Toneladas de algas invadiram a areia da Meia Praia, em Lagos

O município, perante o risco, diz não ter tempo para esperar pela burocracia da administração central. “Talvez só quando as algas atingissem três a quatro metros de altura, teríamos resposta”.

Foto
As algas podem ser aproveitadas e transformadas num negócio Nuno Ferreira Santos
Ouça este artigo
00:00
03:06

As correntes marítimas trouxeram uma manta de algas para a Meia Praia, em Lagos, que chegou atingir cerca um metro de altura. A espécie invasora Rugulopteryx okamurae, de cor acastanhada é originária do Japão e Coreia, mas já se estendeu até Península Ibérica, Açores, Madeira, Arrábida, Cascais. Nas praias algarvias, a sua presença tem provocado o protesto dos banhistas nos últimos três anos. A alga invasora veio para ficar.

O tema “algas invasoras: desafio para praias mais limpas” reuniu, nesta quarta-feira, em Lagos, académicos, empresários e autarcas para discutir um problema que afecta cada vez mais o sector turístico. “Queremos transformar um resíduo num negócio”, desafiou Luís Capão, presidente da Associação de Limpeza Urbana (ALU), a entidade organizadora do encontro.

O certo é que estas são um problema e os autarcas queixam-se da lentidão da resposta das autoridades competentes, até porque, salientou a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a recolha de algas carece de licenciamento. “Se cumpríssemos tudo à risca, talvez quando as algas atingissem três a quatro metros de altura teríamos resposta da administração central", disse o presidente da Câmara de Lagos, Hugo Pereira, aos jornalistas. Só no último ano, salientou, foram retiradas sete mil toneladas das praias do concelho.

As algas dispersam-se com uma taxa que oscila entre os 75 km e os 87 quilómetros por ano, adiantou Rui Santos, da Universidade do Algarve (Ualg). O investigador do Centro de Ciências do Mar (CCmar), da Ualg, defendeu a necessidade de serem construídas bio-refinarias para transformar as “algas inimigas, em algas amigas”, aproveitando todas potencialidades deste produto do mar na produção de rações, fertilizantes e retiradas fibras para a indústria têxtil. Para isso, sublinhou, “é preciso que as câmaras se envolvam”.

Quando a recolha é feita com maquinaria pesada, como está a acontecer em Lagos, disse, 40% do material recolhido é areia. Ao transportar os detritos para aterro, lembrou Hugo Pereira, “estamos a pagar para depositar areia”. Na operação que está a ser levada a cabo na Meia Praia, afirmou, “tivemos sorte, porque estamos a levar [as algas] para um terreno agrícola, que está a utilizar o material como fertilizante”, e assim alivia os custos da autarquia

O biólogo Francisco Machado aproveitou a conferência para dar a conhecer a Easy Harvest, uma startup na área do ambiente, com especial foco na recolha e tratamento da Rugulopteryx okamurae. O protótipo que apresentou está a actuar, em fase experimental, nas praias de Lagos Em vez das algas serem recolhidas na praia, muitas vezes já em estado de decomposição, “são aspiradas directamente da coluna de água, recolhendo as mantas flutuantes”.

O negócio das macro-algas na Europa, acrescentou, já representa mais de 5,5 biliões de dólares ao passo que, em Portugal, continua a ser uma despesa suportada pelos municípios. Em Espanha, salientou o delegado de Turismo da Costa del Sol Ocidental, Francisco Cerdan, a mesma alga está a ser aproveitada para a produção de biogás. A recolha, disse, custa 41 euros/tonelada.