Monumento desenhado por Siza evoca muralha de Aveiro, mas não fica imune às críticas

Obra, que contemplou também a reformulação do adro da sé, é inaugurada este domingo. Antigo presidente diz que é “mais uma aberração urbanística” em Aveiro.

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A inauguração da obra de Álvaro Siza está marcada para este domingo ADRIANO MIRANDA
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O pano só será descerrado este domingo de manhã, pelas 11h00, mas há já uma semana que a obra referente à qualificação do adro da sé e novo monumento evocativo da muralha de Aveiro anda a fazer correr muita tinta. O projecto da autoria do arquitecto Álvaro Siza está longe de ser consensual, à semelhança do que já aconteceu com a escultura da autoria de Rui Chafes, instalada na Ponte-Praça em Junho deste ano. Ribau Esteves, presidente da câmara municipal, respeita “a diferença de opinião”, mas diz que ela não condiciona o trabalho do executivo que lidera. No seu entender, esta empreitada, que custou cerca de um milhão de euros e é assinada pelo primeiro arquitecto português a receber um Pritzker, representa “mais um importante elemento de valorização patrimonial” para a cidade de Aveiro.

O projecto remonta ao primeiro mandato do antigo presidente Élio Maia (PSD-CDS/PP) – no âmbito das comemorações dos 250 anos da elevação de Aveiro a cidade – mas acabou por não ser executado. A equipa de Ribau Esteves decidiu retomá-lo e opta por desafiar o arquitecto Siza a juntar ao projecto do monumento evocativo da cidade a reformulação do adro da sé. São, assim, duas intervenções numa só empreitada, sendo o monumento, uma torre, o menos consensual de todos.

“Rui Chafes e Siza Vieira não têm culpa. A bola do primeiro quase não se vê. A muralha do segundo tapa a visão. A primeira é um nada artístico, a segunda é um excesso de nada”, escreveu o antigo presidente da Câmara de Aveiro Alberto Souto na sua página de Facebook, atribuindo “a culpa” a “quem encomendou estas obras para estes locais”. Concretamente no que ao monumento evocativo da muralha diz respeito, o socialista considera tratar-se de “mais uma aberração urbanística”.

“O memorial da muralha de Aveiro podia ter sido erigido num outro qualquer local”, avaliou, considerando que “está fora de sítio e é pouco significante da memória que visa evocar”. “Cria um tapume de betão para a vista do museu e da sé. Faz sombra e ruído à Santa [Joana]. Não é bonita em si. Não alinda o conjunto”, escreveu.

Alberto Souto foi apenas um entre vários aveirenses que manifestaram o seu desagrado em relação ao aspecto final e localização do monumento. O também socialista Fernando Nogueira foi ainda mais duro nos comentários, considerando que “a torre que nasceu em frente à Sé de Aveiro é parola, muito mais que simbólica”. “Impõe-se, apregoando a defunta muralha da cidade que desaconteceu e choca de frente com que o povo considera ser sua memória viva. Por isso, cria um ‘vazio por atafulhamento’ de um sítio repleto de referências colectivas (o museu, a sé, a estátua da Santa Joana). Não bastando, é também um pastiche – uma colagem de uma memória sumida com o betão banal. Abandonada a ideia de a fazerem de pedra de Eirol, trai-se até na pretendida evocação de ancestralidade”, escreveu o vereador da oposição.

Em relação à pedra usada, Ribau Esteves garantiu ao PÚBLICO que também ele e o arquitecto preferiam ter usado pedra de Eirol (localidade aveirense) para edificar aquela torre, mas “todas as diligências feitas junto da direcção-geral competente tornaram o processo hiperdifícil”. “A opção que tomámos foi desistir dessa possibilidade e encontrar uma pedra alternativa: é lioz e não cimento como anda para aí gente a dizer”, argumentou o autarca.

A muralha desconhecida de muitos

A aposta de Álvaro Siza passou por “construir algo que evoque a muralha então existente e de modo particular a torre em que se situava a Porta do Sol, principal acesso à cidade”, é referido na memória descritiva do projecto, com a ressalva de que o que está em causa não é, “nem poderia ser, uma reconstituição rigorosa”. A proposta passou, assim, por evocar, “de uma forma abstracta, a presença da torre da Porta do Sol, com base nas plantas históricas que assinalam o traçado da muralha e com as dimensões consideradas convenientes relativamente ao espaço e volumes actuais”, pode ler-se, ainda, no documento assinado por Álvaro Siza.

A verdade é que “muitas pessoas não sabem que Aveiro tinha uma muralha medieval”, recorda Ribau Esteves, enquadrando a pertinência deste monumento, trazendo para os dias de hoje as memórias da antiga vila medieval. “Vamos, em breve, publicar um livro – que poderá ter também outros suportes – sobre a muralha de Aveiro e esta obra do Siza, onde vamos contar uma série de coisas que a maior parte das pessoas não sabem”, revelou o autarca.

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