Tenho 16 anos e sou gago. Eis o que a maioria das pessoas não compreende
Depoimento de Andrew Flint, estudante de 16 anos, sobre gaguez e terapia de fala. “Quando alguém gagueja, podes ter vontade de evitar o contacto visual ou dizer palavras por essa pessoa. Não o faças.”
A gaguez não é o que a maioria das pessoas pensa que é. Não se trata apenas de ficar bloqueado nas palavras ou de ter dificuldade em dizer uma frase. Há uma parte oculta. Uma boa analogia é um icebergue. A parte de cima que sobressai da água sou eu a tropeçar nas palavras, e o que está por baixo são as emoções turbulentas que sinto quando gaguejo.
Na minha família, há três pessoas que gaguejam: o meu pai, a minha tia materna e eu. Eu tenho 16 anos.
Para se perceber realmente o que significa gaguejar, vou descrever a minha experiência.
Estou à frente de uma sala de aula do oitavo ano, cheia de pessoas que conheço desde sempre. Eles sabem que eu gaguejo, mas isso não torna este debate na aula de História mais fácil. Estou a apresentar a parte final do que aprendi este ano sobre o Supremo Tribunal norte-americano. Os factos são simples e eu conheço-os bem, mas não me sinto calmo porque só o facto de saber os factos não me pode ajudar aqui.
Começo a falar e toda a gente se cala. Os olhos de 20 pessoas que conheço tão bem estão postos em mim e sinto um aperto na garganta. O meu coração bate mais depressa e sinto o meu peito a aquecer. Digo a minha frase com grande dificuldade. O ritmo da minha fala é muito rápido, mas como estou a gaguejar muito, as palavras saem dolorosamente devagar. Os um ou dois minutos que levo parecem uma eternidade. Sinto-me cheio de medo, raiva e culpa.
Enquanto estou a falar, a minha mente está noutro lugar. Devia estar concentrado no que estou a dizer, mas não consigo. A minha mente está a pensar que os meus colegas vão pensar mal de mim depois disto.
A única voz que ouço dentro de mim é a que grita: “Devias ter vergonha da tua gaguez!” e “Ninguém gagueja a não ser tu!”.
Na realidade, devia sentir-me orgulhoso porque este debate não é fácil, mas não me sinto assim. À medida que o debate avança e a minha vez termina, fico a pensar no que acabou de acontecer. Fico a pensar se mais alguém se apercebe da coragem que é preciso ter para fazer o que acabei de fazer — falar, desafiar a gaguez. Mas sei que não sabem. Não podem. E essa é a pior parte.
Um ano depois, os meus pais inscreveram-me num programa de terapia da fala. Voltei a aprender a falar. Foi um processo difícil que exigiu paciência e disciplina. Uma das actividades que fiz neste programa foi dirigir-me a um estranho num parque e perguntar-lhe o que sabia sobre gaguez. Para uma pessoa que não gagueje, isto poderia parecer um pouco stressante, mas para mim foi aterrador. Eu caminhava até a pessoa enquanto a minha mente pensava em todas as coisas más que esse estranho poderia dizer: talvez me dissesse para me ir embora, ou que não queria falar com uma pessoa que gagueja, ou talvez gozasse comigo.
Eu aproximo-me e digo: “Olá, o meu nome é Andrew Flint e eu gaguejo. Tenho estado a trabalhar a minha fala na terapia da fala. Posso fazer-vos quatro perguntas sobre a gaguez?”
Para meu alívio, disseram-me que sim. Perguntei-lhes o que achavam que era a causa da gaguez, se se sentiam desconfortáveis ou embaraçados ao falar com uma pessoa que gaguejava, se conheciam alguém que gaguejava e o que achavam que alguém devia fazer para ultrapassar a sua gaguez. Esta interacção correu na perfeição. Não foi nada parecido com o que eu temia.
Mesmo assim, eu tinha muito medo da próxima. O medo nunca desaparece completamente.
Todos os dias são dias bons ou maus para a minha fala. Nalguns dias, gaguejo mais. Isto está fora do meu controlo.
A causa da gaguez não é conhecida, mas a maior parte dos investigadores concorda que existe uma componente neurológica, bem como uma componente genética, uma vez que tende a ocorrer em famílias.
Quando alguém gagueja, podes ter vontade de evitar o contacto visual ou de dizer palavras por essa pessoa. Não faças isso. Pode ser tentador avançar com a conversa dizendo a palavra em que a pessoa está a gaguejar, mas isso só vai reforçar a ideia de que o que ela está a fazer é anormal, o que ela não precisa de sentir.
No ano passado, quando entrei na minha aula de História do 10.º ano, percebi que o meu discurso não ia ser bom. A minha aula de História envolvia discussões frequentes e eu sabia que iria gaguejar muito nessa aula. Quando leio em voz alta, escolho sempre o parágrafo mais curto e tenho em atenção o som inicial. A letra “s” é particularmente difícil para mim.
Enquanto lia o parágrafo, ficava preso em algumas palavras, mas conseguia dizê-las e continuar a falar. Até que me deparei com uma palavra que não conseguia dizer fluentemente: Massachusetts. Gaguejei muito; parei de falar, depois comecei outra vez, mas não ajudou. Passados minutos, provavelmente apenas 20 segundos, um colega de turma sussurrou a palavra.
Pensei: “Será que eles pensam que eu não sei pronunciar esta palavra?” Apercebi-me que as pessoas não sabem assim tanto sobre a gaguez, mesmo os colegas que conheço há anos. Por fim, consegui soltar-me e acabei o parágrafo. Fiquei zangado e aborrecido com o colega — até perceber que ele só estava a tentar ajudar.
Estou agora no 11.º ano e deparei-me com uma gravação da minha terapia da fala em que eu lia uma passagem. Há dois anos, demorei 2 minutos e 34 segundos a ler 129 palavras. Estava a gaguejar muito. Quando reli a passagem recentemente, demorei apenas 43 segundos. Isto é uma grande melhoria e eu sinto-me bem com o meu crescimento.
Eu aprendi que a gaguez é uma parte de quem eu sou. Os meus amigos e família aceitaram-me, independentemente da minha fala. Ajudaram-me a enfrentar o meu medo e eu percorri um longo caminho na minha jornada de gaguez.