Livro de memórias de Angela Merkel: Trump estava “muito fascinado” com Putin

A antiga chanceler alemã conta que pediu conselhos ao Papa Francisco para saber como lidar com o agora Presidente eleito dos Estados Unidos durante o seu primeiro mandato.

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Angela Merkel revela na sua memória as dificuldades em lidar com Donald Trump HANDOUT / REUTERS
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A ex-chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse ter pedido ao Ppapa Francisco ajuda para conseguir lidar com Donald Trump. No seu livro de memórias Liberdade: Memórias 1954-2021, publicado esta semana, Merkel, num excerto citado pelo The Guardian, revelou que cometeu um erro ao tratar Trump como se fosse alguém "completamente normal" e contando como o agora Presidente-eleito estava "muito fascinado" com Putin.

No seu livro de memórias, Merkel debruça-se sobre vários pontos da sua vida, incluindo os 16 anos em que chefiou o governo alemão, lidando com vários líderes mundiais, incluindo Donald Trump e Vladimir Putin.

De acordo com o livro da ex-chanceler, que teve excertos publicados no jornal alemão Die Zeit, a "perspectiva de promotor imobiliário" exibida por Donald Trump levou Merkel a procurar ajuda sobre como lidar com o Presidente norte-americano com o papa Francisco, numa altura em que os Estados Unidos tinham anunciado a retirada do acordo climático de Paris.

"Sem citar nomes, perguntei-lhe como lidaria com opiniões fundamentalmente diferentes num grupo de personalidades importantes. Compreendeu-me imediatamente e respondeu-me sem rodeios: “Dobre, dobre, dobre, mas certifique-se de que não se parte”, escreveu Merkel, referindo-se a Trump.

Numa visita aos Estados Unidos, em que se encontrou com o Presidente Trump na Casa Branca, Merkel conta que Trump lhe fez várias perguntas sobre a sua relação com o Presidente russo, Vladimir Putin.

"Donald Trump fez-me uma série de perguntas, incluindo sobre as minhas origens na Alemanha de Leste e a minha relação com Putin. É óbvio que ele estava muito fascinado pelo Presidente russo. Nos anos que se seguiram, tive a impressão de que os políticos com características autocráticas e ditatoriais o cativavam", contou.

Vladimir Putin é, no livro, alvo de uma reflexão, centrada especialmente na cimeira de Bucareste em 2008 em que Merkel defendeu que Ucrânia e Geórgia não deveriam aderir à NATO. A ex-chanceler defendeu a sua posição, afirmando que a promessa de que ambos os países iriam juntar-se à Aliança Atlântica seria encarada por Putin como uma agressão.

"O facto de a NATO lhes ter feito uma promessa geral de adesão foi para Putin um sim à adesão à NATO de ambos os países, uma declaração de guerra", defendeu Merkel.

"Num outro contexto, do qual já não me recordo em pormenor, ele (Putin) disse-me mais tarde: 'Não serás chanceler para sempre. E depois eles vão tornar-se membros da NATO. E eu quero evitar isso'. E eu pensei: também não serás Presidente para sempre. No entanto, as minhas preocupações com as futuras tensões com a Rússia não tinham diminuído", escreveu.

"O euro era mais do que uma moeda"

No livro, Portugal, assim como Itália, Grécia e Espanha, foram mencionados no contexto da crise económica que começou em 2008 e da resposta feita através de medidas de austeridade defendida pelo seu Governo durante esse tempo.

"Haverá sempre a questão de saber se eu deveria simplesmente ter cedido e desistido de todas as exigências de duras medidas de austeridade e reformas económicas na Grécia, Portugal, Espanha e Itália. A minha reputação nestes países foi completamente arruinada", conta Merkel.

"Continuei a trabalhar para que a Grécia continuasse a ser membro da zona euro", diz Merkel, referindo-se ao caso específico deste país, que viu o crescimento de uma elevada oposição interna às medidas de austeridade.

Para Merkel, "o euro era mais do que apenas uma moeda, simbolizava a irreversibilidade do processo de unificação europeia, e a Grécia fez parte de tudo isto".

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