Mindy Howell tinha acabado de tomar o pequeno-almoço no centro de cuidados continuados num dia deste mês quando viu algo que nunca tinha visto antes: um porco a passear de trela pelo corredor.
Brett Martin, responsável por supervisionar a gestão do centro de cuidados para idosos Good Samaritan Society, em Olathe, no Kansas, estava a passear o porco de estimação. Ao passar, disse a Mindy que o pequeno animal se chamava Odin, em homenagem ao deus nórdico da sabedoria e da magia.
A mulher de 62 anos percebeu rapidamente que Odin gostava de ser alimentado com cereais e ficou mais do que feliz por aceder ao pedido do animal.
“Dei-lhe alguns cereais Cap'n Crunch e ele pareceu gostar muito. Nunca tinha dado de comer a um porco e também nunca tinha feito festas a um. Mas ele adorou e deu-me um bom grunhido”, recorda.
No Verão, Brett, de 43 anos, pensou que o seu sociável porco de 1 ano poderia alegrar os dias dos 122 residentes do lar e perguntou ao supervisor se podia começar a levar Odin para o trabalho. Em resposta, recebeu um ressoante “sim”.
Fred Pitzl, o administrador do lar, admite que só ficou de acordo quando soube que Odin estava vacinado, treinado para usar uma caixa de areia e andaria pelos corredores de trela. Além disto, fica no escritório de Brett durante grande parte do dia.
“Admito que estava um pouco nervoso no início e imaginei um porco à solta pelos corredores, mas o Brett convenceu-me. Muitos dos nossos residentes cresceram em quintas e percebi que ter um porco no meio deles seria muito divertido”, explica.
Fred também ficou impressionado com o facto de esta não ser a primeira vez que Brett tem um porco de estimação.
Há cerca de dez anos, os filhos do funcionário do lar surpreenderam-no com um pequeno porco chamado Sarge, com quem Brett criou uma ligação imediata.
“Na altura, trabalhava com crianças com necessidades especiais e vi o impacto positivo que o porco teve nelas. Toda a gente adorava”, recorda. Depois de Sarge ter morrido devido à idade, o funcionário do lar decidiu comprar outro porco doméstico a um criador registado no Ohio, há cerca de um ano.
“Ele tinha seis semanas e chamei-lhe Odin porque achei que o nome combinava bem com os meus cães, Zeus e Thor”, explica.
Segundo Brett, Odin é um porco da raça Juliana (ou miniporco) – uma das raças de porcos mais pequenas – que, normalmente, pesam entre 18 e 36 kg. Odin pesa cerca de 23 kg. A maioria dos porcos pequenos, como os porcos vietnamitas, resultam do cruzamento de raças ao longo de várias gerações.
“Algumas pessoas chamam às raças pequenas microporcos ou porcos-chávenas-de-chá, mas no mundo dos suínos não existe tal coisa. São apenas porcos pequenos. Quando recebi o Odin, ele era do tamanho de uma lata da bebida energética Monster.”
No entanto, ter um porco em casa pode ser um desafio, tendo em conta que crescem muito mais do que a maioria das pessoas espera e precisam de uma área exterior para focinhar na terra.
Para Helen Morrison, directora da North American Pet Pig Association (Associação Norte-Americana dos Porcos de Estimação, em tradução livre), quem não está pronto para se comprometer a cuidar de um animal de companhia não deveria ter um.
Segundo a mesma, os porcos pequenos podem viver até perto dos 18 anos. Mas muitos destes animais, destaca, acabam por ser entregues a abrigos quando as pessoas percebem os cuidados de que precisam.
“Não são animais para a maioria das pessoas, especialmente para as que vivem em apartamentos e condomínios. Precisam de sair para focinhar e de um quintal vedado e seguro”, acrescenta. Sobre levar um porco de estimação para um lar de idosos, diz que é uma coisa boa.
“Quando a minha avó estava num lar, eu costumava levar o meu porco Damien e todos o adoravam e davam-lhe cenouras”, recorda Helen. “Quando são tratados adequadamente, revelam-se animais muito sociais.”
Para Brett, o esforço extra e a conta de alimentação para Odin valeram a pena. “Ele adora brincar na lama em casa e usa a porta do cão para entrar e sair. É muito carinhoso e gentil e adora aconchegar-se no sofá e receber carícias.”
O tutor de Odin diz ainda que, no centro de cuidados para idosos, o animal se dá bem com dois gatos que lá vivem e brinca com os cães que os outros funcionários costumam trazer.
“Ele alivia instantaneamente o stress de todos os que interagem com ele. Algumas enfermeiras vêm buscá-lo ao gabinete e levam-no ao nosso centro de cuidados de memória, onde ilumina o dia dos pacientes.”
Segundo Brett, um dos residentes do lar é um agricultor reformado diagnosticado com Alzheimer. “Ele fica muito entusiasmado cada vez que o Odin chega. Sinto-me bem por saber que está a ter um impacto feliz na vida desta pessoa.”
Os residentes e os funcionários do lar também passam frequentemente pelo escritório de Martin para dar abraços a Odin e pegar numa das maçãs que está num balde para o alimentarem.
“Provavelmente, a guloseima favorita dele são Cheerios. E ultimamente tem comido muita abóbora”, afirma o tutor.
Jean Hilden, 75 anos, outra das residentes do lar de idosos, diz que nunca tinha visto um porco de perto até conhecer Odin.
“Sou uma rapariga da cidade de Kansas City (no Missouri). Quando vi o Odin pela primeira vez, pensei: ‘Ah, há cães com o rabo torcido’. Quando vi que era um porco não queria acreditar. Cumprimentou-me com um grunhido e chegou perto de mim para ser acariciado. Mais fofo não poderia ser”, recorda.
Brett diz que levar o porco para o trabalho tem sido muito fácil, excepto colocá-lo no carro ao final do dia. Com 23 kg, Odin não é um peso leve. E não gosta de sair do lar de idosos.
“Ele é inteligente o suficiente para saber quando é altura de ir embora, por isso, foge de mim”, explica o tutor.“Tenho que encontrar formas diferentes de o enganar para o fazer sair do lar sem luta”, acrescenta.
“Ele parece gostar muito de estar com os residentes e adoro ver os seus rostos iluminarem-se ao verem o Odin.”
“Não é fácil quando alguém tem de sair de casa e ir viver para um centro de cuidados continuados, por isso, qualquer coisa que o Odin possa fazer para lhes dar um pequeno impulso é uma coisa boa.” “Costumo brincar e dizer que ele deveria ser presidente da câmara do lar. É um porquinho muito bom”, conclui.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post