Caro leitor,

Os mais recentes desenvolvimentos políticos nos maiores blocos económicos mundiais continuam a parecer longe e quase exclusivos da incessante actualidade noticiosa, nas suas várias dimensões. Mas, muito em breve, chegarão ao topo das prioridades dos gestores, aos dossiês de preparação dos directores de departamentos, aos gabinetes dos empresários ou às caixas de correio electrónico dos profissionais liberais.

O alerta foi resumido pelo Banco de Portugal (BdP), no seu Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado esta semana: "Os riscos para as empresas estão associados a um maior abrandamento económico na área do euro, potencialmente agravados por custos elevados de energia e de produção e perturbações nas cadeias de abastecimento".

Um diagnóstico relativamente linear que engloba uma síntese de um conjunto de fenómenos tão díspares como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e a consequente aplicação de tarifas especiais a produtos do resto do mundo, os problemas económicos na China – que poderão gripar a maior fábrica do mundo – ou a iminente recessão na Alemanha, que arrastará todo o território europeu para uma potencial crise económica. Ou ainda uma escalada nos conflitos armados em curso na Ucrânia e em Gaza.

Isto, enquanto ainda se sentem os efeitos de um período marcado por taxas de juro elevadas durante muito tempo.

Ainda assim, nesse aspecto, a entidade liderada por Mário Centeno permite algum optimismo, dado que prevê que "a proporção de empresas identificadas como financeiramente vulneráveis (isto é, com EBITDA inferior a duas vezes o montante de juros suportados) se reduza em 2024 e 2025, para cerca de 12% e 8%, respectivamente, abaixo dos 14% de 2023". Um cenário positivo que se deve, segundo o BdP à "melhoria da situação financeira das empresas nos últimos anos".

No fundo, as nuvens negras que se adensam no horizonte das empresas trarão uma maior ou menor instabilidade consoante o grau de fortalecimento que os gestores e empresários tenham procurado garantir nos últimos anos de crescimento económico relativamente robusto, para os padrões históricos de Portugal.

Voltando ao BdP: "As empresas continuaram a apresentar uma situação financeira robusta em Junho de 2024, não obstante a moderação da actividade e um nível de custos de financiamento superior ao observado até 2022". E isto aconteceu porque a generalidade das empresas aproveitou este período para fortalecer os seus capitais próprios, devido essencialmente à "retenção de resultados". Isto é, em vez de utilizarem os ganhos que foram libertando da sua actividade para remunerar os accionistas ou os sócios (ou para investir), as empresas procuraram garantir bases mais sólidas na sua estrutura financeira.

O Relatório de Estabilidade Financeira destaca, neste particular, a evolução muito positiva verificada na indústria. E, sobretudo, o crescimento desta solidez nas pequenas e médias empresas, com uma evolução muito significativa entre 2009 e 2024.

Na prática, isto significa que, apesar de o peso do endividamento continuar a ser muito significativo na estrutura empresarial do país, o ambiente de taxas de juro elevadas acabou por levar a uma mitigação desta vulnerabilidade, parecendo colocar as empresas, em especial as mais pequenas, em condições mais sólidas para enfrentar os riscos geopolíticos que se avizinham.

"A redução da vulnerabilidade financeira das empresas tem sido acompanhada por um acréscimo da resiliência aos choques a que a sua actividade tem estado sujeita desde 2019", sentencia o BdP, que vai mais longe: "Os custos de financiamento mais elevados e o menor dinamismo económico em parceiros comerciais relevantes na área do euro continuam a colocar pressão na actividade das empresas, aumentado o risco de crédito de forma heterogénea. No entanto, no cenário macroeconómico central para a economia portuguesa estima-se uma redução da proporção de empresas identificadas como estando em vulnerabilidade financeira em 2024 e 2025".

O mesmo relatório dá conta de uma quebra da rentabilidade das empresas nos últimos meses, bem como de uma ligeira subida das insolvências, notas menos luminosas de um diagnóstico que ajuda a recentrar um pouco a discussão dentro da esfera de decisão empresarial: aproveitar os bons ventos dos ciclos económicos para se preparar para uma eventual tempestade que se esteja a formar no horizonte. E, pelos mais recentes sinais globais, ela parece inevitável. As empresas mais bem preparadas conseguirão continuar a navegar num mar agitado. Pelos dados mais recentes, parecem ser em maior número do que as outras, as mais vulneráveis, que talvez já não consigam ter tempo para reforçar as suas defesas. 

Trabalho extra

Por que razão despedem as empresas trabalhadores por delitos menores?

A tendência é identificada num artigo do Financial Times: algumas empresas estão a despedir trabalhadores por violações menores das suas políticas internas para, de forma discreta, procederem a reestruturações ou enviarem mensagens de rigor e exigência aos restantes funcionários.

O jornal britânico lembra que, quando anunciou o regresso ao trabalho presencial a partir de Janeiros de 2025, a Amazon fez questão de frisar que não se tratava de um pretexto para despedir trabalhadores, dando relevo a uma prática que até então não estava no radar.

Os exemplos incluem ainda a Meta, que recentemente demitiu pessoas por uso indevido de vouchers de refeições, ou a EY, que dispensou trabalhadores por assistirem a vários vídeos de formação em simultâneo. Situações que anteriormente dariam lugar a uma advertência, agora parecem ser suficientes para as empresas se desembaraçarem de trabalhadores.

Regresso forçado ao escritório leva trabalhadores a procurarem novos empregos​

Depois de as grandes empresas terem dado ordem de regresso ao escritório cinco dias por semana, as agências de recursos humanos têm recebido um crescente número de trabalhadores que querem mudar de emprego, à procura da flexibilidade perdida.

O jornal The Guardian cita um inquérito a 500 directores de recursos humanos e agentes de recrutamento para concluir que houve um aumento do número de trabalhadores que procuram um emprego mais flexível ou que recusarem propostas de emprego que não ofereciam trabalho híbrido.

O que é que o tom de voz tem a ver com o desempenho dos gestores? ​

O que dita o sucesso do líder é uma questão para a qual muitos procuram resposta. Além das competências e da capacidade de tomar decisões, três universidades norte-americanas concluem que o modo como um líder comunica é decisivo. E, segundo o Expresso, não é aquilo que diz ou a forma como o diz que importa, mas o tom da sua voz.

Estes estudos estabelecem uma relação directa entre o tom de voz dos gestores, a dimensão das empresas que gerem e os resultados operacionais que alcançam. E concluem que líderes com vozes mais graves e baixas gerem empresas de maior dimensão e alcançam melhores resultados.