Nazareno Rodrigues e Juliana Caus: conexões entre a arte e o cotidiano da vida

Espaço privado de exposições recebe apenas amigos e conhecidos. Experiência da curadora Juliana Caus deve gerar nova galeria de arte em Lisboa. Em 19 de dezembro, haverá evento na Casa do Comum.

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Nazareno e uma das obras da mostra "Modos de Fuga", na Casa Caus Francisco Baccaro
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O artista plástico brasileiro Nazareno Rodrigues e a anfitriã Juliana Caus compartilham suas experiências e reflexões sobre a Casa Caus, espaço cultural inovador inaugurado no último verão em Lisboa. Enquanto Nazareno finaliza a primeira exposição individual, Modos de Fuga, realizada no local, Juliana descreve a evolução da casa como ponto de encontro para artistas, colecionadores e entusiastas das artes.

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Juliana Caus e Nazareno Rodrigues Pedro Caetano

“Foi uma oportunidade especial. Estou em Lisboa há um mês, convivendo intensamente com o ambiente e com os moradores da casa, o que foi determinante para o desenvolvimento do meu trabalho”, afirma Nazareno, que integrou elementos locais à sua produção anterior do Brasil. A relação íntima com o espaço e a rotina familiar geraram uma experiência singular, em contraste com os formatos tradicionais de galerias ou museus

Juliana descreve como a Casa Caus se transformou em um local de efervescência cultural. Inicialmente pensada como uma galeria virtual, o projeto ganhou corpo a partir de uma ideia da curadora Lúcia Bertazzo, responsável pela primeira exposição. “Foi um experimento que deu certo. Começamos com uma curadoria que chamo de afetiva, reunindo obras da minha coleção, de outras coleções privadas e de artistas emergentes. A casa sempre foi um espaço de convivência com amigos, família e arte. Agora, ela se tornou um lugar de troca e visibilidade para novos artistas”, comenta.

Ela explica que o espaço funciona em dias específicos para convidados, priorizando uma abordagem intimista e colaborativa. “É um espaço para conversar sobre arte contemporânea e explorar outras vertentes, como música e cinema. Tudo isso acontece respeitando a dinâmica da casa, que ainda é um lar”, afirma.

Residência afetiva

A parceria com Nazareno Rodrigues nasceu da longa amizade entre artista e anfitriã. “Ele já vinha à minha casa quando estava em Portugal, mas desta vez foi diferente. Convidei-o para desenvolver um projeto especial aqui, e ele aceitou. Durante a residência, ele se integrou completamente à rotina da casa, o que inclui até ajudar com as crianças”, brinca Juliana.

A experiência na Casa Caus trouxe uma nova perspectiva ao artista sobre o formato de exposições. “Diferentemente do cubo branco das galerias ou museus, a casa oferece um ambiente mais informal, mas que carrega outra energia e outras possibilidades. Mesmo trazendo ideias do Brasil, precisei adaptá-las à realidade daqui, o que enriqueceu o trabalho. Você está em contato com a dinâmica da vida cotidiana e isso transforma o trabalho e a percepção do visitante”, analisa.

Trajetória em Portugal

Embora esta seja a primeira residência artística de Nazareno em Portugal, ele já possui uma longa trajetória no país. Ao longo de 20 anos, expôs em diversas cidades, como Porto, Évora e Vila Nova de Gaia. Observador atento, o artista acompanha as mudanças no cenário cultural português, que, segundo ele, vive um momento de efervescência.

“Portugal é hoje um epicentro europeu dinâmico. Vejo um crescimento significativo na presença de novos artistas em espaços tradicionais, além de iniciativas contemporâneas que estão ganhando projeção internacional”, ressalta.

Nazareno também reconhece a crescente presença brasileira em Portugal, tanto no público quanto no circuito artístico. “Há muitos brasileiros que nem conheciam Portugal e, agora, estão contribuindo para essa troca cultural. Isso fortalece ainda mais a conexão entre os dois países”, diz.

Para encerrar o ano, a Casa Caus realizará uma ocupação na Casa do Comum, em 19 de dezembro. O evento incluirá performances, conversas e música, ampliando o alcance do projeto. “É uma forma de levarmos o espírito da Casa Caus para um público maior, mas sem perder a essência colaborativa”, explica Juliana.

Sobre os próximos passos, ela reflete: “Se continuar nesse ritmo, talvez seja hora de pensar em um espaço maior. Mas, por enquanto, a Casa Caus continua sendo um espaço de convivência e transformação, onde arte e vida se misturam de forma única.”

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