Oposição a Mortágua critica participação do Bloco na comemoração do 25 de Novembro
Grupo liderado pelo ex-deputado Pedro Soares diz que Bloco se junta à comemoração, embora de “forma envergonhada”, em nome da “proximidade e ansiadas alianças ao centro”.
O movimento de oposição à actual direcção do Bloco de Esquerda, encabeçado na última convenção pelo ex-deputado Pedro Soares, discorda da participação do partido, ainda que apenas com uma deputada, na sessão comemorativa do 25 de Novembro, que se realiza no Parlamento na próxima segunda-feira.
Não se sabe ainda quem será a deputada - se a líder Mariana Mortágua, se a ex-eurodeputada e antiga candidata presidencial Marisa Matias ou se a parlamentar Joana Mortágua -, mas os críticos da liderança consideram que "não haverá discurso que consiga esconder o significado público da participação naquele acto que toda a direita e extrema-direita quer que seja equiparável ao do 25 de Abril. Na quarta-feira, quando anunciou como seria a participação da bancada do Bloco na sessão solene do 25 de Novembro, o líder parlamentar Fabian Figueiredo disse que a intervenção "se resumirá a denunciar a operação de desvalorização do 25 de Abril, data fundadora da liberdade e da democracia".
Num comunicado sob o título "O 25 de Novembro bloqueou a revolução que trouxe a democracia – participação na comemoração é uma farsa" divulgado neste sábado, a Moção E à Mesa Nacional do Bloco de Esquerda recorda que "o 25 de Novembro foi preparado e dirigido pelo PS com o PPD e o CDS, aliados aos bombistas e sob o patrocínio da CIA e do activo embaixador dos EUA em Portugal, Frank Carlucci, com o apoio dos governos alemão e francês".
Os críticos atiram também ao dirigente e fundador do Bloco Luís Fazenda por causa de um artigo que escreveu há um ano: "É uma ideia peregrina alguém dizer que se tratou apenas de um golpe 'intramilitar da direita', sem 'consequências imediatas na estrutura do poder político' [como Fazenda defendeu há um ano], com o argumento de que a Constituição acabou por ser mais tarde aprovada como garante da democracia."
Esta argumentação, salientam os críticos, "talvez sirva, apenas, para justificar a participação do Bloco na comemoração do 25 de Novembro no Parlamento, ajudando a minimizar o carácter reaccionário do golpe como pretende o centro político".
"O Bloco, em vez de marcar o campo que se opõe e resiste a essa ofensiva ['ideológica das direitas neoliberais e fascizantes'], adapta-se, em nome da proximidade e de ansiadas alianças com o centro, ao aceitar a comemoração do 25 de Novembro juntando-se a ela mesmo que de forma envergonhada", apontam os críticos. O PCP, que tal como o Bloco de Esquerda votou contra a comemoração da data no Parlamento, anunciou que não vai participar na cerimónia. É a primeira vez que se realiza a sessão solene, depois de ter sido aprovada uma deliberação proposta pelo CDS-PP, que institui a comemoração anual, como acontece com o 25 de Abril.
O texto recorda que "o golpe militar do 25 de Novembro acontece já depois da realização de eleições para a Assembleia Constituinte, em Abril de 1975, condição primeira para a realização de eleições legislativas a breve prazo", e que representou "um compromisso entre a legitimidade revolucionária e a parlamentar".
"Os vencedores do golpe quiseram alterar as regras do jogo, retirar da equação democrática a legitimidade da iniciativa popular e revolucionária. Quiseram impor o seu próprio dicktat hierárquico nas Forças Armadas para anular a aliança essencial com o movimento popular no processo revolucionário", continuam os críticos.
Relembram que foram presos 118 militares, saneados da RTP e da Emissora Nacional 82 pessoas e demitidas as administrações e direcções da imprensa pública, "substituídas por gente do PS e do PPD ou militares ligados ao golpe". "Começa a reversão de conquistas populares e a destruição de muitas experiências de gestão popular", acrescenta-se.