Dengue: alerta para maior concentração de mosquitos invasores em Faro e Lisboa

Elevada presença de mosquitos verifica-se em “áreas urbanas com condições propícias à sua proliferação, como jardins, quintais e outros locais onde há recipientes com manutenção de águas paradas”.

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O mosquito Aedes albopictus frank600/GettyImages
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O Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade NOVA de Lisboa (IHMT NOVA) alertou esta quarta-feira para a possibilidade de uma maior concentração de mosquitos nos distritos de Faro e Lisboa, nomeadamente de espécies invasoras que transmitem doenças.

O alerta resulta de dados do mosquitoWEB, um projecto de "ciência cidadã" que conta com a participação das pessoas para identificar a presença de mosquitos que transmitem a dengue e febre-amarela em regiões do país.

Os resultados do projecto evidenciam "um aumento de submissões de mosquitos nos distritos de Faro e Lisboa, nomeadamente da espécie invasora Aedes albopictus (mosquito tigre)", explicou o IHMT NOVA, em comunicado.

"Estes dados sugerem que poderá, de facto, existir uma maior concentração de mosquitos nestas zonas e vão ao encontro do alerta emitido recentemente pela Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica (Lisboa) sobre o risco de disseminação do vírus da dengue, transmitido pelo mosquito Aedes albopictus, presente nestes dois distritos", destacou ainda.

Os dados desta plataforma apontam para "uma elevada presença de mosquitos em áreas urbanas com condições propícias à sua proliferação, como jardins, quintais e outros locais onde há recipientes com manutenção de águas paradas".

Teresa Novo, entomologista do IHMT NOVA e responsável operacional da plataforma mosquitoWEB, sublinhou que "a evidência científica obtida através do mosquitoWEB reforça a necessidade de uma maior consciencialização da população para reduzir o risco de propagação de mosquitos, vectores de agentes patogénicos no país".

"A participação da comunidade é essencial para proteger a saúde colectiva", vincou também, de acordo com a nota de imprensa.

Qualquer pessoa pode participar no projecto mosquitoWEB, através do "site" da plataforma: basta fotografar um mosquito, carregar a imagem na plataforma, fornecer informações sobre o local onde foi encontrado e incluir dados de contacto (telemóvel ou e-mail) para seguimento.

Entre as recomendações para a população, a IHMT NOVA destacou a eliminação de águas paradas e o uso de repelente.

Segundo os dados da OMS, mais de 7,6 milhões de casos de dengue foram notificados à organização este ano a nível mundial, incluindo 3,4 milhões confirmados.

Aumento de casos

Embora se tenha registado um aumento substancial nos casos de dengue a nível global nos últimos cinco anos, esse crescimento foi mais pronunciado na região das Américas, onde o número de casos já ultrapassou sete milhões até ao final de Abril de 2024, superando os 4,6 milhões de 2023.

Muitos dos infectados pelo vírus que provoca a dengue podem ser assintomáticos, mas os sintomas da doença são febre, dor de cabeça, dor muscular e articular, dor em redor ou atrás dos olhos, vómitos, manchas vermelhas na pele e hemorragias.

Até ao dia 9 de Junho, Portugal registou 61 casos de dengue – mais 34 do que os que tinham sido reportados até 31 de Março. Os dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS) indicam ainda que todos os casos são importados e que não existe qualquer óbito associado à doença detectada no país.

Amostras de águas residuais de diversos pontos do país foram analisadas por investigadores do Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa quanto à presença do vírus que causa a febre de dengue e do vírus chicungunha, ambos disseminados através de picadas de mosquitos.

O estudo, publicado na revista The Lancet Microbe, mostra que, das 273 amostras analisadas, 25% continham carga viral do vírus da dengue e 11% do vírus chicungunha. No entanto, em Portugal continental, não foram detectados quaisquer casos autóctones destas doenças com manifestações clínicas – o que significa que todos os casos conhecidos resultaram de viajantes portadores.

Um novo estudo publicado esta semana mostra os efeitos que o aumento das temperaturas já está a ter no número de casos de dengue. Através de uma análise feita a 21 países, do Brasil à Indonésia, entre 1995 e 2014, uma equipa de investigadores calculou que 19% da incidência daquela doença foi provocada pelo aquecimento global. Esta tendência deverá continuar no futuro e, em algumas regiões, o número de casos de dengue poderá duplicar nas próximas décadas, adianta a investigação.

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