Temporais de Outono deixaram pouca água nas albufeiras de Portugal

Apesar da chuva forte e persistente que chegou a Portugal com as tempestades Kirk, Berenice e Leslie, as albufeiras públicas nacionais armazenam menos água do que em igual período de 2023.

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A bacia do Douro é a que regista maiores volumes de armazenamento, 9 das suas 16 albufeiras apresentam valores acima dos 90% Paulo Pimenta
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O Outono não está a contribuir como se esperava para reforçar as reservas de água nas albufeiras públicas nacionais. Recorrendo ao Boletim Semanal de Albufeiras (BSA), publicado pelo Sistema Nacional de Informação e Recursos Hídricos (SNIRH), o volume global armazenado nas 81 barragens monitorizadas pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a 30 de Novembro de 2024, era de 9550hm3, que equivale a 72% da capacidade máxima de armazenamento.

Comparando com igual período de 2023, verifica-se um volume acumulado de 9568hm3, mais 18hm3 do que o registado em 2024, apesar de Portugal ter sido percorrido entre o final de Outubro e final de Novembro por fenómenos de Depressão Isolada a Níveis Elevados sob a forma das tempestades Kirk, Berenice e Leslie que trouxeram chuva persistente e inundações em algumas zonas do país.

O BSA publicado nesta terça-feira salienta o aumento do volume armazenado em sete bacias hidrográficas e a diminuição em oito.

A nível nacional, 27 albufeiras apresentam reservas acima dos 80%. Entre os 50% e os 80% estão identificadas 36, e 14 entre os 20% e os 50%. No vermelho (abaixo dos 20%) persistem quatro albufeiras (Campilhas, Monte da Rocha, Arade e Bravura).

No período que decorreu entre final de Outubro e final de Novembro de 2024, as maiores quebras nos volumes armazenados foram registadas nas albufeiras do Lima (menos 100.530hm3) e do Cávado (menos 889.220hm3), enquanto as bacias do Tejo (mais 116.059hm3) e Guadiana (mais 70.349hm3) se destacam com as maiores subidas.

A bacia do Douro é a que regista maiores volumes de armazenamento, nove das suas 16 albufeiras apresentam valores acima dos 90% e nas restantes a cota de nível apresenta-se entre os 65% e os 85%.

As 30 barragens públicas instaladas nos rios Lima, Cávado, Ave, Douro, Vouga, Ribeiras do Oeste, Ribeiras da Costa Alentejana, Mira e Arade perderam volume de armazenamento no período já referido. As 48 barragens instaladas nas bacias do Mondego, Tejo, Sado, Guadiana, Ribeiras do Sotavento e Ribeiras do Barlavento ganharam mais encaixe, com a precipitação trazida pelas tempestades com maior impacto nas regiões do centro e sul de Portugal.

A albufeira de Alqueva, que a 27 de Novembro de 2023 detinha um volume de 2925.000hm3 (70%), chega a 30 de Novembro de 2024 com 3320.330hm3 (80%). Também as barragens algarvias apresentam um ganho, embora residual. As já referidas tempestades deixaram 7665hm3, uma reserva que se torna preciosa no actual contexto de escassez. Comparando os volumes armazenados no final de Novembro de 2023 e 2024 verifica-se uma redução, embora insignificante, nos débitos armazenados.

Melhor sorte teve a vizinha Espanha: quando já se vislumbravam situações de grande carência hídrica, sobretudo na região autónoma da Andaluzia, aconteceram ao longo de 2024 as sucessivas tempestades que vieram reforçar os armazenamentos nas barragens públicas.

Assim, no final de Novembro de 2023 a reserva global de água em território espanhol era de 24.341hm3, 43,4% da sua capacidade total. A 3 de Dezembro de 2024 o volume armazenado subia para os 28.766hm3 (51,3%), um acréscimo de 4425hm3 que supera o volume máximo de encaixe que a barragem de Alqueva possibilita (4150hm3). Em Espanha, 81% do volume de água retido nas albufeiras é utilizado na agricultura e pecuária, 15% no consumo humano, 4% é utilizado pela indústria e 0,3% destinado a uso recreativo.

E até as albufeiras instaladas na rede hidrográfica dos rios Tinto, Odiel e Piedras, na região de Huelva que acaba de ver oficializado o transvase de água a partir do Pomarão, no rio Guadiana, chegou ao dia 30 de Novembro com uma reserva de água que ascende aos 189hm3 (82,5%), garantindo assim as necessidades da agricultura, turismo, indústria mineira e consumo humano.