Chamam-se NoLo as bebidas com pouco ou nenhum álcool – kombuchas, mas não só – que vão conquistando cada vez mais espaço nos menus dos restaurantes e que, em Lisboa, ganharam até direito a uma garrafeira própria, a The Other Bottle. Para a Fugas Especial Vinhos que hoje lançamos, fui tentar perceber como é que esta tendência está a evoluir e o que é que ela significa para o mundo dos produtores de vinho. Depois de várias harmonizações sem álcool, conto tudo o que descobri. 

Pode parecer contraditório que uma revista dedicada ao vinho – e que neste número dá muitas sugestões de vinhos para oferecer ou para servir nas mesas de Natal e conta histórias de castas, produtores e regiões – tenha escolhido este tema. Mas o crescimento do número de pessoas que, por razões de saúde ou outras, adere a movimentos como o sober curious ou o dry January, representa um desafio para o sector do vinho, que começa a procurar respostas.

 
           
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Já existe em Portugal um vinho sem álcool (explico no artigo como é feito o processo de desalcoolização), o 0%riginal da José Maria da Fonseca, mas o que se vem a multiplicar são as kombuchas, cada vez mais gastronómicas – uma delas, cujo laboratório/unidade de produção visitámos, é a Homelabdrinks, que faz a Kombu Viva numa parceria com um produtor de vinho, Dirk Niepoort, e com o Chá Camélia.

Visitei também restaurantes que, continuando a apostar em primeiro lugar no vinho, oferecem aos clientes opções diferentes sem álcool, que resultam em bebidas feitas com grande criatividade e uma lógica de alta gastronomia (na foto acima, Marina Garcia, que faz no Cura um excelente pairing sem álcool).

Inevitavelmente, o sector do vinho sente que este fenómeno – somado aos alertas da Organização Mundial de Saúde sobre a necessidade de reduzir substancialmente o consumo de álcool e os vários estudos recentes que apontam nesse sentido – é uma ameaça. Por isso, falei com George Sandeman, do Wine in Moderation, e apresento uma iniciativa lançada por produtores e defensores do vinho para lembrar que este não só faz parte de uma cultura ancestral como, em Portugal, é o modo de vida de muita gente e uma marca icónica da paisagem no mundo rural.

Ainda nesta edição especial, o Pedro Garcias entrevista o presidente do Instituto da Vinha e do Vinho, Bernardo Gouvêa, que defende que o problema dos excedentes de vinho em Portugal não se resolve com uma "redução indiscriminada da produção"; a Ana Isabel Pereira conta como cada vez mais portugueses estão a confiar a empresas de gestão a sua carteira de vinhos; o Manuel Carvalho esteve no Golden Vines, em Madrid, e assistiu ao triunfo do Barca Velha neste evento para a elite mundial dos vinhos; o Miguel Esteves Cardoso elogia a cerveja Guinness (mesmo a sem álcool); e o Edgardo Pacheco revela que as nozes da Tapada de Coelheiros têm nomes próprios. Como vê, não faltam motivos para brindarmos às festas que se aproximam.

Bom fim-de-semana e boas fugas!