ICNF: projecto recorre à genética para aumentar a produção de resina em Portugal

Esta iniciativa quer também desenvolver métodos mais eficientes para a resinagem de forma a propor alterações ao actual decreto-lei.

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A produção de resina tem diminuído drasticamente em Portugal desde 1974 Tiago Bernardo Lopes
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O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e outras entidades apresentaram, esta quinta-feira, os resultados de um projecto de melhoramento genético do pinheiro-bravo, desenvolvido com o objectivo de maximizar a produção de resina.

Coordenado pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), em colaboração com o ICNF, o Instituto Superior de Agronomia (ISA), o Centro PINUS e a Faculdade de Ciências, o projecto foi desenvolvido na Mata Nacional do Escaroupim, em Salvaterra de Magos, no distrito de Santarém.

Segundo a professora auxiliar do ISA, Paula Soares, o projecto teve como foco principal a conservação e o melhoramento genético do pinheiro-bravo para aumentar a produção de resina. "Foram seleccionadas uma série de árvores pela sua forma e pelo seu crescimento (...) e o nosso objectivo era desenvolver um programa de melhoramento genético que visasse a produção de resina", explicou.

Os resultados obtidos nesta investigação abriram caminho para a implementação de parques de melhoramento genético. "Nós conseguimos provar que é possível fazer um programa de melhoramento genético em que reproduzimos árvores, filhos da mesma mãe. E, se a mãe for boa produtora, os filhos também irão ser", acrescentou a professora.

O próximo passo na bioeconomia

Segundo Paula Soares, a produção de resina natural assume um papel cada vez mais importante porque "enquadra-se perfeitamente dentro dos conceitos da bioeconomia, que é desenvolvimento e atribuição de valor a produtos biológicos e que têm origem na natureza, em oposição às resinas sintéticas que são derivados de petróleo e que são produzidos nas indústrias".

"A resina natural ganha aqui um nicho que é muito importante e muito valorizado em termos europeus e é um conceito em que há muita fonte de financiamento", refere a professora do ISA. Para rentabilizar e maximizar a produção deste bem natural, está a ser desenvolvido um segundo projecto que tem como objectivo "optimizar a produção de resina na floresta portuguesa" e identificar "as espécies mais rentáveis na produção de resina".

Este projecto servirá como base para a implementação de novos programas de melhoramento genético e pretende propor alterações ao decreto-lei que regula a actividade de resinagem, permitindo o uso de técnicas mais eficientes.

"Nós, em Portugal, não podemos utilizar certos métodos de resinagem, porque nós temos uma lei que define o modo como podemos resinar. Queremos, com este projecto, ter conclusões que depois o ICNF possa usar para fazer alterações ao decreto-lei e para, eventualmente, permitir que se utilize tipos de resinagem" mais eficientes.

Uma produção nacional em declínio

A produção de resina destaca-se pela sua ampla aplicabilidade em diferentes sectores industriais e económicos. As resinas podem ser utilizadas na produção de equipamentos médicos e próteses, na produção de medicamentos e cosméticos, bem como na produção de colas industriais, entre outras aplicações.

Contudo, a produção nacional deste bem natural decaiu drasticamente: em 1974, Portugal produzia 149 mil toneladas de resina; actualmente produz apenas seis mil toneladas. Com os novos projectos, Paula Soares espera promover a "reabilitação da resina em Portugal" e sublinha que o sector tem potencial para "criar empregos, fixar populações e impulsionar o desenvolvimento local".

A apresentação, que decorreu no Auditório do Edifício do Cais da Vala, contou ainda com a presença do director regional da Conservação da Natureza e Florestas de Lisboa e Vale do Tejo, Rui Pombo, e Isabel Carrasquinho, do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.