Património Mundial “nunca esteve tão ameaçado como hoje”, avisa Comissão Nacional da UNESCO

Pressão turística, declínio humano e económico nos centros históricos e alterações climáticas são ameaças. À volta do Mediterrâneo há 150 sítios de Património Mundial, 37 a meros dez metros do mar.

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A Torre de Belém, o turismo e o risco de estar perto das águas afectadas pelas alterações climáticas Rui Gaudêncio
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O presidente da Comissão Nacional da UNESCO, embaixador José Moraes Cabral, alertou segunda-feira que "nunca o Património Mundial esteve tão ameaçado" como na actualidade e defendeu a criação de novos mecanismos de salvaguarda e prevenção e respectivo financiamento.

Numa cerimónia em Évora, o embaixador lembrou que a Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural, aprovada em 1972 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), é um instrumento "incontornável" na defesa patrimonial.

Mas, "porventura, nunca o património mundial esteve tão ameaçado como hoje", alertou. "A primeira ameaça resulta da descaracterização do bem e da destruição dos seus valores excepcionais", disse o embaixador José Moraes Cabral, ao intervir na cerimónia do 38.º aniversário da classificação pela UNESCO do centro histórico de Évora como Património Mundial.

Na sessão, que contemplou também a entrega da Medalha de Ouro da Cidade ao antigo presidente da Câmara de Évora Abílio Fernandes, o presidente da Comissão Nacional da UNESCO aludiu à "pressão exercida" no património "pela afluência exponencial de visitantes, pela necessidade de redefinir acessos e percursos, pelo vandalismo ou simples incúria, pela progressão urbana ou pura especulação".

A juntar a isso, acrescentou, existe "o declínio económico, social e humano de muitos centros históricos, acarretando a sua deterioração progressiva". Segundo o responsável, "o hiper-aproveitamento de monumentos e outros sítios classificados de uma forma exclusivamente ditada pelo ganho económico" é um dos problemas que enfrenta a preservação patrimonial.

O embaixador aludiu a "outros desafios que têm surgido e ameaçam a conservação e integridade de sítios muito relevantes", como as alterações climáticas, erosão dos terrenos, corrosão ligada às chuvas ácidas, aumento da temperatura e subida do nível do mar.

Em torno do Mediterrâneo, exemplificou, "situam-se 150 sítios classificados como Património Mundial, muitos deles em zonas costeiras, dos quais 37 a escassos dez metros do mar". E as estimativas apontam que, no final do século, esses 37 sítios estejam "sujeitos a inundações recorrentes e 42 outros às consequências destruidoras da erosão costeira".

A pandemia de covid-19, que causou "forte impacto sobre o número de visitantes e as actividades turísticas, educacionais e sociais a que a gestão de património se encontra estritamente ligada", e as guerras e outros conflitos violentos, "que têm sempre consequências nefastas sobre o património e a sua conservação, destruindo monumentos e paisagens", foram as outras ameaças a que aludiu.

Para o presidente da Comissão Nacional da UNESCO, "é urgente a criação de novos mecanismos de salvaguarda e de prevenção" e "a aplicação das novas recomendações" adoptadas que reforçam a convenção de 1972, que incluem "formas sustentadas de financiamento das operações de protecção, de conservação e de restauro" ou "o reforço do sentido da apropriação por parte da sociedade".

A atribuição do título de Património Mundial ao centro histórico de Évora foi concretizada no dia 25 de Novembro de 1986, durante a gestão do antigo autarca Abílio Fernandes, que foi presidente do município durante 25 anos, entre 1976 e 2001.