Detritos e esgotos das cheias de Valência contaminam Parque Natural de Albufera, em Espanha

Cheias de Valência poluíram a lagoa de Albufera, exigindo uma operação de restauro ecológico da zona húmida estimada em 9,5 milhões de euros. Produtores de arroz e pescadores enfrentam prejuízos.

azul,valencia,inundacoes,poluicao,conservacao-natureza,
Fotogaleria
Carros foram arrastados para o Parque Natural de Albufera durante as fortes inundações de Outubro passado em Valência, Espanha Eva Manez / REUTERS
azul,valencia,inundacoes,poluicao,conservacao-natureza,
Fotogaleria
Embalagens de medicamentos que chegaram ao Parque Natural de Albufera a partir de um armazém de farmácia, depois de terem sido arrastadas pelas fortes inundações de 29 de Outubro Eva Manez / REUTERS
azul,valencia,inundacoes,poluicao,conservacao-natureza,
Fotogaleria
Dois voluntários recolhem lixo e plásticos de um canal no porto de Catarroja, no lago Albufera, cheio de resíduos e lixo que foram arrastados para o parque natural após as fortes cheias em Valência, Espanha Eva Manez / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
02:50

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Parque Natural de Albufera, uma das reservas de zonas húmidas costeiras mais biodiversas da Europa, está poluída com toneladas de resíduos plásticos, carros destruídos e produtos farmacêuticos arrastados pelas pelas cheias que assolaram a região de Valência, no sudeste de Espanha, no final de Outubro.

A lagoa de Albufera está agora inundada de frigoríficos, latas de gasolina, bolas de futebol e outros destroços. Este reservatório natural de água doce alberga pelo menos 372 espécies de aves e peixes ameaçados. É o caso, por exemplo, da carpa-dentada Valencia hispanica, uma espécie endémica classificada como vulnerável na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

“É dramático ver em primeira mão como uma zona de tão grande valor paisagístico, cultural e económico se transformou numa lixeira tóxica”, declarou Eva Saldana, directora executiva da Greenpeace Espanha.

Pablo Vera, um conservacionista que trabalha no parque há duas décadas, diz que o ecossistema pode recuperar “desde que haja recursos e um esforço económico para remover os resíduos”. A Câmara Municipal de Valência afirma que a recuperação custará pelo menos 9,58 milhões de euros.

Segundo o relatório, as inundações sem precedentes elevaram a lagoa em um metro. Os 120 milhões de litros que chegaram à lagoa são equivalentes a mais de 50% da água que normalmente entra no sistema lacustre num ano.

Carles Sanchis, um investigador que dirige o conselho directivo do parque e ajuda a coordenar os voluntários que recolhem os resíduos, observou que havia agora concentrações elevadas de resíduos farmacológicos. “A análise do seu impacto no solo e na vida selvagem terá de ser feita mais tarde e dependerá do trabalho que fizermos agora”, disse Sanchis.

O pescador Pepe Caballero ainda não pôde voltar a trabalhar na lagoa porque as equipas de salvamento ainda estavam à procura de corpos. “A Albufera não se pode tornar noutra lixeira. As autoridades precisam de fazer o seu trabalho”, afirmou o pescador.

Arrozais contaminados

Dois terços do Parque Natural de Albufera, uma reserva que se estende ao longo de 21.000 hectares, são constituídos por arrozais que fornecem a base da famosa paella valenciana e 17% de todo o arroz de Espanha. Actualmente, algumas zonas estão contaminadas por águas residuais praticamente não diluídas, provenientes de estações de tratamento danificadas e de esgotos danificados.

As inundações deixaram campos de arroz totalmente submersos, com apenas alguns edifícios agrícolas e árvores visíveis acima da água, segundo imagens da Reuters recolhidas há cerca de um mês.

O produtor de arroz Vicent Moncoli viu os seus armazéns inundados até uma altura de dois metros e a maioria das suas lojas destruídas. Mas a ajuda não remunerada que recrutou dá-lhe esperança de que a colheita da próxima época vá para a frente. “Se eu fosse pessimista, estaria sentado numa cadeira”, afirma.