Sem incidentes, ruas do Porto receberam manifestações anti-imigração e anti-racismo

Ventura insistiu na sua retórica da ligação entre imigração e insegurança. Associações pela inclusão juntaram manifestantes de diversas causas, desde a defesa dos imigrantes até à habitação.

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André Ventura discursou este sábado nos Aliados, no final da manifestação contra a imigração ESTELA SILVA / LUSA
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Sem encontros inusitados nem incidentes, duas manifestações contra o racismo e contra a imigração encheram diversas ruas do Porto neste sábado à tarde e terminaram a cerca de 600 metros de distância entre si, uma nos Aliados, outra na Batalha. De um lado, bandeiras de vários países e de associações anti-racismo, cartazes improvisados e faixas com palavras de ordem contra a discriminação, o fascismo e o racismo; do outro essencialmente bandeiras de Portugal e do Chega, mas também cartazes contra a imigração ilegal e gritos de "Portugal é nosso".

A manifestação do Chega no Porto fora anunciada em meados de Outubro e depressa diversos movimentos e associações começaram a desenhar uma contramanifestação, como, aliás, tem acontecido em Lisboa. Ao apelo responderam pelo menos 28 organizações antifascistas, anti-racistas, feministas, de apoios a imigrantes, da comunidade LGBTIQA+, em defesa da habitação, e apoiantes da causa palestiniana.

As duas organizações escolheram locais simbólicos da cidade para o início e o fim dos seus desfiles. O Chega partiu da Praça Marquês do Pombal, passou pelas ruas de Santa Catarina e Passos Manuel e desaguou na Avenida dos Aliados, onde André Ventura subiu a um palco para discursar. A sua chegada ao local de partida com quase uma hora de atraso fez com que o desfile durasse depois pouco mais de meia hora.

Aproximadamente o mesmo tempo demorou a marcha anti-racista que começou no Campo 24 de Agosto (a praça que homenageia a revolução liberal de 1820) e foi até à Praça da Batalha. Ouviram-se muitas palavras de ordem, com referências a Abril, de condenação do racismo e fascismo, pedindo habitação para todos e o regresso da manifestação de interesse, que o actual Governo suspendeu em Junho, travando a entrada de imigrantes. Terminou com música e a intervenção de representantes de algumas das associações.

De acordo com as televisões, estima-se que tenham participado, em ambas, várias centenas de pessoas, apesar de André Ventura ter cantado logo vitória em relação ao número de participantes assim que chegou à concentração do Chega. "Hoje a nossa parte ganhou", disse, sem, no entanto, saber precisar números. A organização afirmou à Lusa que eram esperadas cerca de 900 pessoas e que parte delas viajaram em seis autocarros (cerca de 300 pessoas) que partiram de Lisboa, Setúbal, Faro, Leiria, Braga e Vila Real. Já a PSP disse à agência Lusa que na manifestação antifascista terão participado 700 pessoas.

À chegada, Ventura assinalou ser a primeira vez que se organiza uma manifestação no Porto "para exigir controlo e redução da imigração". Citou o presidente da câmara, Rui Moreira, para dizer que a cidade tem sido "invadida por fenómenos de insegurança extrema no centro histórico", factos que a PSP tem desmentido. E insistiu na sua interpretação das estatísticas para ligar imigração e criminalidade, salientando que 10% dos residentes em Portugal são imigrantes e que, segundo o RASI, 30% dos detidos são estrangeiros e 20% da população prisional também.

Joana Bernardes, do movimento Estudantes pela Defesa da Palestina, participante na manifestação anti-racismo, afirmou à CNN Portugal que "a real insegurança é a perpetuação e o incitamento ao ódio" feito nas ruas pela manifestação do Chega, que considerou um "grupo fascista, racista, xenófobo e homofóbico".

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