Ramalho Eanes estará presente na sessão solene do 25 de Novembro
Cerimónia terá honras militares e decorrerá em moldes semelhantes à sessão que assinala todos os anos a revolução de 25 de Abril de 1974. O PCP já recusou participar nas comemorações.
O antigo Presidente da República Ramalho Eanes aceitou o convite do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, e estará presente na sessão solene evocativa do 25 de Novembro de 1974.
A presença de Ramalho Eanes, que foi o comandante operacional do 25 de Novembro, foi confirmada à Lusa por fonte oficial do gabinete do primeiro Presidente da República eleito em democracia, acrescentando que estará acompanhado pela sua mulher, Manuela Eanes.
A sessão para evocar o 25 de Novembro de 1975 na Assembleia da República terá honras militares pelas Forças Armadas e decorrerá em moldes semelhantes à sessão solene que assinala todos os anos a revolução de 25 de Abril de 1974.
Após meses de divergências entre a esquerda e a direita parlamentar, a conferência de líderes parlamentares fechou o modelo a usar para a sessão evocativa do 25 de Novembro. Os grupos parlamentares usarão da palavra, - o PCP já fez saber que não participará -, e o Presidente da República discursa no final, depois da intervenção do presidente da Assembleia da República.
"A História não pode ser deturpada"
A Associação 25 de Abril, presidida por Vasco Lourenço, recusou o convite para estar presente por considerar que a sessão representa uma "clara deturpação dos acontecimentos vividos" na caminhada do Movimento das Forças Armadas (MFA).
"A História não pode ser deturpada. Nós, os principais responsáveis pela consumação do 25 de Abril, com a aprovação da Constituição da República, não o permitiremos!", salienta-se na nota, emitida na passada semana.
"O 25 de Abril é o dia da Liberdade, da reconstrução da Democracia e da Paz, conforme ficou bem evidente nas Comemorações Populares dos 50 Anos do 25 de Abril. Todos os acontecimentos posteriores, que se caracterizaram por tentativas de impedir o caminho traçado pelo Programa do MFA e dos seus valores, acabaram por ser vitórias do MFA e do povo, apesar do juízo que hoje se possa fazer sobre o caminho que foi seguido", defende a Associação 25 de Abril.
Vasco Lourenço afirma que cabe no conceito da associação, e até é seu desejo, "que os momentos-chave desse percurso sejam recordados e evocados, como o "28 de Setembro de 1974", o "11 de Março de 1975", o "25 de Novembro de 1975" (não esquecendo outros, também importantes, mas de menos relevo como foi o "Golpe Palma Carlos").
"Mas nunca admitiremos que qualquer deles se sobreponha ou pretenda igualar à comemoração do 25 de Abril de 1974", sublinha.
No dia 25 de Novembro de 1975, cerca de mil pára-quedistas da Base Escola de Tancos ocuparam o Comando da Região Aérea de Monsanto e seis bases aéreas, ato que o Grupo dos Nove - grupo de militares da ala moderada do Movimento das Forças Armadas - considerou o indício de que poderia estar em preparação um golpe de Estado pela chamada esquerda militar.
A tentativa de sublevação daquelas unidades militares, conotadas com sectores da extrema-esquerda, foi travada por um dispositivo com base no regimento de comandos da Amadora, sob a direcção do então tenente-coronel Ramalho Eanes, futuro Presidente da República.
Ao fim da tarde, o então Presidente da República, Francisco da Costa Gomes, decretou o estado de sítio na região de Lisboa, e a situação foi controlada pelos militares afectos ao Grupo dos Nove no MFA.
Os acontecimentos do 25 de Novembro de 1975 tiveram ao longo de décadas várias versões e provocaram divisões sobre as responsabilidades de cada um dos atores e sobre quem deu o primeiro passo.