Quanto vale a Padaria Portuguesa? Tem 78 lojas, duas fábricas, factura 44 milhões e está à venda
Processo estará a ser conduzido pelo banco de investimento Haitong Bank e já terá atraído propostas. Marca espera abrir mais 42 lojas em Portugal até 2028, a juntar às 78 em funcionamento.
A empresa Padaria Portuguesa está à venda, avançou esta sexta-feira o Jornal de Negócios. A marca familiar, detida por Nuno Carvalho (CEO) e o primo José Diogo Quintela (antigo membro dos Gato Fedorento), terá contratado o chinês Haitong Bank para conduzir o processo.
De acordo com o jornal, o banco de investimento já estará a receber propostas não vinculativas pela empresa, que deverá fechar este ano com uma facturação de 44 milhões de euros.
A mesma fonte refere que o negócio será atractivo para fundos de capital e fundos de private equity.
A marca tem 78 lojas em Portugal, com um plano de expansão para chegar às 120 em território nacional nos próximos três anos e a expectativa de criar 600 postos de trabalho, chegando a um total de 1600.
Criada em 2010, tem também duas fábricas de produção própria: uma em Marvila e outra no Porto, embora grande parte das suas lojas estejam concentradas na região de Lisboa.
O conceito da Padaria Portuguesa, lê-se num antigo site da empresa, surgiu da percepção de Nuno Carvalho de que as tradicionais padarias e pastelarias de bairro estavam, aos poucos, a ser substituídas por grandes distribuidores. Os dois primeiros começaram assim explorar o filão, abrindo a sua versão moderna destes espaços tradicionais – um negócio que evoluiu para um modelo mais próximo do de grandes marcas com distribuição em várias lojas.
Crescimento e polémicas
Ao longo dos anos, o crescimento da marca foi acompanhado por algumas polémicas, desde logo com declarações de Nuno Carvalho sobre as condições salariais dos trabalhadores da Padaria Portuguesa.
Em Janeiro de 2017, a propósito do salário mínimo e da discussão parlamentar da descida da Taxa Social Única (TSU), o sócio-gerente revelou que 25% dos colaboradores da Padaria Portuguesa recebiam, na altura, o salário mínimo “em regime de transição”, defendendo também uma maior “flexibilização da contratação, do despedimento e do horário extra de trabalho”. Criticava, entre outras coisas, a necessidade de pagar horas extras “com volumes de acréscimo que penalizam as organizações”.
Em Outubro do mesmo ano, Nuno Carvalho voltou a ser alvo de críticas devido a declarações numa entrevista ao Dinheiro Vivo, na qual afirmou que “o espírito de equipa vale muito mais do que salário base”.
O CEO referiu também que a empresa fazia um “investimento sério nas pessoas” dando como exemplos um convívio anual num “arraial de Verão”, reuniões mensais informais, a oferta de “um creme e um babygrow” a trabalhadores que tenham filhos ou a escrita de um “postal de aniversário personalizado a cada um dos trabalhadores”.
“Isto é o que nos faz ser uma grande empresa. Atender 40 mil pessoas todos os dias com funcionários insatisfeitos não seria possível”, disse ainda.
Ainda em 2017, a empresa voltou a ser tema de conversa nas redes sociais no dia 26 de Dezembro, devido a fotografias tiradas em frente à loja da marca no Bairro da Graça, em Lisboa, que mostravam vários bolos-reis em cima da tampa de um caixote do lixo. A Padaria Portuguesa demarcou-se rapidamente da prática de desperdício alimentar, salientando que ia “contra os princípios” pelo qual se regia.
Nuno Carvalho voltou a ter destaque no eclodir da pandemia de covid-19, em Março de 2020, quando escreveu uma carta aberta dirigida ao então ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, na qual criticou severamente as medidas anunciadas para ajudar as empresas, descrevendo-as como “um engodo” e “uma mão-cheia de nada”.