Governo de Israel anuncia corte de anúncios no diário Haaretz

Não era claro o que significava o “corte de contacto” entre instituições do Governo e o jornal de esquerda aprovada pelo executivo.

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O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, aqui numa sessão parlamentar de 18 de Novembro ABIR SULTAN / EPA
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O Governo de Benjamin Netanyahu aprovou uma proposta do ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, para que qualquer organismo financiado pelo Governo comunique com o diário Haaretz ou publique publicidade no jornal diário liberal.

A aprovação neste domingo (o primeiro dia útil da semana) seguiu-se a uma série de declarações do Governo acusando o diário de apoiar inimigos de Israel quando há uma guerra em curso. No texto da aprovação da medida invocavam-se ainda “declarações recentes do publisher do jornal expressando apoio a terrorismo e a pedir sanções contra o Governo”.

Não era ainda claro o que implicava exactamente a decisão – se cortar a publicidade de organismos com financiamento público e a publicação de anúncios do Governo, e ainda as assinaturas feitas por organizações públicas, ou se incluía também um boicote de contactos com a redacção do jornal, segundo escreveu o jornalista do Haaretz Yossi Melman na rede social X (antigo Twitter).

A acção segue uma recente indicação com palavras do publisher do Haaretz, Amos Schocken (neto de Zalman Schocken, um dos fundadores dos armazéns Schocken na Alemanha e que imigrou para a Palestina do mandato britânico depois de o regime nazi lhe ter retirado a cidadania, comprando então o jornal Haaretz, que nunca saiu das mãos da família), numa conferência em Londres no dia 27 de Outubro.

Na conferência, Schocken defendeu uma solução de dois Estados, e disse que para esta concretizar a única maneira seria, na sua opinião, aplicar sanções contra Israel, contra os líderes que se opõem [à criação de um Estado palestiniano], e contra os colonos”.

O publisher do Haaretz também declarou que o Governo de Netanyahu “desvaloriza os custos para ambos os lados ao defender os colonatos enquanto luta contra os combatentes pela liberdade palestinianos, que Israel chama terroristas”.

A classificação dos combatentes como lutando pela liberdade foi polémica até no Haaretz, que se distanciou não só em artigos de opinião como num editorial: “Qualquer organização que defenda o assassínio de mulheres, crianças e idosos é uma organização terrorista, e os seus membros são terroristas. Não são certamente combatentes pela liberdade.”

Schocken disse mais tarde que tinha “reconsiderado” as suas palavras. “Muitos combatentes pela liberdade pelo mundo e ao longo da história, possivelmente até os que lutaram pela criação do Estado de Israel, cometeram actos terríveis de terrorismo, afectando pessoas inocentes para conseguir os seus objectivos”, e por isso “devia ter dito combatentes pela liberdade, que também recorrem a tácticas de terrorismo, que têm de ser combatidas”, já que “o uso de terror não é legítimo”.

O publisher declarou ainda que “no caso do Hamas, não são combatentes pela liberdade, porque a sua ideologia diz basicamente: ‘é tudo nosso, os outros têm de sair’”, e lembrou que “há combatentes pela liberdade que não usam terrorismo, como é o caso de Mahmoud Abbas” e recordou que “talvez por isso, Netanyahu evitou construir uma relação com ele”.

“O meu discurso em Londres concluiu assim: o sionismo ainda é uma ideia justificada para o povo judeu, mas as acções dos sucessivos governos de Israel distorceram o seu significado de um modo que o deixa irreconhecível. Israel tem de voltar ao caminho certo”, disse.

“Desde o início da guerra, o Haaretz tem tido uma posição prejudicial, comprometendo os objectivos da guerra e enfraquecendo tanto os nossos esforços militares como a resiliência social”, estipulava a proposta, citada pelo próprio Haaretz.

O Governo diz que as autoridades estão a analisar se algumas publicações do jornal violaram disposições do código penal a aplicar em tempos de guerra.

A proposta foi apresentada sem um parecer jurídico da procuradora-geral, Gali Baharav-Miara, que se deveria opor.

O advogado especializado em defesa de direitos humanos Michael Sfard disse ao Haaretz que a medida é ilegal. “O orçamento para a publicidade pertence ao público, [os governantes] não podem distribuí-los a seu bel-prazer”, declarou. “Esta é uma tentativa descarada para negar verbas ao Haaretz por razões ideológicas, e nem sequer estão a tentar esconder a ilegalidade.”

Ainda na sequência das palavras de Schocken, o ministro da Justiça, Yariv Levin, enviou uma carta à procuradora-geral pedindo “uma proposta de lei estipulando que acções de cidadãos israelitas para promover ou encorajar sanções contra Israel, os seus líderes, forças de segurança, e cidadãos, constituam uma ofensa criminal que possa ser castigada com até de anos de prisão”, escreveu.

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