Nova colecção do PÚBLICO homenageia protagonistas visuais do 25 de Abril

Homenagem aos protagonistas visuais do 25 de Abril de 1974 na base da nova colecção do PÚBLICO em parceria com a editora A Bela e o Monstro.

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Onde estavas no 25 de Abril? Do que te lembras? Ainda não tinhas nascido? Que memórias fabricadas tens do 25 de Abril? Que vivências tens de uma liberdade conquistada por soldados, militares, populares e registada por fotógrafos e jornalistas, que viveram esses dias quentes da Revolução? Perdoe o leitor a coloquialidade, mas as perguntas são legítimas, para quem tem hoje entre os 20 e os 40 anos.

Afinal, a memória visual constitui uma grande parte da nossa memória. Para muitos, a Revolução é uma narrativa absorvida através de relatos familiares, imagens históricas e filmes que moldam a visão de um acontecimento distante no tempo, mas próxima no imaginário. É curioso pensar que, mesmo sem ter vivido aqueles dias, muitos de nós carregam fragmentos de memórias “emprestadas”: o povo na rua e os cravos vermelhos nas armas.

Foram estas memórias colectivas, registadas na primeira, segunda ou terceira pessoa, que inspiraram a editora A Bela e o Monstro a recriar uma colecção que aproximasse gerações, homenageando os protagonistas visuais do 25 de Abril e continuando as comemorações dos 50 anos. 25 de Abril: Os Dias da Revolução é, então, a nova colecção do PÚBLICO, em parceria com a referida editora, um conjunto de livros e foto-livros em versão fac-símile, que, além do significado do seu conteúdo individualmente, no seu conjunto são uma oportunidade única de construir e preservar a nossa memória visual. A maioria das obras encontra-se esgotada ou fora do mercado.

São livros que “andam, literalmente, aos pontapés”, escreve Pedro Piedade Marques no seu blogue Montag. Podem ser encontrados em feiras de velharias, no chão ou em cantos esquecidos, nalguns casos ao preço da chuva. Continua: “essa circunstância reflecte, creio, a sua quase invisibilidade e o seu pouco valor na (ainda incipiente, é certo) historiografia da edição e do design editorial destes últimos quarenta anos: desprovidos, na sua maioria, de uma marca autoral forte (ou de um designer de ‘nome’ da ficha técnica), foram projectos montados ‘a quente’ nos meses que se seguiram à Revolução de Abril de 1974, ou durante os três anos seguintes”. Na urgência do momento de deixar registado tudo o que aconteceu.

Uma jornada de liberdade

“Atingiu-se aí o ponto mais alto de vibração colectiva. Depois vem a construção diária/difícil da vida nova que se conquistou. Com regressões e desencantamentos. É nessa altura que me parece importante este livro dos camaradas da fotografia. É que, mais do que um documento histórico, ele é o testemunho do que quiseram os que forçaram a História no 25 de Abril. Este livro foi feito com os que fizeram o 25 de Abril de Portugal: soldados e povo.” São as palavras de Adelino Gomes a abrir o primeiro volume da colecção, Portugal Livre: 20 fotógrafos da imprensa contam tudo sobre a Revolução das Flores. A ideia de testemunho, de registo, é, na verdade, transversal a todos os volumes. Une-os uma tentativa não de análise nem comentário político, mas sim uma organização de factos e depoimentos, recolhidos sobretudo através de fotos, mas também de entrevistas com intervenientes.

Publicado em Junho de 1974, no rescaldo da Revolução, Portugal Livre: 20 fotógrafos da imprensa contam tudo sobre a Revolução das Flores é, certamente, um dos melhores exemplos deste tipo de livros, dando o mote para os restantes. É uma edição d’O Século, uma espécie de “número especial”, e prima pela qualidade das fotos que o preenchem, bem como o cuidado dedicado ao design da capa. Os nomes da ficha técnica são um rol da fina nata do jornalismo e fotojornalismo da época: falamos de textos de Adelino Gomes, como já mencionado, e Fernando Assis Pacheco, e de fotos de Eduardo Gageiro, Alfredo Cunha, Carlos Gil, Inácio Ludgero, entre outros.

Um álbum inteiro de fotografias, feito de efémero, nas palavras de Fernando Assis Pacheco. Com “rostos que são jubilosos até à perda da lucidez, crispados até à incredulidade”, escreve. “O mais belo flagrante delito da nossa vida fica registado nestas páginas, e não creio que o futuro venha a olhá-las distraidamente. Quem éramos, por onde andávamos no Abril da libertação? O que dissemos, por vezes mudos? Está tudo aqui”. “Um dia, quando já não subsistir nenhum protagonista da aventura espantosa, gente para cujo dia-a-dia diferente trabalhámos todos, muitos de nós todos, enfim, lerão nestas fotografias o relato verídico (juro eu, que vi!) de como açaimámos 48 anos de miséria.”

Para ver, reler e guardar, com o seu jornal, todos os dias 25 de cada mês.

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