Dias depois de as negociações do tratado global sobre plásticos da ONU terem falhado em produzir um acordo, uma das empresas que mais contribuem para a poluição por plástico abandonou os seus objectivos de redução e reutilização dos resíduos.
A Coca-Cola Company anunciou na segunda-feira que reviu os seus objectivos climáticos para se concentrar mais na utilização de materiais reciclados, em vez de reduzir o plástico virgem e de utilização única. Até 2035, a empresa pretende aumentar a utilização de plástico reciclado nas embalagens para 30% a 35% e “ajudar a garantir a recolha de 70% a 75% do número equivalente de garrafas e latas introduzidas no mercado anualmente”.
A empresa enfrenta “desafios que são complexos” à medida que desenvolve os seus objectivos voluntários de sustentabilidade, afirmou Bea Perez, vice-presidente executiva, num anúncio. Num email enviado ao jornal The Washington Post, um porta-voz da Coca-Cola Company explicou que “a empresa está a concentrar os seus esforços na utilização de mais material reciclado nas embalagens primárias e no apoio às taxas de recolha”.
De acordo com um estudo publicado em Abril, a Coca-Cola foi responsável por 11% da poluição por plásticos de marca no mundo. “Eles tinham uma solução real e abandonaram-na”, comentou Matt Littlejohn, vice-presidente da Oceana, uma organização internacional de defesa dos direitos humanos. “São más notícias para o ambiente e para os oceanos.”
Abaixo dos objectivos propostos
A empresa já se tinha comprometido em reduzir o “uso de plástico virgem derivado de fontes não renováveis em três milhões de toneladas métricas cumulativas de 2020 a 2025”, bem como a vender 25% das suas bebidas em embalagens reutilizáveis ou retornáveis até 2030.
A Coca-Cola não reduziu o uso de plástico virgem entre 2020 e 2023, referiu o porta-voz, devido ao “crescimento do negócio”, e vendeu 14% do seu produto em embalagens reutilizáveis no ano passado, de acordo com o relatório de sustentabilidade apresentado pela empresa sobre o ano de 2023.
A Coca-Cola Company fez parte da coligação empresarial presente na conferência da ONU sobre o tratado global dos plásticos, realizada na semana passada na Coreia do Sul, onde cerca de 200 delegações de todo o mundo se reuniram com o objectivo de ultimar um tratado para combater a poluição por plásticos. A conferência terminou sem consenso, embora os delegados esperem retomar as conversações no próximo ano.
“O momento em que este anúncio é feito é interessante, pois vem na sequência do tratado”, afirmou Judith Enck, antiga administradora regional da Agência de Protecção Ambiental e actual presidente da Beyond Plastics. “É perturbador dizer que continua a ser um desafio, quando eles se opõem à solução sempre que têm oportunidade”, acrescentou, referindo-se à oposição da empresa às leis estaduais sobre garrafas, que exigem depósitos reembolsáveis em certos recipientes de bebidas para garantir a sua reciclagem ou reutilização.
Os activistas criticaram a empresa por ter abandonado os seus objectivos de reduzir os plásticos de utilização única, que são considerados uma das principais causas da poluição por plásticos. A maioria dos plásticos de utilização única não é reciclada e, a nível mundial, apenas 9% dos plásticos são reciclados com êxito.
“É incrivelmente decepcionante que se tenham afastado de objectivos que poderiam de facto ajudá-los a reduzir a utilização global de plástico”, afirmou Matt Littlejohn. “Agora estão a inclinar-se para a utilização de embalagens recicladas, mas essas garrafas continuam a ser deitadas fora”, conclui o vice-presidente da Oceana.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post