Serviços secretos húngaros espiaram responsáveis da UE em Budapeste e Bruxelas

Membros da agência antifraude que analisavam contratos envolvendo empresa de genro do primeiro-ministro notaram que estavam a ser seguidos.

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O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, em Budapeste Bernadett Szabo / REUTERS
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A agência de informação e espionagem externa da Hungria (IH) vigiou investigadores da agência europeia antifraude (OLAF) que estavam no país para investigar contratos públicos feitos com uma empresa do genro do primeiro-ministro, Viktor Orbán, envolvendo verbas europeias.

Por vezes, os investigadores da OLAF notaram que estavam a ser seguidos, segundo uma investigação do site de jornalismo de investigação Direkt36, da Hungria, e o jornal económico e financeiro De Tijd, da Bélgica, e começaram a andar em círculos, para mostrar que tinham percebido a acção.

Houve ainda exemplos de escutas telefónicas aos investigadores da OLAF. O organismo europeu antifraude não respondeu aos pedidos de comentários dos dois media. O gabinete de Orbán foi contactado pelo Politico e recusou comentar “notícias falsas”.

A investigação dos dois meios de comunicação social debruça-se sobretudo em exemplos entre 2015 e 2017, durante a investigação da OLAF à empresa Elios, que era parcialmente detida por István Tiborcz, genro de Orbán. A investigação da OLAF incidiu sobre concursos para iluminação pública que foram parcialmente pagos por fundos europeus que, segundo o Direkt36, tinham sido desenhados para favorecer a Elios.

Na sequência da investigação, foi recomendado que a Hungria devolvesse 40 milhões de euros de verbas europeias para o projecto, o que o Governo evitou cobrindo o gasto europeu com verbas do orçamento húngaro, diz ainda o site de investigação húngaro.

Os dois media acrescentavam que é prática comum para a agência húngara revistar quartos de hotel de delegações da União Europeia e retirar informação dos seus computadores.

“Os IH puseram quase todas as delegações europeias que visitaram a Hungria sob vigilância”, disse uma fonte que trabalhou para a agência de informação ao Direkt36.

A revelação acontece enquanto a Hungria tem a presidência rotativa da União Europeia, que começou a 1 de Julho e terminará no final de Dezembro.

A Hungria foi um dos primeiros países europeus em que foi revelado o uso de software de espionagem israelita Pegasus – um dos autores da investigação do Direkt36 foi um dos jornalistas espiados, Panyi Szabolcs. Szabolcs acha que foi a sua utilização da app Signal, mais segura, para comunicar que fez com que fosse alvo de uma tecnologia tão avançada que permitia ter acesso a tudo o que está num smartphone e, mais, usar a sua câmara e o microfone para espiar.

O Direkt36 conta com detalhe como a seguir às eleições de 2018 foi ordenada uma investigação aos IH, que tinham acabado de mudar de tutela, como parte de uma luta de poder entre duas alas do Governo. De acordo com várias fontes, a operação poderá ter sido iniciada para que fosse possível saber que informação tinha sido recolhida pelo organismo em relação a actividades das empresas da família de Orbán.

Segundo o jornal De Tijd, desde que os IH ficaram sob alçada de János Lázár aumentaram os recursos dedicados a espiar instituições europeias, com relatos de que há actualmente quase uma divisão inteira com esta incumbência. O método mais usado é a recolha de informação de cidadãos húngaros que trabalham nas instituições, quer seja através de cooperação voluntária ou espiando-os.

“Um Estado-membro da UE devia ser um ambiente amigável”, disse um responsável europeu familiarizado com os detalhes das actividades da espionagem húngara citado pelo Direkt36. “O sistema não foi desenhado para uma situação em que um Estado-membro se torna hostil.”

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