Nova Almirante Reis terá mais árvores, ciclovias e não terá separador central
Carros terão duas vias entre Martim Moniz e Alameda. Plano resulta da participação pública e primeira fase será concluída em 2028. “Vamos mudar a avenida sem radicalismos, sem fricções”, diz Moedas.
“Esta é a uma nova [Avenida] Almirante Reis que é fruto da participação das pessoas. Será feita de forma gradual e sem radicalismos”, anunciou o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (Novos Tempos), na apresentação do plano de requalificação de uma das mais importantes avenidas da capital, na manhã desta terça-feira. “Este é um projecto bem pensado, trabalhado como nunca foi feito. Não é só com as ideias que mudamos o mundo, é com o detalhe. E este projecto foi pensado ao detalhe, ouvindo toda a gente, sem divisionismos, sem fricções”, disse.
Segundo os planos da câmara, no final de 2028 ou princípio de 2029, as obras em grande parte dos quase três quilómetros da Avenida Almirante Reis estarão terminadas. Quando isso acontecer, surgirá um cenário bastante diferente do existente, com o eixo entre as praças do Martim Moniz e do Areeiro a ser pautado pela existência de muito mais árvores e espaços verdes, um espaço muito mais largo e confortável para os peões e ciclovias mais seguras e completamente segregadas do tráfego automóvel. Este passar-se-á a fazer em vias que privilegiarão o sentido ascendente, para retirar a pressão do trânsito do centro da capital.
Assim, entre o Martim Moniz e a Praça do Chile, os carros passarão a circular em duas vias, enquanto no sentido inverso fá-lo-ão apenas através de uma. Essa constitui a primeira fase do projecto, a terminar no final de 2028. O mesmo acontecerá dali até à Alameda. Desta até ao Areeiro, existirão duas vias para cada lado. Para que tudo isto aconteça, ao longo da avenida serão retirados tanto o separador central como a ciclovia actualmente existentes. A intervenção da Praça do Chile ao Areeiro está prevista para uma segunda fase.
Orçado em mais de 20 milhões de euros, o projecto, que resulta do “mais alargado processo de consulta pública alguma vez feito na cidade”, segundo Moedas, começará a ser concretizado, de forma faseada, em 2027. Mas o presidente da autarquia promete tudo fazer para conseguir que as obras se iniciem ainda em 2026. Aludindo à acesa discussão tida nas últimas eleições autárquicas em torno da ciclovia daquela avenida, construída pelo seu antecessor, Fernando Medina (PS), Moedas fez questão de sublinhar o que vê como uma solução mais equilibrada para a zona no âmbito do projecto agora apresentado.
“Como havíamos prometido, vamos retirar a ciclovia que ali foi colocada. Mas vamos fazê-lo ouvindo as pessoas que ali vivem e trabalham. A Almirante Reis não podia ficar como estava, era preciso uma alternativa, sem imposições partidárias e sem precipitações”, afirmou, sublinhando outro aspecto: o plano não retirará a possibilidade de as pessoas se deslocarem de automóvel naquela área nem reduzirá o número de lugares de estacionamento – na verdade, até os aumentará, distribuindo os carros por parques subterrâneos e lugares nas laterais.
Do processo de consulta da comunidade, resulta o que será construído na segunda metade da presente década e que mudará de forma substancial aquela parte da cidade. Os passeios passarão a ser muito mais largos e confortáveis e haverá lugar a muito mais espaços verdes. Somando as duas componentes, observar-se-á um aumento de cerca de 24% da área: dos actuais pouco mais de 25 mil metros quadrados passar-se-á para mais de 31 mil metros quadrados.
Mais árvores
Haverá também lugar a um aumento de 25% do número de árvores, passando-se dos actuais 295 exemplares para os 370. Verificar-se-á um aumento de 16% no canal ciclável, com a criação de vias de direcção única entre o Martim Moniz e a Praça do Chile e de uma ciclovia bidireccional entre a Praça do Chile e a Praça do Areeiro. O plano prevê também uma duplicação da iluminação pública, passando-se dos actuais 230 candeeiros para os 460.
As principais mudanças da Avenida Almirante Reis
Estas alterações, tal como assinala Joana Almeida (PSD), a vereadora do Urbanismo, resulta de um “trabalho minucioso” de todas as características, dificuldades e necessidades do território e da imensa comunidade que dá vida à Almirante Reis, que envolveu o tal grande processo de participação pública, recebendo cerca de 2500 contribuições de cidadãos e entidades, mas também um diagnóstico feito pelos serviços camarários. Os objectivos anunciados são de que a Avenida Almirante Reis tenha mais árvores e espaços verdes e menos área betuminosa, mais facilidade de circulação pedonal, de bicicleta, transportes públicos e automóvel, ou seja, um lugar muito mais aprazível do que tem sido.
E isso, notaram tanto Moedas e Almeida, como o vice-presidente, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), responsável pelo pelouro da mobilidade, não será difícil de imaginar, tendo em conta o estado actual da mais comprida avenida de Lisboa. “Esta avenida tem estado ao abandono. Depois da intervenção, vai ficar como nunca viram. E isso resulta de um trabalho difícil, após uma discussão que bipolarizou as pessoas”, disse Moedas, em referência à discussão em torno da sua promessa eleitoral de acabar com a ciclovia, criada em 2020, durante a presidência de Medina na autarquia. “Acabar com essa fricção já é uma grande vitória. Esta é uma avenida estrutural para a cidade, não é uma avenida qualquer”, afirma.
E esse lugar de relevo, assinalam os responsáveis máximos pela gestão autárquica da cidade, tem que ver não apenas com o peso simbólico da avenida e o lugar central que ocupa no território, mas também com a importância que esta artéria desempenha na mobilidade da capital. Isso mesmo foi assinalado por Anacoreta Correia, para quem o plano tem essa mais-valia de conjugar a “identidade da avenida com a sua manutenção como eixo estruturante da mobilidade”. Dimensão que, assinala o vereador com a tutela deste sector, até foi reforçada. “Este plano está muito ligado à nossa visão da mobilidade, não apenas para aquela zona, mas para toda a cidade. E, aliás, conjugar-se-á na perfeição com o plano de mobilidade para a zona da Baixa e do Chiado que estamos a preparar e apresentaremos no próximo ano”, disse.
Tal preocupação com a manutenção da facilidade de circulação automóvel, cumprindo o tal anseio de Moedas de não cedência a “radicalismos”, levou assim a que os projectistas tenham desenhado uma solução que, cumprindo os objectivos de aumentar o espaço pedonal e a área verde, mantivesse o “desempenho rodoviário”. Na verdade, e se comparada com a situação actual, até a melhora. É que, se é verdade que, no sentido descendente, entre a Alameda Dom Afonso Henriques e a praça do Martim Moniz, se manterá apenas uma via reservada aos automóveis, a oferta duplica no sentido ascendente, sendo uma delas uma faixa BUS. E da Alameda ao Areeiro, garante-se a existência de duas vias para cada lado.
Ora, tudo isto se consegue através de um trabalho de projecto “com detalhe, feito metro a metro”, assinala Joana Almeida, lembrando aquele que, entre os muitos desafios colocados pela Avenida Almirante Reis, se constitui como o maior de todos: a sua escassa largura, 25 metros, quando comparada com outras duas avenidas, a da Liberdade (90 metros) e da República (70 metros). “Há muito menos espaço. Tendo em conta os nossos objectivos para este plano, isso torna-se um grande desafio”, explicou a vereadora do Urbanismo, lembrando também a intenção de transformar a avenida num “novo passeio verde da cidade”, ligando a futura nova Praça do Martim Moniz, onde a preocupação com a mancha vegetal será uma das suas marcas, ao Parque do Vale da Montanha, a situado acima da Praça do Areeiro. O transplante para a Alameda de 65 árvores da avenida dará origem ao novo “Parque das Tílias da Alameda Afonso Henriques”.
Tendo em conta as limitações inerentes a este canal estreito, “desafiante e complexo”, como o qualificou Joana Almeida, conjugadas com tão ambicioso caderno de encargos, o espaço para executar o projecto será encontrado sobretudo de duas maneiras: suprimindo o separador central, por um lado, e acabando com parte do estacionamento ao longo da avenida, por outro. Mas, como se disse, tal não redundará numa diminuição da oferta de lugares para estacionar. Pelo contrário. Se os 180 lugares destinados às diversas funções (cargas e descargas, mobilidade reduzida ou privativos) se mantêm, os 170 lugares tarifados são transferidos. Na verdade, propõe-se a criação de 275 lugares deste tipo ao longo do eixo da Almirante Reis: duas centenas de lugares a criar em parques de estacionamento cobertos existentes na zona e outros 75 nos arruamentos laterais.