Visita de Biden “assinala uma parceria muito mais profunda entre Washington e Luanda”

Alex Vines, director do Programa África da Chatham House, diz que “a competição com a China será um motor da política de Trump em África – isto deverá assegurar a continuidade da atenção a Angola”.

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João Lourenço despede-se de Joe Biden no aeroporto da Catumbela Elizabeth Frantz / REUTERS
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Para Alex Vines, director do Programa África do think tank britânico Chatham House a primeira visita de um Presidente norte-americano a Angola marca uma grande mudança para dois países que há pouco mais de 30 anos, aquando dos Acordos de Bicesse, estavam em campos diferentes da Guerra Fria: o Governo do MPLA estava “estreitamente alinhado” e a UNITA, o seu inimigo da guerra civil, “era o segundo maior beneficiário da ajuda secreta dos EUA”.

Esta é uma visita histórica porque Biden é o primeiro Presidente dos Estados Unidos a visitar Angola, mas acha que será uma visita histórica por marcar o início de uma nova relação entre os dois países?
É certamente uma visita histórica, tendo em conta que até aos Acordos de Bicesse, em Maio de 1991, o Governo do MPLA estava estreitamente alinhado com a União Soviética, prestes a entrar em colapso, e era inimigo dos EUA, e a UNITA era o segundo maior beneficiário da ajuda secreta dos EUA (depois dos mujahedine afegãos). Trinta anos depois, a escolha do Presidente Biden de fazer de Angola o destaque da sua única viagem a África durante o seu mandato assinala uma parceria muito mais profunda entre Washington e Luanda.

Qual é a importância de Angola para os Estados Unidos? É apenas económica ou existem outras áreas, como a da segurança?
A modernização do Corredor do Lobito em Angola é uma iniciativa emblemática da Administração Biden e constitui uma importante iniciativa da cadeia de abastecimento para exportar cobre e cobalto da República Democrática do Congo, de forma mais económica e rápida para o Atlântico. A produção de combustíveis fósseis em Angola continua a ser importante para as multinacionais petrolíferas dos EUA – como a Exxon e a Chevron –, mas o principal factor é a oposição à China, a que se soma o incentivo de Angola se tornar mais genuinamente não-alinhada e menos ideológica nos fóruns internacionais – como na Assembleia Geral da ONU.

E qual é a importância dos Estados Unidos para Angola neste momento?
Permite a Angola diversificar as suas parcerias internacionais para além da China e, em menor escala, da Rússia. O aprofundamento das relações com os EUA, mas também com a França e os Emirados Árabes Unidos, é um sinal de que Luanda está a abraçar a multipolaridade, aprendeu com a Guerra Fria e depois do fim da guerra civil em 2002, que a União Soviética e mais tarde a China se tornaram demasiado predominantes.

Acha que a Administração Trump estará interessada em cultivar as relações com Angola?
A competição com a China será um motor da política de Trump em África – isto deverá assegurar a continuidade da atenção dos EUA a Angola e ao investimento no Lobito.

A nova Administração americana verá África como um dos principais palcos da sua luta global contra a China e a Rússia?
Será um teatro de competição e a África Central – especialmente a República Democrática do Congo – poderá tornar-se um foco principal, dada a importância dos seus minerais estratégicos e críticos. Estes minerais poderão fazer da RDC e dos seus vizinhos os novos “Estados do Golfo” do século XXI, à medida que o ritmo da transição energética se acelera – e a procura destes minerais aumenta.

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