Rokia Traoré, presa em Itália desde Junho, vai ser extraditada para a Bélgica

A cantora maliana, uma das maiores representantes da música do seu país, mantém um longo braço de ferro judicial pela custódia da filha com o ex-companheiro, o dramaturgo belga Jan Goossens.

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Rokia Traoré passou pelo FMM Sines em 2008 Enric Vives-Rubio
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Rokia Traoré, um dos grandes nomes da música maliana, será deportada em breve para a Bélgica. Detida em Roma desde Junho, no âmbito de um processo de custódia parental que corre nos tribunais belgas, a cantora de Né So viu recusado o recurso interposto no Supremo Tribunal italiano, anunciou esta quarta-feira a sua advogada. Será transferida para a Bélgica nos próximos dias.

Detida no aeroporto de Fiumicino, em Roma, no dia 20 de Junho, quando aterrava na capital italiana para um concerto no exterior do Coliseu, Rokia Traoré enfrentará agora, novamente, a justiça belga. Em Outubro de 2023, fora condenada a dois anos de prisão por incumprimento da ordem, determinada judicialmente, de entrega da sua filha, actualmente com nove anos, ao pai, Jan Goossens, dramaturgo e director artístico belga. Três anos antes, fora detida em França, em cumprimento do mesmo mandato europeu de prisão emitido pelas autoridades judiciais belgas, tendo então iniciado uma greve de fome em protesto contra sua detenção.

Recolhendo o apoio público de músicos como Salif Keïta, Youssou N’Dour, Angélique Kidjo ou Damon Albarn, acabaria por ser libertada, conseguindo regressar ao Mali, onde vive com a filha, num voo privado, de forma a contornar a obrigação de se manter em território francês até ao final do processo de extradição para a Bélgica.

Vocalista e guitarrista celebrizada por música que cruza habilmente as tradições do seu país, e instrumentos dessa tradição, como o ngoni e o balafon, e expressões musicais como o jazz, a pop ou o rock, Rokia Traoré distingue-se também na luta pelos direitos da mulher e contra todo o tipo de desigualdades. Em 2016, foi nomeada embaixadora da Boa Vontade pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

A batalha legal pela custódia da sua filha com Goossens prolonga-se no tempo. Tudo começou com a decisão do tribunal de primeira instância de Bruxelas de confiar a guarda exclusiva ao pai, veredicto contestado por Rokia Traoré, que acusa o antigo companheiro de ter abusado sexualmente da filha, tendo apresentado uma queixa formal às autoridades no Mali e em França. Quando da prisão em França, há quatro anos, Jan Goossens afirmava que a acusação faz parte de uma ofensiva mediática para lhe destruir a reputação.

Agora, em declarações à Reuters, a advogada da cantora, Maddalena Del Re, classifica a decisão de extradição de Itália como uma “injustiça”. Rokia Traoré “foi detida sem ter sido ouvida pelo tribunal penal belga”, acusa. Do lado de Goossens, o advogado Sven Mary acusa Traoré de ignorar a justiça belga e as suas sentenças, no sentido de “tentar restabelecer o equilíbrio entre mãe e pai”. O advogado afirma que Traoré assumiu a “guarda exclusiva” da filha à revelia do pai e da justiça belga. “Há mais de cinco anos e meio que nega à filha o contacto com o pai e com toda a sua família”, acusa.

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