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Brasileiros trocam Miami por Cascais atrás de segurança e estabilidade política
Número de brasileiros na cidade portuguesa vem crescendo sistematicamente. Economista diz que maior oportunidade de negócios atrai esse público, além da mobilidade por toda a Europa.
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O fluxo de brasileiros trocando Miami por Portugal, mais precisamente, Cascais, tem aumentado sistematicamente, afirma o presidente da Câmara da cidade, Carlos Carreiras. Esse grupo inclui, sobretudo, empresário e integrantes da classe média alta. Por trás desse movimento está a visão de que Portugal é um país mais seguro que os Estados Unidos, oferece boas oportunidades de negócios, tem estabilidade política, além de proporcionar mobilidade por toda a Europa.
Carreiras não sabe quantificar quantos dos 15 mil brasileiros que cruzaram o Atlântico e se instalaram em Cascais vieram de Miami. “Mas são vários”, diz ele. Também há ex-moradores da cidade norte-americana entre os 5 mil luso-brasileiros que vivem no município português. Para o economista Alexandre Pundek, esse movimento não surpreende, inclusive, porque também cidadãos norte-americanos têm optado por trocar Miami por Cascais.
“Das mais de 100 famílias que vivem hoje na Quinta do Patiño, em Cascais, mais de 20 são de brasileiros, alguns que vieram de Miami. Nesse condomínio, as casas estão avaliadas a partir de 5 milhões de euros (R$ 31 milhões)”, afirma Pundek, que foi secretário executivo do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil. “Também vemos brasileiros que viviam em Miami na Quinta da Marinha”, acrescenta.
Para Pundek, esse movimento de brasileiros e norte-americanos trocando Miami por Portugal não vai parar tão cedo. “Agora, há a questão política, um descontentamento com a vitória de Donald Trump”, assinala. O economista destaca, ainda, que, mesmo não tendo a pujança da economia dos Estados Unidos, Portugal vem se modernizando, abrindo oportunidades de investimentos em vários setores. “Essa diversidade econômica para esse público é importante”, emenda.
Não se pode esquecer, ainda, a questão da saúde. Nos Estados Unidos, manter um plano de saúde custa muito caro e praticamente não há sistema público. “Em Portugal, por mais que se reclame do Sistema Nacional e Saúde (SNS), o acesso é relativamente fácil. E os convênios privados são mais acessíveis e garantem bom atendimento”, frisa. E complementa: “A tranquilidade de Portugal faz muita diferença. As pessoas podem andar nas ruas sem se preocupar com a segurança”.
Mão de obra qualificada
A brasileira Lúcia Maria, 62 anos, conta que ela e o marido estão avaliando seriamente a possibilidade de trocar Miami por Portugal. “Estamos avaliando todas as possibilidades”, afirma. “Sabemos que Portugal oferece uma ótima qualidade de vida a um custo menor do que nos Estados Unidos”, ressalta. Ela vive em Miami há quase 10 anos, mas acredita que pode ter chegado a hora de cruzar o Atlântico rumo ao país europeu.
“A mobilidade a partir de Portugal é muito boa. Pode-se passar o fim de semana em qualquer país da Europa, e isso faz uma enorme diferença”, comenta Lúcia. Um voo de Lisboa para Paris, na França, dura pouco mais de duas horas. De Lisboa para Madri, na Espanha, são apenas 50 minutos. “Isso é muito bom, e está sendo considerado nas conversas que tenho com meu marido, Joe, que é norte-americano”, frisa.
Lúcia destaca, ainda, a receptividade dos portugueses, o que, no entender dela, tornará o possível processo de mudança mais tranquilo. “Estamos pesando tudo. Temos três cachorros, tem a questão da minha filha, que está estudando. Enfim, vamos avaliar”, diz. Para Alexandre Pundek, Portugal tem muito a ganhar com esse fluxo maior de brasileiros e norte-americanos que vêm trocando Miami pelo território luso. São pessoas, normalmente, com alto poder aquisitivo, com ótima formação profissional. “É um público bastante qualificado”, assinala.