tem agora o grande desafio de tentar criar um novo regime que seja inclusivo.
Abu Mohammad al-Jolani, o líder do grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS) que conquistou este domingo a capital da Síria, Damasco, nasceu em 1982 com o nome de Ahmed Hussein al-Sharaa. E foi com o seu nome verdadeiro, segundo a Reuters, que assinou uma das primeiras decisões após a vitória: proibir os seus homens de disparar tiros para o ar e de se aproximarem de organismos públicos, criando uma ideia de ordem.
Nascido na Síria, viveu os seus primeiros sete anos na Arábia Saudita, onde, de acordo com o Financial Times (FT), o seu pai trabalhou como engenheiro petrolífero e acabou por ser marcado pelos diversos conflitos que atravessaram a região. Aos sete anos foi para Damasco, cidade para onde o seu avô se tinha mudado após a ocupação dos montes Golã por Israel.
O seu ponto de transição, que o levou para a luta armada, deu-se na viragem do milénio, com a segunda intifada. “Tinha 17 ou 18 anos, e comecei a pensar como é que podia cumprir o meu dever, defendendo um povo que era oprimido por ocupantes e invasores”, afirmou à norte-americana PBS em 2021, naquela que, segundo o FT, foi uma das raras entrevistas a órgãos de comunicação social ocidentais, naquela altura.
Depois dos ataques às Torres Gémeas, a 11 de Setembro de 2001, juntou-se às forças que combateram os norte-americanos em Bagdad em 2003. Acabou por ser feito prisioneiro e passou cinco anos no Campo Bucca, no Sul do Iraque.
De acordo com o Washington Post (WP), Jolani foi libertado em 2011, no início do conflito sírio, e recebeu a missão de ajudar a expandir a Al-Qaeda. Acabaria por lutar também contra a Al-Qaeda e o auto-intitulado Estado Islâmico, diz o WP, depois de se distanciar da ideologia jihadista transnacional e construir uma frente rebelde focada em tomar o poder na Síria.
“Jolani é novo, inteligente e extremamente ambicioso”, afirmou ao WP Charles Lister, professor no Instituto do Médio Oriente, em Washington, e especialista em assuntos sírios.
Apesar de ter afastado os membros mais radicais, o grande ponto de interrogação está ligado aos próximos passos. “O destino de Jonali está a ser desenhado neste momento, afirmou ao FT Jerome Drevon, um especialista em jihadismo do think-tank Crisis Group. “Se permanecer inclusivo, isso irá determinar o seu legado.”
“Ele costuma dizer que o mundo real deve guiar o teu islamismo, e que uma pessoa não pode forçar o seu islamismo ao mundo real”, afirma Drevon. Outro especialista no jihadismo citado pelo FT, Aaron Zelin, descreve Jonali como o “líder carismático de um regime autoritário”.
Um outro ponto de interrogação tem que ver com a forma como os EUA vão lidar com Jonali, sobre o qual ofereceram um prémio de dez milhões de dólares para a sua captura, designando o HTS como uma organização terrorista.