A cada minuto, dois turistas brasileiros pousam em Portugal. Empresários agradecem

De janeiro a agosto deste ano, foram 721.800 visitantes oriundos do Brasil. Eles têm sido fundamentais para assegurar o faturamento das empresas ligadas ao ramo de turismo.

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Vista de Azenhas do Mar, que fica em Sintra: visual de tirar o fôlego para turistas brasileiros Vicente Nunes
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Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.

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Portugal está — e muito — na moda entre os brasileiros. Dados da empresa VisitPortugal apontam que, a cada minuto, dois turistas brasileiros entraram em território luso entre janeiro e agosto deste ano. Foram exatos 721.800 visitantes, número ligeiramente inferior ao registrado no mesmo período do ano passado (728.992), o que pode ser explicado, em parte, pela suspensão de voos saindo de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, estado que foi devastado pelas enchentes. O aeroporto local continua fechado.

Empresários que têm no turismo parcela importante do faturamento de seus negócios dizem que os brasileiros têm sido fundamentais para o incremento das receitas. Andrea Zamorano ressalta que, na hamburgueria Café do Rio, três em cada 10 clientes têm origem do Brasil. No barco de propriedade dela que faz passeios pelo rio Tejo, os turistas brasileiros e norte-americanos são maioria. “Temos visto cada vez mais brasileiros circulando por Lisboa, por Portugal como um todo, e há uma série de justificativas para isso”, afirma.

A primeira, é a facilidade da língua. “Apesar de haver algumas diferenças entre o português falado no Brasil e o português de Portugal, a comunicação é muito simples. Temos de lembrar que a maioria dos brasileiros não fala outra língua, e isso vale até para pessoas ricas, que viajam com frequência”, ressalta. “Há, ainda, uma relação histórica entre Brasil e Portugal e uma relação afetiva dos brasileiros com os portugueses. São muitas as pessoas no Brasil que têm familiares em Portugal. E, agora, muitos conhecidos vivendo no país”, acrescenta.

Vista noturna do Porto Vicente Nunes
Extremoz, no Alentejo Vicente Nunes
Azenhas do Mar, Sintra Vicente Nunes
Igreja em Arraiolos, no Alentejo Vicente Nunes
Óbidos Vicente Nunes
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Vista noturna do Porto Vicente Nunes

Dono da rede de restaurantes Palaphita, Mário de Andrade também reconhece o fascínio dos brasileiros por Portugal. Na avaliação dele, a imagem de país pobre, da periferia da Europa, ficou para trás. Desde a entrada na União Europeia, em 1986, houve uma modernização da infraestrutura, as boas redes de hotéis se proliferaram pelo território luso, a gastronomia ganhou fama e, o principal, a segurança encantou os brasileiros. Como alardeia o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, Portugal é o sétimo país mais seguro do mundo.

“Essa questão da segurança é vital para o turismo”, destaca Andrade. Ele chama a atenção ainda para o gosto dos brasileiros por viajar de carro. “E Portugal tem estradas muito boas”, frisa. “É preciso dizer outra coisa: viajar pelo Brasil está caro. O preço de uma passagem de Fortaleza, no Ceará, para São Paulo, dependendo do período, pode ser o mesmo de um voo para a Europa”, exemplifica. Ele diz, ainda, que a unidade do Palaphita no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, tem se beneficiado do fluxo de brasileiros para Portugal. O Rio, complementa o empresário, tornou-se um hub de voos para o outro lado do Atlântico.

Euro acima de R$ 6 não intimida

Especialista em finanças pessoais, o professor Marcelo de Souza Sobreira, da HB Escola de Negócios, assinala que nem mesmo o câmbio — 1 euro vale R$ 6,20 — tem sido um empecilho para que os brasileiros façam turismo em Portugal. “Pessoas da classe média que tinham planejado gastar 2 mil euros (R$ 12,4 mil) numa viagem, vão limitar o orçamento a 1,8 mil euros (R$ 11,2 mil), mas não deixarão de fazer o passeio que foi planejado com antecedência”, afirma. “No caso das pessoas de alta renda, que estão acostumadas a viajar três, quatro vezes por ano para o exterior, o câmbio não faz a menor diferença”, emenda.

Amarante Vicente Nunes
Évora Vicente Nunes
Alter do Chão, no Alentejo Vicente Nunes
Crato, no Alentejo Vicente Nunes
Foz do Arelho, Caldas da Rainha Vicente Nunes
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Amarante Vicente Nunes

Olhando para o Brasil, o professor lista fatores que estimulam as viagens para Portugal: a taxa de desemprego está em queda e é a menor desde 2014; a economia vem crescendo a um ritmo de 3% ao ano; a renda do trabalho é a maior da história; as altas taxas de juros garantem ótimo retorno para aqueles que têm dinheiro aplicado; e há o turismo reprimido por causa da pandemia do novo coronavírus. “Tudo isso junto mantém o ânimo dos viajantes”, reforça. Para Sobreira, o perfil dos turistas brasileiros que estão aportando em território luso se divide em dois blocos, o da classe média, que prefere reduzir os gastos e manter as viagens diante da oscilação cambial, e o da classe alta, que tem investimentos em moeda forte — euro ou dólar.

Segundo o professor, todos esses fatores se somam à vantagem de Portugal ter um clima menos frio do que os demais países da Europa. “E, mesmo no inverno, os dias são ensolarados, o que atrai os turistas”, ressalta. Andrea Zamorano assegura que, mesmo com o euro bastante valorizado ante o real, quando se faz a conversão, percebe-se que os preços de restaurantes em Portugal, para quem está fazendo turismo, são muito parecidos com os do Brasil, e há vários estabelecimentos mais baratos. “Também o supermercado é mais em conta em Portugal do que no Brasil”, enfatiza ela, que, neste momento, está no Rio de Janeiro.

Tanto Andrea quanto Mário de Andrade acreditam que o número de turistas brasileiros para Portugal vai crescer nos próximos anos — em 2023, foram mais de 1,1 milhão. Os brasileiros são o sexto maior grupo de visitantes de Portugal. “É um processo irreversível. Com quem converso no Brasil, o desejo de conhecer Portugal é frequente, porque há boas informações sobre o país”, afirma ela. “Tenho certeza de que, se o euro estivesse um pouco mais barato, o turismo de brasileiros teria explodido”, completa ele. Vale lembrar que o Brasil é um dos únicos países do mundo em que as passagens aéreas são parceladas em até 12 vezes. E isso permite que esse gasto caiba no orçamento de muitas famílias.

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