Johnny Hooker reflete sobre 20 anos de carreira, turnês e novos projetos

Entre shows, gravações e projetos cinematográficos, o artista encontra tempo para pensar sobre suas raízes, e fala sobre as polêmicas nas redes sociais, como a que envolveu Fernanda Torres.

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Johnny Hooker anuncia turnê em 2025 com o repertório do seu álbum Maldito. Ele se apresenta nesta sexta-feira, em Lisboa Divulgação
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Em plena atividade em Portugal, Johnny Hooker, cujo nome é sinônimo de irreverência e inovação, reflete sobre sua carreira de 20 anos com humor e emoção. Nessa sexta-feira (29/11), ele se apresenta na Music Station, no Baile Amor, na companhia do Coletivo Gira. “Toda vez que chego em Portugal, parece que o trabalho não me dá descanso”, brinca. “Gravei uma música aqui, falei com a imprensa, fiz show em Braga, ensaios... Estou fora de casa há quase um mês”, diz.

A passagem por Lisboa integra a turnê que celebra as duas décadas de carreira, com um espetáculo autobiográfico. “É o show mais emocionante que já fiz. É uma retrospectiva da minha trajetória, que considero improvável, porque, há 20 anos, sair de Pernambuco com a estética andrógina e queer era algo inédito na música brasileira”, afirma.

Hooker destaca o impacto de sua geração, que trouxe ao cenário nacional nomes como Liniker, Pabllo Vittar e Gloria Groove. “Deixamos um legado importante de liberdade e questionamentos, e esse show é também uma maneira de exorcizar tudo isso”, frisa.

A relação com Portugal vai além dos palcos. “Este país é uma paixão da minha vida”, confessa, embora reconheça que morar em terras lusas ainda não seja uma possibilidade concreta, devido à agenda cheia no Brasil. “Mesmo em um ano difícil para a música, conseguimos lançar turnê, lotar shows e rodar o país, algo que muitos artistas não puderam fazer”, acrescenta.

As raízes pernambucanas seguem presentes em sua obra e em seu coração. “Recife significa nostalgia e orgulho. Recentemente, estive no Dia do Frevo e fiquei emocionado. O povo tem uma relação muito bonita comigo, me vê como alguém que representa nossa cultura”, assinala Hooker. Ele também relembra momentos importantes de sua infância e o impacto da cultura pernambucana em seu trabalho: “Cresci ouvindo frevo, maracatu e ciranda. Esses sons me moldaram e estão em tudo o que faço até hoje.”

Apesar de sua conexão com Pernambuco, o artista reconhece que sua projeção nacional e internacional exigiu adaptações. “Quando saí de Recife, foi um salto no escuro. Não havia garantias de que seria aceito em um mercado tão diverso e competitivo. Mas isso me deu uma força enorme para persistir, inovar e levar um pedaço do Brasil comigo para qualquer lugar do mundo”, relata.

Cinema: paixão renovada

Além da música, o cantor retoma sua conexão com o cinema. Ele está no elenco de Narciso Através do Espelho, dirigido por Matheus Marquetti, parte de uma nova onda do cinema queer brasileiro. “É um desafio incrível. Nunca tinha feito teatro e, agora, me vejo em cenas longas, com 15 minutos de diálogo. É uma troca enriquecedora com um elenco jovem, cheio de energia”, diz.

Hooker já havia deixado sua marca no cinema, com destaque para a cena em que canta a música Volta, da trilha sonora do filme Tatuagem, um dos 100 melhores filmes brasileiros, segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). “Foi um ponto de virada na minha vida. Saber que também estou em Baile Perfumado, que figura na mesma lista, é uma honra. Eu tinha 11 anos quando fiz uma pontinha no filme”, relembra.

O artista também comenta o impacto transformador da experiência no set de Narciso Através do Espelho. “Este filme me trouxe uma nova perspectiva artística. Trabalhar com um elenco tão jovem me fez refletir sobre como o mercado cultural está mudando e como as novas gerações trazem questões urgentes, especialmente as relacionadas à identidade e à liberdade criativa”, afirma.

Os próximos meses prometem ser intensos para Hooker. Com a turnê dos 20 anos ainda em andamento, ele prepara uma celebração especial: uma série de shows limitados do álbum Macumba, que completa 10 anos em 2025. Além disso, há um novo disco em gestação. “Já estamos trabalhando nele, e posso dizer que está ficando belíssimo. Será algo forte e marcante”, frisa.

Sobre o futuro, Hooker é otimista. “Acho que 2025 será um ano de renovação para mim e para a música brasileira. Apesar dos desafios, sinto que estamos em um momento de grande criatividade. Quero continuar explorando novas formas de arte, mantendo a conexão com meu público”, enfatiza.

Polêmica com Fernanda Torres

Indagado sobre a recente polêmica envolvendo seu nome e a atriz Fernanda Torres, cotada para o Oscar pelo filme Ainda Estou Aqui, Hooker foi direto: “Não fiz juízo de valor sobre o trabalho dela, nem critiquei ninguém. Só comentei sobre a dificuldade de um ator brasileiro em Hollywood, algo que ela mesma já havia mencionado. Torço muito por ela e pelo filme”, diz. Na mensagem que provocou confusão, o cantor disse que Fernanda não tinha chances de levar o Oscar de melhor atriz, apesar de amá-la muito, respondendo a um comentário numa foto de Demi Moore, baseado em uma pesquisa no site chamado Goldderby, que mostra as chances de cada atriz na corrida ao oscar.

Em relação aos ataques nas redes sociais envolvendo o filme, o cantor cita também o que está acontecendo com o youtuber Thiago Guimarães, que, ao contrário de Hooker, fez críticas a alguns aspectos de Ainda Estou Aqui. "Mandaram o menino se matar, porque ele ousou criticar. Já estou acostumado, porque mandam me matar desde que eu andava com um crucifixo invertido, aos 15 anos de idade".

Entre shows, cinema e novas composições, ele continua a levar a cultura brasileira para o mundo. “Onde quer que eu vá, Pernambuco estará comigo”, ressalta. E, com um sorriso, encerra: “O que a gente precisa agora é de amor e também de se revoltar um pouco com o estado das coisas, como canta Erasmo Carlos na música É preciso dar um jeito, meu amigo".

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