Lusa corta acesso ao DN após “meses de dívidas”. Global Media diz que é boicote

Global Media culpou agência Lusa de boicote por ter cortado serviço noticioso ao Diário de Notícias. Presidente da Lusa fala que foi “decisão de gestão” em resposta a vários meses de endividamento.

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Actualmente, 95,86% do capital da Lusa é detido pelo Estado Rui Gaudêncio
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Esta terça-feira, em comunicado, a Global Media informou que, "na última sexta-feira, pelas 17h30 [hora de Lisboa], o acesso do Diário de Notícias (DN) aos serviços informativos da agência Lusa foi unilateralmente bloqueado pela administração da mesma", considerando esta decisão um "ataque à informação livre e ao jornalismo produzido pela equipa editorial do DN".

O presidente do conselho de administração da Lusa, Joaquim Carreira, admitiu que esta foi uma decisão de gestão em resposta a vários meses de dívida e em que a Global Media não respondeu devidamente aos contactos feitos pela Lusa no sentido de encontrar uma solução.

"Não existe boicote, foi uma decisão de gestão dado o incumprimento contratual e a ausência de resposta, face aos vários pedidos de reunião e recuperação da dívida que tínhamos feito", contou Joaquim Carreira à Lusa.

Por sua vez, no comunicado, a dona do Diário de Notícias indica vários dados financeiros, que considera necessários "em nome da transparência e para dar contexto à situação actual". Refere que o Grupo Global Media comprou 23,36% do capital da Lusa em 2013 por 1,426 milhões de euros e que vendeu a mesma percentagem este ano por 1,276 milhões de euros. Quanto à dívida, revela que a dívida acumulada era em Janeiro de 2024 (na vigência da anterior administração da Global Media) de 905 mil euros e que "em nenhum momento foi o serviço suspenso ou sequer posto em causa".

A Global Media diz ainda que renegociou o contrato com a Lusa em Setembro e que, então, foram alterados os prazos de pagamento de 90 para 30 dias e que estão, neste momento, em dívida "três meses de actividade (num total de 27.297 euros), a ser pago no decorrer das normais operações contabilísticas em função do acerto dos prazos".

Segundo o grupo de comunicação social, "outros títulos terão dívidas correntes à agência Lusa, mas só o DN foi boicotado", o que considera um "claro ataque à informação livre e incómoda que o título continua a produzir, graças à excelente equipa de jornalistas que possui".

O grupo considera que "sofrer este ataque ao fim da tarde de uma sexta-feira, numa altura em que a equipa accionista e a administração estão empenhadas em salvar o título histórico que se presta a cumprir 160 anos de vida, é revelador sobre a forma como a informação livre é vista neste país".

Segundo o presidente do conselho de administração da Lusa, com o negócio em que o Estado adquiriu as participações da Global Media e da Páginas Civilizadas na Lusa (por 2,49 milhões de euros, em final de Julho) a dívida anteriormente acumulada pelo grupo Global Media ficou limpa. O que se passou entretanto, explicou, é que "não foi paga nenhuma factura" desde Agosto.

"Agosto, Setembro e Outubro estão vencidas. O que veio a prejudicar ainda mais a situação é que tentámos várias vezes o contacto com a administração, chamando a atenção para o agravamento da situação, e não tem havido "feedback"", declarou.

Sobre outros títulos que também têm dívidas à Lusa, e que não têm serviço cortado, Joaquim Carreira disse que "a grande diferença é que os outros títulos têm valores em dívida mas pagaram alguma coisa". O que está em causa é "uma situação extrema de uma empresa que não fez qualquer liquidação de facturas", vincou.

Já quanto ao facto de a Lusa não ter cortado o serviço à Global Media quando a dívida acumulada era superior (905 mil euros em Janeiro de 2024, segundo o comunicado da Global Media), o gestor referiu que na altura foi equacionada essa possibilidade, mas não foi tomada a decisão porque estava em cima da mesa a proposta de o Estado comprar as participações da Global Media e da Páginas Civilizadas na Lusa, e tal decisão podia ser um obstáculo. "Não houve suspensão, porque havia um negócio de maior importância que estava para ser realizado", admitiu.

O Estado português detém, actualmente, 95,86% do capital da Lusa, depois de, a 31 de Julho, ter comprado os 45,71% da participação da Global Media e da Páginas Civilizadas na agência de notícias.

Em Novembro, o ministro dos Assuntos Parlamentares disse que o Governo já fez uma proposta para adquirir o restante do capital social da Lusa que ainda não detém, por um valor correspondente à avaliação da agência no âmbito das outras aquisições, e que está a aguardar. "O Estado não está disponível para regatear ou negociar, é um valor que foi encontrado e daí não sairemos", afirmou Pedro Duarte.

O ministro já tinha apontado, no início de Outubro, o desejo do Governo de "clarificar a estrutura accionista [da Lusa]".

Os accionistas minoritários da Lusa são a NP - Notícias de Portugal (2,72%), o PÚBLICO (1,38%), a RTP (0,03%) e a Empresa do Diário do Minho, Lda, cada um 0,01%.