Manifestação de bombeiros foi ilegal, diz PSP. Segue-se queixa ao MP

Foram rebentados petardos e deflagradas tochas junto à sede do Governo. Polícia diz que vai comunicar situação ao Ministério Público e critica uso de artefactos pirotécnicos.

destaque,abre-conteudo,incendios,bombeiros,sociedade,lisboa,
Fotogaleria
Bombeiros reivindicam melhoria das carreiras e aumento de subsídio de risco MIGUEL A. LOPES / LUSA
destaque,abre-conteudo,incendios,bombeiros,sociedade,lisboa,
Fotogaleria
Bombeiros manifestaram-se em Lisboa Daniel Rocha/PUBLICO
destaque,abre-conteudo,incendios,bombeiros,sociedade,lisboa,
Fotogaleria
Cartazes e tarjas criticam posição de Governo durante as negociações Daniel Rocha/PUBLICO
destaque,abre-conteudo,incendios,bombeiros,sociedade,lisboa,
Fotogaleria
Bombeiros sapadores manifestam-se durante a marcha entre a avenida de Roma e o Campus XXI MIGUEL A. LOPES / LUSA
destaque,abre-conteudo,incendios,bombeiros,sociedade,lisboa,
Fotogaleria
Tochas e petardos marcaram manifestação MIGUEL A. LOPES / LUSA
destaque,abre-conteudo,incendios,bombeiros,sociedade,lisboa,
Fotogaleria
Bombeiros tentaram aproximar-se de porta do edifício MIGUEL A. LOPES / LUSA
Fotogaleria
Pote de fumo no percurso da manifestação MIGUEL A. LOPES / LUSA
destaque,abre-conteudo,incendios,bombeiros,sociedade,lisboa,
Fotogaleria
Polícia de intervenção impediu acesso de manifestantes ao edifício Daniel Rocha/PUBLICO?
destaque,abre-conteudo,incendios,bombeiros,sociedade,lisboa,
Fotogaleria
Bombeiros gritaram palavras de ordem durante a manhã Daniel Rocha/PUBLICO?
Ouça este artigo
00:00
05:15

A Polícia de Segurança Pública (PSP) não foi informada pelos bombeiros sapadores de que estava programada uma concentração em Lisboa, de acordo com um comunicado divulgado ao final da tarde desta terça-feira.

Esta força policial adianta que teve apenas conhecimento da intenção dos bombeiros através das redes sociais, tendo adaptado um policiamento dinâmico e efectuado cortes de trânsito consoante a movimentação destas centenas de homens e mulheres. A PSP critica ainda o uso de artefactos pirotécnicos, dizendo que colocaram em causa a integridade de agentes, jornalistas e demais cidadãos surpreendidos na via pública. Por tudo isto, será feita uma participação junto do Ministério Público.

Centenas de bombeiros sapadores de todo o país voltaram a reunir-se em Lisboa esta terça-feira, em protesto pela incorporação do subsídio de risco e a valorização das carreiras. Foram rebentados vários petardos junto à sede de Governo e deflagradas tochas pelos profissionais, numa marcha que envolveu a quebra de um cordão policial junto ao edifício Campus XXI. Depois do anúncio de que as negociações não seriam retomadas por questões de segurança, os ânimos voltaram a ficar exaltados, com novo rebentamento de petardos e gritos de ordem.

O que reivindicam estes homens e mulheres? No centro do debate entre sindicatos e Governo está a revisão do estatuto profissional destes bombeiros. Além da incorporação do subsídio de risco, os sindicatos pedem também que a profissão seja considerada de desgaste rápido, um novo sistema de avaliação específico para os sapadores, entre outras medidas que têm como objectivo a valorização das carreiras. A extremar os protestos está uma alegada inacção que se prolonga há mais de duas décadas.

"Após 22 anos sem alterações ou valorização da carreira, a Associação Nacional de Bombeiros Profissionais e o Sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais e os Bombeiros Profissionais (ANBP/SNBP) têm legitimidade para enveredar por outras formas luta mais extremadas", podia ler-se em Maio num texto do jornal "Alto Risco", publicação das associações de bombeiros para os profissionais do sector.

Ânimos exaltados

"Eles continuam a gozar connosco e a gozar com vocês que estão lá dentro. Estivemos calados 22 anos. Fazemos um bocadinho de barulho e cai o Carmo e a Trindade? Não gozem connosco". Com a cara tapada, um dos bombeiros presentes na manifestação revoltava-se contra o anúncio de que as negociações não chegaram a bom porto.

Durante a manhã, viveram-se momentos de tensão entre polícia e bombeiros, depois de os manifestantes romperem o cordão de segurança junto ao antigo edifício da Caixa Geral de Depósitos (CGD), o agora Campus XXI, local onde decorria a reunião entre sindicatos e Governo.

Os bombeiros tentaram aproximar-se de uma das portas do edifício, com o reforço da polícia de intervenção a acalmar os ânimos. Por questões de segurança, esta negociação foi interrompida. Os bombeiros refrearam os protestos, mas a reunião não teria reinício.

Reunidos junto à sede do Governo, os bombeiros vão gritando em conjunto: "Sapadores". Continuam a ser lançados foguetes e petardos, além de se tocarem buzinas. Há um grande grupo que se concentra à entrada do edifício, responsável pelos sons de protesto: já estiveram sentados, unindo os braços em corrente, para recusarem a desmobilização. Mas outros núcleos de bombeiros em pé ou sentados nas proximidades vão conversando e discutindo as suas condições profissionais.

Miguel Ribeiro, dos bombeiros sapadores de Coimbra, afirma que o objectivo é uma revisão da carreira. "Fomos ficando esquecidos. Houve revisão de várias carreiras e a nossa não tem sido contemplada", lamenta. Esta revisão tem, aliás, sido "adiada por sucessivos governos".

"A revisão da nossa carreira não é feita há cerca de 22 anos", afirma o bombeiro de Coimbra. Mesmo face à inflação, não têm existido quaisquer aumentos salariais para estes profissionais, que revelam continuar a receber o salário mínimo nacional e não receber subsídio de risco, que já foi atribuído a outras forças.

O protesto desta terça-feira acontece na sequência de outra iniciativa decorrida no passado dia 25 de Novembro. Os bombeiros em protesto nesta manhã afirmam que precisam de mais e irão continuar a lutar.

Até agora, a resposta do Governo "não está nem perto daquilo que queríamos ou que achamos justo", defendem os bombeiros. Mas, recordam, as negociações continuam, e os esforços deste grupo profissional para ver cumpridas as suas reivindicações também.

Na rua, nenhuma das pessoas que passa fica indiferente. "Tem havido muitas greves, protestos, de toda a gente. E não é culpa destes profissionais, é mesmo porque o Governo não está a dar resposta", afirma Andreia Soares, que passa pela rua a caminho do trabalho.

"Em casa, só ouvia os foguetes. Acho que é uma luta justificada, porque estes profissionais ficam esquecidos, mas são fundamentais na nossa sociedade", defende Marco Caldeira.

Outros são mais cuidadosos: é o caso de Paola, estudante espanhola no programa ERASMUS. Residindo também nas proximidades, vai perguntando o que se passa. "É melhor não ficar muito tempo por aqui - não gosto de barulhos altos", lamenta, continuando o caminho.

Notícia actualizada às 16h56: acrescentado comunicado da PSP

Sugerir correcção
Ler 83 comentários