Território mundial em guerra aumentou dois terços em três anos
Mais de seis milhões de quilómetros quadrados do planeta encontram-se em estado de guerra, segundo um relatório da consultora de análise de risco Verisk Maplecroft.
A percentagem de território mundial em guerra aumentou dois terços nos últimos três anos, de 2,8% da superfície do planeta em 2021 para 4,6% em 2024, segundo um relatório divulgado pela consultora de análise de risco Verisk Maplecroft. A área total mundial afectada equivale a mais de seis milhões de quilómetros quadrados, segundo a organização, uma área duas vezes maior do que a Índia.
A área do planeta afectada pela guerra cinge-se sobretudo, segundo a consultora, a três grandes pontos: o continente africano, em que cerca de 10% do território está em conflito, nomeadamente numa zona identificada pela organização como "a cintura de conflitos"; a Ucrânia, especialmente depois da invasão russa em Fevereiro de 2022, e o Médio Oriente.
"O Médio Oriente e a Ucrânia continuam a ser os teatros de guerra mais intensos e ambos podem sofrer uma escalada", lê-se no relatório.
A cintura de conflitos em África identificada pela organização liga as duas costas do continente, entre o Mali e a Somália, afectando ao todo 14 países em 2024 e levando ao crescimento, em mais do dobro, da área verificada em 2021. O país mais afectado, segundo o relatório, é o Burkina Faso, onde 86% do território está afectado por um conflito entre o Estado e grupos militantes. Países como o Sudão, que vive uma guerra civil desde 2023 entre forças do Governo e uma milícia, e a Etiópia registam um aumento do território afectado pela guerra de 20% e 30%, respectivamente.
No Médio Oriente, especialmente depois do reacender das hostilidades entre Israel e o Hamas com o ataque do dia 7 de Outubro de 2023, o número de fatalidades aumentou, com especial foco nas hostilidades na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, no Líbano e na Síria.
Já na Ucrânia, a invasão da Rússia levou à expansão do conflito que se vivia, cingido maioritariamente à região do Donbass. Segundo a Verisk Maplecroft, "a percentagem do território ucraniano afectado pelos combates aumentou de 8,6% para 70,5% desde Fevereiro de 2022", com a esmagadora maioria da Ucrânia e partes da Rússia, especialmente a região de Kursk, onde a Ucrânia iniciou este ano uma incursão, a serem afectadas pela guerra.
O crescimento territorial dos conflitos, refere o relatório, tem um impacto humano "alarmante". "As mortes em conflitos a nível mundial poderão ultrapassar as 200 mil até ao final do ano, o que representa um aumento de quase um terço desde 2021", escreve a Verisk Maplecroft. Para além de mortes, segundo o ACNUR, uma em cada 67 pessoas foi deslocada até Julho devido a conflito, perseguição ou violência, correspondendo a cerca de 122 milhões de pessoas, mais cinco milhões que em 2023.
O coordenador do relatório e director de investigação da Verisk Maplecroft aponta também, em declarações ao jornal britânico The Guardian, os riscos económicos das guerras, uma tendência que, diz, continuará a aumentar.
"Os riscos de conflito estão a aumentar, como tem acontecido nos últimos anos, e as empresas globais têm de pensar nisso. Podemos olhar para os meios de comunicação internacionais e pensar: 'Não tenho uma fábrica no Sudão, isso não me afecta', mas devido aos impactos na cadeia de abastecimento, um conflito num local distante pode afectar-nos", disse.