Do “monstro lixo” à cozinha, viagens e florestas: eles fizeram algo pelo planeta em Portugal

Na 3ª edição do Movimento Faz Pelo Planeta, do Electrão, os projectos “Nativawaky, Florestas para todos”, “Monstro Lixo”, “Kitchen Dates” e “Viagem pelo Clima” foram os grandes vencedores.

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"Monstro Lixo" foi um dos projectos vencedores da 3ª edição do Movimento Faz pelo Planeta Escola Profissional de Vila do Conde
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O objectivo é simples: inspirar a sociedade portuguesa a ser parte da mudança na defesa do planeta. Na terceira edição do "Movimento Faz Pelo Planeta", organizada pelo Electrão, foram destacadas quatro iniciativas "big changers" (que podem ser impulsionadoras da mudança, em tradução livre) que promovem práticas sustentáveis e procuram deixar um legado positivo para as gerações futuras.

O vencedor na categoria Associação/Organização Não Governamental (ONG) anunciado esta quarta-feira foi o projecto "Monstro Lixo". Nasceu em 2022 na Escola Profissional de Vila do Conde, no distrito do Porto, com o objectivo de sensibilizar a comunidade escolar para a política dos três R: reduzir, reutilizar e reciclar. Criam-se monstros gigantes de lixo, jogos didácticos, numa união entre a educação, a arte e a sustentabilidade.

Todos os anos, a escola explora um novo tema, dando vida a novos monstros e actividades para todos os estudantes. Esta iniciativa é dinamizada pela Associação Comercial e Industrial de Vila do Conde, juntamente com os alunos da Escola Profissional. “A cada ano um tema diferente é abordado e novos monstros e actividades são criados. O projecto aborda um tema complexo e muitas vezes visto como negativo, como o lixo, em algo divertido e inspirador”, descreve Amauri Alves, o dinamizador deste projecto, em nota de imprensa.

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Monstro Lixo surgiu em 2022 com o objectivo de alertar a comunidade escolar para a importância de reduzir, reutilizar e reciclar o lixo Escola Profissional de Vila do Conde

Esta ideia foi replicada noutras escolas públicas na cidade de Santos, no Brasil, contribuindo para a disseminação de uma mensagem de sustentabilidade e preservação do meio ambiente. A iniciativa vai receber 5000 euros para continuar a aposta em práticas amigas do ambiente em sintonia com a comunidade escolar, numa ótica de promoção da literacia ambiental.

Está na hora de reflorestar Portugal

A nova "Big Changer" do concurso foi a iniciativa "Nativawaky - Florestas para Todos", que promove a plantação de miniflorestas com espécies portuguesas nativas. "Enriquece o teu recanto com uma minifloresta, usando o revolucionário Método Miyawaki", descreve o projecto na sua página oficial.

O que é o método Miyawaki? Na década de 1970, o botânico e ecologista japonês Akira Miyawaki desenvolveu um método de plantação que combina os conceitos de vegetação natural potencial, ou seja, plantações que deveriam existir naquele local, mas que não existem face à intervenção humana, e a maneira como as espécies interagem entre si e formam um ecossistema florestal coeso e dinâmico.

Basta um pequeno espaço de três metros quadrados para criar uma minifloresta nativa. Elas crescem até dez vezes mais rápido, para além de serem "30 vezes mais densas e com cem vezes mais biodiversidade", como se lê na nota de imprensa. Livres de químicos e com uma manutenção pouco regular (apenas sendo necessária após os primeiros três anos), este método pode ajudar a combater a seca, através da captação e absorção da água, para além de ser um método que não requer grandes quantidades de água uma vez que são pequenas florestas auto-suficientes.

Este método tem apresentado taxas de sucesso muito elevadas a nível mundial, rondando os 97%. A Nativawaky já contabiliza cerca de 3780 plantas autóctones plantadas, sete miniflorestas de espécies nativas portuguesas e cerca de 1260 metros quadrados de área total em regeneração.

Este projecto procura não só combater problemas que têm vindo a afectar severamente Portugal, como a seca e a consequente escassez de água, como incentivar a população a aderir a um projecto sustentável com diversos benefícios para o ser humano. A iniciativa vai receber um prémio no valor de 2500 euros.

Kitchen Dates: mais literacia, menos desperdício alimentar

Pode aprender-se imenso na cozinha. Kitchen Dates é a startup vencedora desta edição pelos seus esforços na luta contra o desperdício alimentar. "Ajudamos pessoas e organizações a adoptar práticas mais sustentáveis e reduzir o seu impacto no planeta", descrevem na sua página oficial. Fundado por Maria Antunes e Rui Catalão, este projecto procura alertar para a necessidade de agir contra a crise climática no sentido de inspirar a população a assumir uma posição mais activa e de mudança.

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Co-fundadores do projecto Kitchen Dates, Maria Antunes e Rui Catalão Kitchen Dates

Ao PÚBLICO, Maria Antunes comenta que ficou "extremamente emocionada" e que "foi das primeiras vezes que o nosso trabalho foi realmente reconhecido". "Sentimos que as pessoas apreciam e reconhecem que o trabalho é importante, mas sentíamos que ainda não tínhamos este reconhecimento. Fiquei muito emocionada e agradecida", comenta a co-fundadora do projecto. Quanto aos próximos passos no projecto, Maria Antunes revela gostar de desenvolver "uma solução tecnológica para ajudar as pessoas no seu dia-a-dia a evitar o desperdício alimentar", para além de continuar a trabalhar na segunda temporada do podcast "Próprio para Consumo" em parceria com o jornal PÚBLICO.

Iniciativas como o Kitchen Date procuram sensibilizar a sociedade a aderir à mudança pelo futuro do planeta, através de uma alimentação com base vegetal e sem desperdício. Para além das campanhas de sensibilização, que já envolveram mais de 3500 participantes, este projecto também promove campanhas de solidariedade, aproveitando vegetais que não seriam comercializados para a confecção de sopa, que depois, em parceira com a Junta de Freguesia de Carnide, distribuíram por famílias com menores rendimentos. Uma outra campanha passa pela análise dos hábitos de consumo das comunidades escolares do ponto de vista da sustentabilidade financeira e ambiental.

A startup vai receber um prémio no valor de 7500 euros para continuar a sua aposta na literacia alimentar e no combate ao desperdício alimentar que corresponde, a nível mundial, a cerca de 6% das emissões de gases com efeitos de estufa.

Viagem pelo Clima: "cada um de nós pode fazer a diferença"

Na categoria "empresas", a Get2C foi a premiada pelo Movimento Faz pelo Planeta do Electrão. O projecto "Viagem pelo Clima" tem como objectivo informar e inspirar a população em matéria de neutralidade carbónica com vista para uma vida mais sustentável.

Criar um impacto nas comunidades e mobilizar a sociedade portuguesa para a transição climática tem de ser feito de uma forma apelativa e desafiante, algo que a Viagem pelo Clima procura fazer. Ao longo da viagem, as equipas que participam viajam por Portugal da forma mais sustentável, tentando criar o maior impacto possível nas comunidades por onde passam. Numa app, vão anotando a alimentação, os como se deslocam, os percursos, os seus consumos, entre outros. Pelo caminho encontram desafios co-criados com os municípios que são, na realidade, campanhas de sensibilização.

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Jovens que participaram na Viagem pelo Clima Get2C

"Não é só para jovens, as candidaturas estão abertas para todas as pessoas com mais de 18 anos, sem limite de idades porque isto é para a comunidade", explica Maria João Ramos da Get2C.

A representante comenta a grande felicidade na premiação deste projecto. "Muito felizes, muito orgulhosos porque achamos que este projecto faz a diferença porque envolve todos, não deixa ninguém para trás. Temos parceiros que são empresas, municípios, ONGs, e depois envolvemos as pessoas. Inspiramos as pessoas porque cada um de nós pode fazer a diferença e isso é o que traz mais gente para esta tão necessária alteração de comportamentos", comenta.

Uma outra acção, com o mesmo nome do projecto, consistiu na competição entre várias equipas com o objectivo de percorrer Portugal da forma mais sustentável possível. A equipa vencedora teve a oportunidade de viajar até ao Azerbaijão para participar na COP29.

"Movimento Faz pelo Planeta by Electrão"

Em nota de imprensa, o director-executivo do Electrão, Pedro Nazareth, destaca uma 3ª edição que voltou a distinguir "o dinamismo e a criatividade", para além do esforço em identificar "projectos valiosos que ajudam a proteger a nossa casa comum e forma original".

Esta distinção começou em 2021 e distinguiu iniciativas individuais que fazem a diferença. Lídia Nascimento, tradutora de inglês-alemão, foi a vencedora da primeira edição pelo seu esforço de mais de 20 anos na recolha intensiva de lixo das praias portuguesas. Foram também distinguidos, com menções honrosas, Carlos Dobreira e Miguel Lacerda.

Na edição passada, destacam-se o "Oiá Plast", de Isabel Bourbon, um projecto que repensa o plástico e o transforma em novos produtos; "Vintage for a Cause", de Helena Antónia, uma iniciativa que une a economia circular ao têxtil e o projecto "Rotaeco", liderado por Cláudia Severino, que sensibiliza a comunidade jovem sobre sustentabilidade.

Texto editado por Andrea Cunha Freitas