Itamar Vieira Junior vence pela segunda vez Jabuti com Salvar o Fogo
Autor já tinha sido recebido o mais importante prémio brasileiro de literatura há três anos, graças a Torto Arado, que já vendeu um milhão de exemplares em todo o mundo.
O escritor brasileiro Itamar Vieira Júnior conquistou o Prémio Jabuti 2024, na categoria de romance, com Salvar o Fogo. Esta é a segunda vez que o autor recebe o mais importante prémio brasileiro de literatura, após em 2021 ter sido distinguido pela obra Torto Arado — que também arrecadou o Prémio LeYa em 2018, o Prémio Oceanos em 2020 e, este ano, o prémio da fundação francesa Montluc Resistance et Liberté, que reconhece obras sobre temáticas de resistência e liberdade.
A mais recente conquista "consagra definitivamente Itamar Vieira Júnior como um dos autores mais relevantes da actual literatura brasileira", escreve, numa reacção ao prémio, a editora portuguesa do autor, a Dom Quixote, do grupo LeYa.
Salvar o Fogo foi publicado em Abril do ano passado, em Portugal, e conta a história de Moisés e da sua irmã Luzia, que assume o papel materno após a morte da mãe, estabelecendo-se entre ambos "uma relação tocante e comovente", que "tem como cenário o Brasil rural e profundo, o mesmo, de resto, do seu anterior romance", refere a Dom Quixote.
Para o jornal O Estado de S. Paulo, Vieira Júnior mostra com mestria, em Salvar o Fogo, como as personagens enfrentam "as maiores injustiças", entre a orfandade de Moisés e a marginalização de Luzia, "estigmatizada pela população por seus supostos poderes sobrenaturais". Luzia acaba por se entregar a "um profundo sentido religioso" com impacto na extrema rigidez da educação de Moisés.
Natural de Salvador, Itamar Vieira Júnior é geógrafo, doutorado em Estudos Étnicos e Africanos. Além de Torto Arado, traduzido em 28 países (e que já vendeu um milhão de exemplares em todo o mundo), o escritor publicou também o livro de contos Doramar ou a Odisseia — Histórias (2022), que antecedeu Salvar o Fogo e foi já publicado em nove países.
Para o próximo ano, segundo o Grupo LeYa, está prevista a edição em Portugal de Chupim, o primeiro livro infantil do escritor.
A 66.ª edição do Jabuti distinguiu ainda, na área do conto, O Ninho, de Bethânia Pires Amaro; na Crónica, Sempre Paris: Crônica de uma Cidade, Seus Escritores e Artistas, de Rosa Freire d'Aguiar; na Banda Desenhada, Como Pedra, de Luckas Iohanathan; na Literatura Infantil, Cabo de Guerra, de Ilan Brenman e Guilherme Karsten; na Literatura Juvenil, Apytama: Floresta de Histórias, de Kaká Werá; e na Poesia, Cabeça de Galinha no Chão de Cimento, de Ricardo Domeneck. Na Ficção de Entretenimento, o prémio foi para O Crime do Bom Nazista, de Samir Machado de Machado.
Na categoria de primeira obra de poesia foi premiado Breve Ato de Descascar Laranjas, de Bianca Monteiro Garcia, enquanto Os Náufragos, de Patrícia Larini, venceu na de primeiros romances.
Nas áreas de Não Ficção foram distinguidos os livros Baviera Tropical, de Betina Anton (categoria de Biografia e Reportagem), uma investigação sobre a trajectória no Brasil de Josef Mengele, "o mais infame dos médicos nazis"; A Verdade Vos Libertará, de Gabriela Biló (Artes); O Mutirão das Árvores: Queremos Sombra e Água Fresca, de Claudio de Moura Castro (Economia Criativa); Consumo Verde, de Ricardo Esturaro (Negócios); O Sentido da Vida, de Contardo Calligaris (Saúde e Bem Estar); e Como Ser Um Educador Anti-racista, de Bárbara Carine (Educação).
No eixo de produção editorial, os Jabuti premiaram a ilustração de Guilherme Karsten em Cabo de Guerra, o projecto gráfico de Bará, de Felipe Chodin, para a editora Act, e a tradução de João Carlos B. Gonçalves para o texto sânscrito do século XII Canto para Govinda.
Os Jabuti homenagearam ainda a escritora de 87 anos Marina Colasanti como Personalidade Literária de 2024, pela "sua contribuição para a literatura, com livros que tratam de temas universais de maneira simples e poética, conquistando leitores de todas as idades". Com mais de 50 anos de carreira, a autora ítalo-brasileira soma nove prémios Jabuti.
Texto corrigido às 10h30: uma versão anterior deste texto dizia que as vendas de um milhão tinham sido em Portugal, quando foram em todo o mundo