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Mário Soares, 100 anos: o retrato do cidadão e do político no ano do seu centenário
O livro Mário Soares, 100 Anos, editado recentemente pela Tinta da China, reúne fotografias de Alfredo Cunha e de Rui Ochoa e textos de Clara Ferreira Alves.
Mário Soares celebrava o seu aniversário a 7 de Dezembro e faria cem anos este ano. Para recordá-lo e homenageá-lo, um trio composto por uma jornalistas e dois fotojornalistas decidiu, a convite da editora Tinta da China, em parceria com o Colégio Moderno, partilhar, em forma de texto e fotografias, respectivamente, as memórias que dele guardam.
Os textos de Clara Ferreira Alves, próxima do ex-presidente durante várias décadas, traçam um retrato do homem, do político e do mito; por sua vez, as fotografias de Alfredo Cunha, que foi amigo e fotógrafo oficial de Soares, e de Rui Ochoa, ainda fotógrafo oficial do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, narram a sua vida e morte em imagens.
As primeiras das mais de 220 páginas do livro Mário Soares, 100 anos, lançado a 21 de Novembro, são dedicadas ao álbum de família de Mário Soares. Nesse capítulo, intitulado Memória, constam as fotografias da criança, do adolescente e jovem Mário, que figura rodeado de quem o amou, pais e amigos.
Seguem-se imagens que, em Julho de 2024, Cunha e Ochoa realizaram na antiga residência do socialista no Campo Grande, em Lisboa, feito até então inédito. O espaço, que contém ainda os objectos pessoais de Soares, congelado no tempo desde o seu falecimento, a 7 de Janeiro de 2017, levanta timidamente o véu sobre o que segue: uma torrente de imagens que, organizadas cronologicamente, descrevem, sempre a preto-e-branco, a vida (e também a morte) de Soares entre 1974 e 2017.
Os textos da jornalista Clara Ferreira Alves, amiga de Mário Soares, traçam o retrato do homem que descreve no texto de abertura do livro como “o chefe, o líder, um dos heróis do Portugal moderno que ele ousou inscrever na Europa e na modernidade antes de todos os outros, e mesmo contra todos os outros”. Do regresso do exílio à presidência da República, dos eventos de Estado às campanhas eleitorais, da juventude à terceira idade,
Ao longo dos quatro textos que partilha em Mário Soares, 100 Anos, a jornalista dá a conhecer os aspectos menos conhecidos, mais mundanos, prosaicos, de Mário Soares: o seu gosto por vermute ou charutos, as suas irritações e “zangas bruscas, que apareciam e desapareciam com a rapidez da chuvada tropical”, o seu pouco jeito para a condução automóveis ou a forma como parte da sua luz interior se apagou após o falecimento da esposa, Maria Barroso, que estava seguro que partiria depois de si.
Clara Ferreira Alves descreve, de uma perspectiva mais próxima, quase intimista, também vários aspectos do Soares político, intelectual; recorda “que [o socialista] foi feliz no dia em que [decorreu o] célebre debate televisivo, ‘Olhe que não, senhor doutor’, que ele venceu quando toda a gente o dava por vencido”, entre outros episódios que se tornaram célebres e que são ainda hoje recordados por muitos portugueses.
“Sempre o comparei a uma árvore, raízes bem assentes na terra, ramos antiquíssimos e altos, braços mais verdes e pujantes, renovando a folhagem conforme as estações”, escreve Ferreira Alves. “Movia‑se, na velhice, com os pés bem assentes na terra, sem dar azo a quedas ou tropeções. Movia‑se como se movera na vida, arranjando um ponto fixo para poder mover o mundo.”