Governo da Geórgia ordena detenção de dirigentes da oposição
Líder da Coligação para a Mudança foi arrastado da sede do partido e agredido pela polícia. Mais de 300 pessoas foram detidas na última semana.
O líder do principal partido da oposição na Geórgia foi detido na capital, Tbilissi, depois de ter sido arrastado pela polícia, e outros dirigentes foram agredidos pelas forças de segurança após a promessa do primeiro-ministro de levar à justiça os organizadores dos protestos pró-União Europeia, pelo que chamou de “acções violentas”.
Nika Gvaramia, 48 anos, dirigente da Coligação para a Mudança, um dos quatro partidos da oposição georgiana, foi arrastado pelos braços e pernas pela polícia para fora da sede do seu partido, numa rua lateral junto ao Parlamento, em Tbilissi.
O partido publicou, na quarta-feira, um vídeo na rede social X que mostra Gvaramia a ser carregado por vários homens, dizendo que o seu líder foi “atirado para um carro, inconsciente, enquanto era agredido fisicamente”.
A polícia deteve também Aleko Elisashvili, líder do partido Geórgia Forte, bem como um dirigente do movimento de protesto juvenil Dafioni e pelo menos seis outros membros de partidos políticos da oposição.
As detenções ocorreram no momento em que milhares de manifestantes pró-UE se reuniam pela sétima noite consecutiva em frente ao Parlamento, em protesto contra a decisão do Governo liderado por Irakli Kobakhidze de suspender as conversações para a adesão do país.
Estima-se que mais de 300 pessoas tenham sido detidas na última semana e acumulam-se as denúncias de agressões e violações dos direitos humanos pelas forças de segurança, que têm usado canhões de água contra os manifestantes.
Os meios de comunicação social locais citaram o Ministério do Interior como tendo dito que sete pessoas tinham sido detidas sob a acusação de “organizar e liderar violência de grupo”, um crime que pode levar a uma pena de prisão até nove anos. O ministério afirmou ter revistado as casas de seis pessoas e apreendido artigos como espingardas de ar comprimido, fogo-de-artifício e cocktails Molotov.
As autoridades georgianas têm acusado repetidamente a oposição de planear uma revolução inspirada nos protestos ucranianos de 2014, que depuseram o Presidente pró-russo, Viktor Ianukovich.
Questionado numa conferência de imprensa sobre as alegações de que as autoridades estavam a reprimir a oposição, Kobakhidze disse: “Eu não lhe chamaria repressão, é mais prevenção.”
O primeiro-ministro afirmou, sem apresentar provas, que as forças da oposição têm estado a fornecer fogo-de-artifício aos manifestantes, que têm atirado contra a polícia durante as manifestações.
“As pessoas foram sistematicamente abastecidas com pirotecnia e outros meios pelas forças políticas relevantes”, disse Kobakhidze.
A decisão do Governo do partido Sonho Georgiano de suspender as negociações com a UE mergulhou o país do Cáucaso do Sul, com 3,7 milhões de habitantes, numa crise política, e as autoridades afirmam terem impedido uma tentativa de revolução.
Os críticos acusam o executivo de virar as costas ao Ocidente e de seguir um rumo cada vez mais autoritário e pró-russo, o que o partido no poder nega.
Salome Zourabichvili, a Presidente pró-UE do país, que se tornou uma voz do movimento de protesto, escreveu no X na quarta-feira: “O meu apelo urgente aos nossos parceiros e àqueles que querem evitar que a crise se aprofunde, é que é tempo de exercer uma forte pressão sobre um partido no poder que está a conduzir o país para o precipício! Não se atrasem... !”
Na terça-feira, o provedor de Justiça da Geórgia, um antigo político da oposição, acusou a polícia de ter maltratado duramente as pessoas detidas durante as manifestações, afirmando que o seu tratamento equivalia a tortura.
Anitta Hipper, porta-voz da UE para os Negócios Estrangeiros, escreveu, também no X: “Instamos as autoridades a deixarem de usar força excessiva e a garantirem a liberdade de reunião. Todos os actos de violência devem ser imediatamente investigados.”
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou na quarta-feira que as acções do Governo georgiano são “vergonhosas” e têm como objectivo tornar o país dependente da Rússia. Esta quinta-feira, Zelensky anunciou que a Ucrânia vai impor sanções ao antigo primeiro-ministro da Geórgia e fundador do Sonho Georgiano, o multimilionário Bidzina Ivanishvili, e a alguns membros do Governo.
“Estas são sanções contra a parte do Governo da Geórgia que está a entregar o país a Putin”, disse o Presidente da Ucrânia.