As minhas memórias de Mário Soares: amava a vida e, portanto, amava a liberdade
Virou à esquerda na fase final da vida. Discutimos muito sobre isso. Eu não o compreendia. Quando olho hoje para o estado das democracias e para a turbulência do mundo, já não sei se não teria razão.
Nestes tempos turbulentos em que vivemos, dou comigo a pensar tantas vezes: “O que diria o dr. Soares?” O que diria ele, com a sua incomparável intuição, desta guerra terrível em território europeu? Da deriva perigosa da democracia americana? Das derivas perigosas das democracias europeias, minadas por dentro pela extrema-direita? Há só uma resposta que sei, de ciência certa, que me daria: “Não podemos desistir”. Da democracia. De um mundo mais justo. De uma Europa mais unida. Não tinha sequer receio de utilizar a palavra “federal” como o melhor destino da União Europeia, mesmo quando passou de moda, ainda no seu tempo. Desistir foi uma palavra que nunca fez parte da sua vida política, metade passada a combater o fascismo, a outra a construir em Portugal uma democracia europeia que resistisse a todos os ventos da História. É isso que lhe devemos, as duas maiores conquistas que marcaram os últimos 50 anos: a democracia e a Europa.
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