“A maré está a mudar”. Reino Unido congela bens e barra entrada a Isabel dos Santos

Governo britânico anunciou sanções contra Isabel dos Santos, o multimilionário Dmitry Firtash e o oligarca Aivars Lembergs. Londres fala de operação histórica de combate à corrupção.

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As autoridades britânticas tentam agora mudar a reputação do país como destino de "dinheiro sujo" fvl fernando veludo/nfactos
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O Reino Unido anunciou esta quinta-feira o congelamento dos bens da empresária angolana Isabel dos Santos e a proibição de entrada no país à filha do ex-Presidente de Angola. A nova vaga de sanções atingiram outros dois "cleptocratas", como classifica o Governo britânico: o multimilionário ucraniano Dmitry Firtash e oligarca letão Aivars Lembergs.

David Lammy, ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, anunciou que "a era dourada do branqueamento de capitais terminou". As sanções são "o primeiro passo de uma nova campanha" para "combater a corrupção e o financiamento ilícito", considerou o executivo do Reino Unido. "A maré está a mudar" para os cleptocratas, declarou o Governo, que pôs em marcha "uma agenda intergovernamental para proteger os cidadãos do Reino Unido, salvaguardar a democracia e apoiar o crescimento económico".

No comunicado oficial do Governo, Isabel dos Santos é descrita como "uma mulher outrora apelidada como a mais rica de África, que desviou pelo menos 350 milhões de libras", o equivalente a 420,7 milhões de euros, de empresas públicas. As autoridades britânicas consideram que a empresária, procurada pela Interpol desde Novembro de 2022, "abusou sistematicamente dos seus cargos em empresas estatais" para desviar dinheiro, "privando Angola de recursos e financiamento para o tão necessário desenvolvimento".

Outras duas pessoas do círculo próximo de Isabel dos Santos foram sancionadas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido: Paula Oliveira, amiga e parceira de negócios da empresária, e Sarju Raikundalia, director financeiro dos negócios liderados pela filha de José Eduardo dos Santos. Ambos "ajudaram Isabel dos Santos a canalizar a riqueza nacional de Angola em benefício próprio".

"Ao visar tanto os autores de corrupção grave como os seus facilitadores, em especial quando a riqueza ilícita está escondida no Reino Unido, estas designações marcam uma mudança radical na forma como este governo está a utilizar os seus poderes de sanção para tornar o Reino Unido um ambiente mais hostil para os agentes corruptos operarem", defendeu o executivo britânico.

Em declarações à Reuters, Isabel dos Santos disse que as sanções britânicas eram “incorrectas e injustificadas”. “Não me foi dada a oportunidade de me defender contra estas alegações”, afirmou: “Tenciono recorrer e espero que o Reino Unido me dê a oportunidade de apresentar as minhas provas.”

As sanções também atingiram "um oligarca infame que extraiu centenas de milhões de libras da Ucrânia através da corrupção e do seu controlo da distribuição de gás". Dmitry Firtash é acusado pelo Governo de ter ocultado "dezenas de milhões de libras de ganhos ilícitos só no mercado imobiliário do Reino Unido".

A mulher, Lada Firtash, e o facilitador financeiro Denis Gorbunenko também foram sancionados — a primeira porque "lucrou com a sua corrupção e detém activos no Reino Unido em seu nome", e o segundo porque "permitiu e facilitou a corrupção de Firtash" em território britânico.

A terceira personalidade atingida pelas medidas de combate à corrupção é uma das pessoas mais ricas da Letónia. Aivars Lembergs, ex-autarca da cidade de Ventspils condenado por lavagem de dinheiro e suborno, "abusou da sua posição política para cometer subornos e branquear fundos", sublinharam as autoridades britânicas, "tentou esconder o produto da sua corrupção em fundos de investimento e outras estruturas empresariais". Algumas dessas estruturas estavam em nome da filha, Liga Lemberga, que também foi sancionada.

David Lammy, ministro dos Negócios Estrangeiros, diz estar comprometido em "enfrentar os cleptocratas e o dinheiro sujo que lhes dá poder". Também Yvette Cooper, ministra da Administração Interna, assegurou que o Governo britânico "está empenhado em trabalhar com parceiros no país e no estrangeiro para impedir estas práticas criminosas e perseguir aqueles que beneficiam do fluxo de dinheiro sujo": "Esta acção assinala um novo capítulo nos nossos esforços para combater o flagelo da corrupção onde quer que ela ocorra."

As autoridades britânicas têm sido criticadas por não terem imposto medidas mais severas, ao longo das últimas décadas, para combater esquemas de corrupção e de lavagem de dinheiro que passam pelo Reino Unido. As sanções anunciadas esta quinta-feira vão ao encontro dos Regulamentos de Sanções Globais Anticorrupção que o país implementou em 2021 e pretendem reforçar o trabalho do Centro Internacional de Coordenação Anticorrupção.

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