“Não podemos deixar crescer fenómenos criminais graves”, avisa Montenegro, no dia em que PJ interrogou atacantes de motorista

Primeiro-ministro saúda os resultados da operação Portugal Sempre Seguro e revela que os 20 milhões para comprar veículos para as forças policiais serão aprovados amanhã.

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Antes de falar ao país o primeiro-ministro, Luís Montenegro, esteve reunido com as ministras da Administração Interna, Margarida Blasco, e da Justiça, Rita Alarcão Júdice, num encontro em que participaram também as chefias da Policia Judiciária, Luís Neves, da PSP, Luís Carrilho, e da GNR, Rui Veloso FILIPE AMORIM / LUSA

O primeiro-ministro Luís Montenegro anunciou esta quarta-feira que a campanha Portugal Sempre Seguro que tem estado a ser levada a cabo pelas forças de segurança já permitiu "desmantelar duas redes criminosas", uma na área da imigração ilegal e outra na do tráfico de pessoas. E anunciou que o Governo irá aprovar amanhã em Conselho de Ministros uma verba de 20 milhões de euros para a aquisição de mais 600 veículos para as forças policiais.

"Não podemos deixar crescer fenómenos criminais graves", declarou o chefe do Governo, numa conferência de imprensa que teve lugar à hora nobre, às 20h, após uma reunião com as ministras da Administração Interna, Margarida Blasco, e da Justiça, Rita Alarcão Júdice. Neste encontro participaram também as chefias da Polícia Judiciária, Luís Neves, da PSP, Luís Carrilho, e da GNR, Rui Veloso. Sem grandes novidades, a comunicação ao país ocorreu no mesmo dia em que a Judiciária desencadeou uma operação policial em Santo António dos Cavaleiros, Loures, durante a qual levou para interrogatório uma dezena de jovens suspeitos de terem participado no ataque a um autocarro da Carris Metropolitana em Loures que deixou o condutor em risco de vida, a 24 de Outubro passado. Foram constituídos arguidos, estando indiciados por tentativa de homicídio.

Reiterando que Portugal é um país seguro, o primeiro-ministro revelou que desde o início da operação Portugal Sempre Seguro já foram levantados "mais de dois mil autos de contra-ordenação" em mais de 170 acções policiais e fiscalizadas mais de sete mil pessoas e 10 mil veículos.

Montenegro, além de falar da operação da PJ que levou à detenção dos suspeitos da agressão ao motorista, fez questão de dizer que “estão em curso diligências investigatórias sobre acontecimentos recentes da alteração da tranquilidade pública, do incêndio na via pública de veículos automóveis, de autocarros, de equipamentos e peças de imobiliário urbano e que, em alguns casos, conduziram também a situações de ofensa à integridade física, podemos mesmo dizer atentados contra a vida, em particular, no caso que é público, de um motorista de transportes públicos".

Montenegro aproveitou e agradeceu "a celeridade e a cooperação das forças no terreno" para a identificação dos suspeitos. O Chefe de Governo deixou ainda uma mensagem: “Portugal é um país seguro. É mesmo um dos países mais seguros do mundo. Mas este contexto não é um contexto que seja adquirido de forma permanente".

Montenegro sublinhou que que este contexto "tem de ser trabalhado e tem de ser alcançado todos os dias”. “Por outro lado, mesmo considerando as estatísticas que fazem concluir exactamente no sentido de considerar Portugal um dos países mais seguros do mundo, isso não significa que os poderes públicos possam diminuir o impacto que algumas acções provocam no chamado sentimento de segurança ou insegurança", acrescentou.

Questionado sobre se esta comunicação ao país, à hora dos telejornais, não pode contribuir para agravar o sentimento de insegurança das populações, o primeiro-ministro negou-o. "Não escolhi a hora em função de nada especial e a conferência de imprensa que estamos a realizar visa dar nota das nossas decisões e da forma como elas são implementadas e, por via disso, tranquilizar o país", disse Luís Montenegro, falando numa "acção articulada" dos serviços do Estado para "tranquilizar a população". E, insistindo que Portugal é um país seguro, ressalvou ser importante o país "não dormir à sombra da bananeira". "Temos de tudo fazer para melhorar o desempenho da salvaguarda dos direitos das pessoas", disse, falando na segurança como "um activo económico" para o país.

Já na terça-feira, na tomada de posse dos directores da PJ e dos Serviços Prisionais, o primeiro-ministro havia afirmado que Portugal tem razões para dizer “alto e bom som” que é dos países mais seguros do mundo. No entanto, acabou por admitir que tinha preocupações com o aumento de certos tipos de criminalidade, nomeadamente a delinquência juvenil ou a criminalidade grupal e o tráfico de drogas internacional e até interno, “muito à mostra, sobretudo em Lisboa e no Porto, assustando também as pessoas”.

“[No entanto,] é preciso dizer às portuguesas e aos portugueses que nós temos razões para confiar nas nossas polícias, nós temos razões para confiar nos nossos serviços públicos e nós temos razões para dizer alto e bom som que somos um país seguro, um dos mais seguros do mundo”, sublinhou Luís Montenegro, reconhecendo as carências que se fazem sentir nos bairros mais pobres ao nível do acesso à educação, à saúde e à habitação. A esse propósito, fez uma promessa: "Não deixaremos ninguém para trás".

Recorde-se que as polícias têm estado a levar a cabo a nível nacional a operação Portugal Sempre Seguro na sequência da onda de violência que se verificou em vários bairros na zona de Lisboa, Oeiras e Loures, após a morte de Odair Moniz, 43 anos, na Cova da Moura, Amadora, baleado por um agente da PSP, cujas circunstâncias ainda estão a ser investigadas pela PJ.

Aliás, a operação não teve um anúncio formal, mas acabou por se saber através da própria ministra da Administração Interna que as intervenções policiais que estavam a ocorrer faziam parte de algo planeado.

Pedro Nuno acusa Montenegro de colagem ao Chega

Antes ainda da declaração ao país feita por Montenegro, o secretário-geral socialista criticou, em declarações aos jornalistas, em Lisboa, a abordagem do Governo ao problema.

“Temos problemas de exclusão social e temos de encontrar respostas para promover essa coesão, e não vemos da parte do Governo nenhum discurso com a preocupação para construir uma sociedade mais coesa onde não haja excluídos”, disse Pedro Nuno Santos.

O líder do PS, que a 4 de Novembro esteve no Bairro do Zambujal e na Cova da Moura e que esta quarta-feira depois da à ida do Presidente da República a este último bairro, considerou ser “evidente para todos” que o Governo tem estado ausente destes bairros problemáticos. E acusa Montenegro de preferir mimetizar o discurso do Chega em vez de procurar soluções.

“Aquilo a que vamos assistindo é um Governo e um primeiro-ministro muito preocupado em disputar espaço com o Chega e a adoptar um discurso securitário sobre a segurança quando, na realidade, o sentimento de insegurança que os portugueses sentem é para lá da segurança material. Sobre isso este governo e este primeiro-ministro nada têm a dizer”, lamentou.

No dia 11 de Novembro, durante a audição sobre o Orçamento de Estado de 2025, Margarida Blasco, quando confrontada pelos deputados com uma operação policial que tinha sido levada a cabo no Martim Moniz – em que dos 100 imigrantes fiscalizados, só um estava em situação irregular –, a ministra disse que era policiamento de proximidade. E foi ao explicar que eram acções necessárias que acabou por revelar que estava em curso uma operação de policiamento visível em todo o país. No dia seguinte as notícias davam conta que essa operação se chamava precisamente Portugal Sempre Seguro.

Ao que o PÚBLICO apurou, as forças de segurança vão continuar com este policiamento visível, embora esteja prestes a começar uma outra operação, Festas em Segurança, a propósito do Natal e do Ano Novo.

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