O laboratório de design da Stellantis não é só carros: vai da cozinha ao avião
O foco do estúdio está no design de produto, onde a minúcia utilizada nos automóveis se veio a revelar útil, já que a dinâmica de interacção é a mesma, diz o director criativo, Hugo Nightingale.
O que têm em comum os automóveis e as cozinhas? Ou os automóveis e os teleféricos? À primeira vista bem pouco, mas a Stellantis decidiu aproveitar todo o conhecimento das equipas de design do grupo automóvel e criar um estúdio onde trabalham sobretudo para clientes anónimos. Na prática, fazem tudo menos automóveis, mas recorrem aos mesmos princípios, explicou o director do estúdio, Klaus Busse, em conferência de imprensa. “Usamos as linhas simples dos automóveis para simplificar as silhuetas.”
Ou seja, a base criativa é útil para qualquer que seja a finalidade e a premissa de funcionalidade ou conforto que é necessário aos automóveis também. Hugo Nightingale, director criativo do Stellantis Design Studio, usa como exemplo o projecto de um teleférico, que, por enquanto, funcionou apenas como trabalho de inspiração, sem se ter materializado. “É a mobilidade do futuro. A primeira ideia foi compreender o contexto futuro dos consumidores para ajudar a criar”, detalha.
Para materializar a ideia, recorreram ao mesmo sistema de testes que utilizavam os automóveis com realidade aumentada, que permite mimetizar a funcionalidade prática, como os clientes entram e saem do teleférico ou até o nível de conforto. “Temos design de produto, mas também chegamos aos engenheiros que temos dentro do grupo”, lembra Busse.
A minúcia que utilizam para os automóveis veio a revelar-se particularmente útil neste trabalho de design, confessa Hugo Nightingale. “A dinâmica com que interagimos com os automóveis e com o objecto é a mesma. Os carros são muito refinados, olhamos para a forma como tudo abre e fecha. Ainda que seja um produto distinto, o conhecimento ajuda-nos a olhar para tudo de maneira diferente.”
A maioria dos clientes são externos ao grupo, que inclui marcas como a Alfa Romeo, a Citroën, a Fiat, a Peugeot ou a Opel, e nem precisam ser do sector da mobilidade ou da tecnologia — ainda que até já tenham desenhado um avião eléctrico, bancos de passageiros para um avião ou um carro de corridas para a Maserati (que também integra o conglomerado). “Desenhamos toda a identidade de marca, o logótipo e até a identidade da corrida”, diz aos jornalistas, com orgulho, Klaus Busse, que também faz parte da equipa de design interno da Maserati. “Não somos uma agência pequena. Somos parte do universo Stellantis e isso traz vantagens porque temos acesso aos estúdios de design de cada marca.”
Nesse sentido, por exemplo, uniram-se à DS para desenhar as novas cozinhas do Pavillon Ledoyen, um dos restaurantes mais exclusivos de Paris, com três estrelas Michelin. “Só as colaborações é que são anunciadas, mas a maioria dos projectos (70 a 80%) são feitos enquanto marca branca. Ou seja, é o cliente que assina o produto”, detalha Busse.
Desde que abriu, há três anos, o impacto do estúdio será bem mais vasto do que possa parecer, até porque já têm agências em seis localizações: Paris, Turim (Itália), São Paulo (Brasil), Detroit (EUA), Xangai (China) e Casablanca (Marrocos). Como novidade, contrataram recentemente um designer especializado em sustentabilidade. “Acreditamos que os desafios ambientais são o maior desafio das empresas e temos responsabilidade. Desenvolvemos uma ferramenta para compreender como aquele produto será relevante para nos fazer seguir em frente enquanto sociedade. Queremos usar esta oportunidade”, termina o responsável.