Degradação dos solos afecta saúde mental e bem-estar geral, alerta movimento

No decorrer da COP da desertificação, o movimento Save Soil alerta para o impacto da degradação dos solos na perda de qualidade nutricional dos alimentos e na saúde mental das populações.

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Os solos saudáveis são essenciais para a saúde mental e a falta de micronutrientes essenciais como B1, B6 e B9 (devido à má saúde do solo) estão associados à depressão, refere o documento Manuel Roberto
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A degradação do solo está a "afectar silenciosamente" a qualidade nutricional dos alimentos, tendo um impacto negativo na saúde mental e no bem-estar geral, segundo uma análise do movimento "Save Soil" divulgada nesta quinta-feira.

"A saúde dos nossos solos está intrinsecamente ligada à nossa saúde física e mental. Ignorar a degradação do solo não é apenas uma questão ambiental; é uma ameaça directa à saúde pública global", afirma a principal autora da análise, Praveena Sridhar, directora técnica da "Save Soil", um movimento global de defesa do solo e de apoio à agricultura regenerativa.

A análise é divulgada no Dia Mundial do Solo, que se assinala esta quinta-feira, numa altura em que decorre em Riade, na Arábia Saudita, a 16.ª conferência da ONU de combate à desertificação, a COP16. "A matéria orgânica do solo é fundamental para solos saudáveis e vivos, e a sua recuperação deve ser um ponto-chave da agenda da COP16", defendeu Praveena Sridhar em comunicado.

No âmbito da COP16, uma coligação de 60 organizações não-governamentais vai entregar à ONU um documento instando os líderes mundiais a restaurar a saúde do solo, como uma "prioridade ecológica e de saúde pública". O documento alerta para o facto de 40% do solo mundial estar degradado e de 90% da camada superficial do planeta poder vir a degradar-se até 2050, "pondo em causa a produção e a qualidade dos alimentos para uma população mundial que deverá atingir os 10 mil milhões de habitantes".

No comunicado a "Save Soil" deixa também um alerta: "Estima-se que 58% das terras portuguesas estejam em risco de desertificação". A análise, que coloca os agricultores e a agricultura regenerativa "no centro da solução", tem como título "Solos saudáveis, seres humanos saudáveis".

Solos mais saudáveis, mais saúde mental

O documento explica que um solo rico em matéria orgânica conduz a um maior rendimento das culturas e a uma melhor qualidade nutricional dos alimentos, alertando que o declínio contínuo da saúde do solo está a contribuir directamente para a perda nutricional dos alimentos. O teor de proteínas no trigo, por exemplo, diminuiu 23% de 1955 a 2016.

Além de os alimentos ricos em nutrientes apoiarem o microbioma intestinal, afectando a saúde física e mental, a análise nota que o contacto com o solo pode melhorar a saúde intestinal, e que a degradação do solo está a acelerar a subnutrição a nível mundial, em especial a fome oculta, quando a qualidade dos alimentos não satisfaz as necessidades nutricionais. A análise sublinha que a fome oculta afecta mais de 50% das crianças com menos de cinco anos e 66% das mulheres em todo o mundo.

O documento acrescenta, ainda, que solos saudáveis são essenciais para a saúde mental, que a falta de micronutrientes essenciais como B1, B6 e B9 (devido à má saúde do solo) estão associados à depressão, para além de os solos degradados estarem relacionados com deficiências de magnésio, ferro e zinco, ligados ao bom funcionamento neurológico.