Amnistia Israel rejeita relatório acusando o Estado hebraico de genocídio
Presidente da organização em Israel demite-se depois de expressar discordância com conclusão do relatório. Membros judeus da organização falam, noutra declaração, em “conclusão predeterminada”.
A Amnistia Israel, o ramo israelita da organização global de defesa de direitos humanos, recusou a conclusão do relatório ontem divulgado de que Israel está a cometer o crime de genocídio na Faixa de Gaza. O presidente da organização em Israel, Daniil Brodsky demitiu-se entretanto na sequência da discordância com a publicação, assim como dois membros da direcção, segundo o diário The Guardian, que não deu mais pormenores.
Afirmando que não esteve envolvida na investigação ou escrita do relatório, a Amnistia Israel declarou, num comunicado citado pelo jornal Times of Israel, que “ainda que a escala das mortes e destruição levada a cabo por Israel em Gaza tenha atingido proporções horríficas e tenha de parar imediatamente”, apenas uma minoria dos membros da Amnistia Israel acha que as acções do país “cumprem a definição de genocídio como está estritamente descrita na Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio”, aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 1948.
A Amnistia Israel crê que as acções do Exército israelita em Gaza “levantam suspeitas de violações graves e generalizadas do direito internacional e crimes contra a humanidade”. Mas “não aceita a afirmação de que esteja provado que está a acontecer um genocídio na Faixa de Gaza e não aceita as conclusões operacionais do relatório”, cita ainda o jornal.
O diário Haaretz cita uma outra declaração de elementos judeus da Amnistia Internacional, tanto em Israel como noutros locais do mundo (acrescentando que alguns estão em posições importantes), que fazem uma crítica mais dura. Acusam a organização de ter querido chegar a uma conclusão predeterminada, já que, “do início, as referências a este relatório eram ‘o relatório de genocídio’, mesmo quando a investigação ainda estava no estádio inicial”.
Isso é, para estes elementos da organização, “uma forte indicação de um viés, e também um factor que poderia ainda causar mais viés: imaginem quão difícil seria um investigador trabalhar meses num relatório chamado ‘relatório do genocídio’ e ter de concluir que há ‘apenas’ crimes contra a humanidade”.
A declaração diz ainda que o relatório “é motivado por um desejo de apoiar uma narrativa popular entre o público-alvo da Amnistia” e diz ainda que há “um ambiente dentro da Amnistia Internacional de minimização da gravidade do massacre de 7 de Outubro”. “É um falhanço – e às vezes até uma recusa – em ver as vítimas israelitas de um modo pessoal e humano”, queixam-se, também segundo o Haaretz.
A Amnistia Israel, pelo seu lado, faz ainda outra afirmação: “Tem havido alegações de que tanto o massacre cometido pelo Hamas a 7 de Outubro como o ataque israelita em Gaza a seguir ao massacre foram genocídio ou tentativa de genocídio. É imperativo e correcto investigar estas alegações e ter a certeza de que o critério exigido para provar intenção de cometer genocídio seja universal e consistente para todas as partes, assim como para qualquer outro caso no mundo onde haja preocupações semelhantes.”
Citada pelo diário The Guardian na notícia sobre o relatório (não em resposta a estas acusações), a investigadora Budour Hassan, do gabinete de Médio Oriente e Norte de África, declarou: “Não começámos necessariamente a pensar que íamos chegar a esta conclusão. Sabíamos que havia um risco de genocídio, como disse o Tribunal Internacional de Justiça” – que impôs medidas preventivas a Israel por considerar que havia risco de genocídio.
Um veredicto quanto ao crime de genocídio deverá levar vários anos (e não houve ainda, até hoje, uma decisão em que se tenha provado intenção genocida de um Estado; o máximo foi a Sérvia ter sido considerada culpada de não ter impedido um genocídio em Srebrenica).
Israel não cumpriu as medidas que o tribunal decretou em Janeiro, incluindo dever levar a cabo acções para aliviar a crise humana na Faixa de Gaza e punir o incitamento directo a genocídio. Hassan concluiu que “quando se junta tudo, todas as provas, não são apenas violações do direito internacional – é algo mais profundo”.
Como a intenção é parte essencial do crime, o relatório da Amnistia dedica todo um capítulo a esta vertente, com declarações de líderes e também de militares no terreno. É a primeira vez que uma grande organização faz uma acusação de genocídio em relação aos crimes de Israel durante a guerra em Gaza.
“A organização deplorável e fanática Amnistia Internacional produziu, uma vez mais, um relatório forjado totalmente baseado em mentiras”, reagiu o Governo de Israel, através de uma declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Notícia actualizada com a demissão do presidente da Amnistia Israel