O sal marinho é um dos produtos estrela de Castro Marim, e esse legado é celebrado esta quadra com um presépio composto por mais de três toneladas de sal e cerca de 700 figuras, inaugurado este domingo na Casa do Sal, situada na vila algarvia.
Além de reproduzir as cenas religiosas características do Natal com recurso a este produto tradicional milenar local, o Presépio de Sal de Castro Marim dá destaque a outras artes e ofícios característicos do território serrano que molda o concelho, disse a vice-presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Filomena Sintra.
"Acima de tudo, [queremos] afirmar o bom nome de Castro Marim associado àquilo que é mais autêntico, genuíno e diferenciador. Estamos na quadra natalícia, devemos enaltecer aquilo que é o valor do Natal e a comemoração do nascimento de Jesus Cristo e o que é que isso significa na nossa cultura", sublinhou a autarca.
A iniciativa pretende ainda "valorizar o sal de Castro Marim", considerado o "ouro branco", assim como o "artesanato mais autêntico" da região, nomeadamente "a empreita, a palma, a cestaria", de modo a contribuir para "promover o crescimento de novos artesãos", que "reinventam as formas e estudam novos objectos com a mesma matéria-prima, aprendendo com os mais velhos", como é o caso de pessoas formadas em design que reinventaram uns candeeiros de cestaria.
Filomena Sintra deu ainda o exemplo de um presépio em cana instalado à entrada da Casa do Sal, com peças criadas por cesteiras de Odeleite e de Alta Mora, ou da empreita que contribuiu com o seu trabalho para as três áreas do presépio feito com sal, instaladas na sala principal do espaço cultural castro-marinense.
Pretende-se valorizar a cultura e as raízes locais e diferenciar o presépio de Castro Marim de outros que podem ser vistos pelo país, criando uma composição única. "O sal marca a história milenar de Castro Marim, os diferentes séculos, os diferentes momentos históricos, e é aquilo que hoje também nos consegue diferenciar nos mercados internacionais", frisou a presidente da câmara, lembrando que actividade chegou a estar "completamente abandonada" e hoje é feita uma extracção tradicional que chega a mercados em todo o mundo.
Ao longo do período de exibição, que se prolonga até 6 de Fevereiro, o espaço onde está o presépio de sal vai também contar com os "próprios artesãos a trabalhar as peças para que as pessoas percebam como é que se transformam".
"Temos aqui uma responsabilidade maior, que é dar valor a este trabalho. Uma linha de mão feita em empreita, que demora um dia e meio [a ser feita], tem que ser devidamente remunerada. E nós temos a nossa missão de fazer com que as pessoas valorizem esse produto", argumentou.
Maria do Carmo Pires é uma das pessoas que, com o marido Ernesto, participaram na montagem do presépio e explicou à agência Lusa que se trata de um trabalho para o qual é necessário "ter gosto", por ser muito moroso, e que é fruto de um labor de coleccionismo a juntar peças e figuras durante mais de duas décadas.
"Todos os anos dizemos que este é o último, mas depois, quando chega a altura, voltamos a fazer", afirmou Maria do Carmo Pires, garantindo que não vai comprar mais peças, mas reconhecendo que todo o esforço é depois recompensado quando os visitantes ficam satisfeitos com o que vêem.