Perseguição dos cristãos está a aumentar em Cabo Delgado

Segundo o relatório da Fundação AIS sobre a perseguição de cristãos no mundo, hoje lançado, “a situação é mais sensível” no Norte de Moçambique pois “a guerra está a assumir dimensão mais religiosa”.

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Deslocados do conflito em Cabo Delgado Paulo Pimenta
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Moçambique é um dos países onde a perseguição aos cristãos mais se intensificou desde Junho de 2022, sobretudo na província de Cabo Delgado, no extremo Norte do país, onde se regista um incremento dos relatos de ataques de jihadistas contra comunidades cristãs, aponta o relatório Perseguidos e Esquecidos?, da Fundação AIS, que esta quarta-feira é lançado em Lisboa. O documento diz que, entre Agosto de 2022 e Junho deste ano, “o epicentro da violência militante islamista deslocou-se do Médio Oriente para África”.

Embora o bispo de Pemba, António Juliasse, sublinhe que, em Cabo Delgado, “a pobreza endémica e a falta de educação” são “os motores da insurreição islamista, e não a religião”, desde que o Daesh estabeleceu ligação com os jovens do movimento Ansar al-Sunna, mais conhecido por Al-Shabab, que desde Outubro de 2017 travam uma guerra jihadista em Cabo Delgado, a religião ganhou maior dimensão nos ataques.

Uma fonte diocesana indica no relatório que “a situação é mais sensível do que no ano passado, porque agora os cristãos começam a ser visados e a guerra está a assumir uma dimensão mais religiosa”.

"O Ano Novo de 2024 assistiu a um recrudescimento dos ataques do autoproclamado Estado Islâmico em Moçambique (EIM), na província de Cabo Delgado, no Nordeste do país. Incendiaram 18 igrejas no distrito de Chiúre durante um período de três semanas, em Fevereiro", lê-se no relatório. "À medida que avançavam para os distritos do Sul de Cabo Delgado, levaram a cabo a maior campanha sustentada contra os cristãos da região desde que a revolta dos insurgentes começou em Outubro de 2017."

O relatório, que será apresentado no auditório do MUDE (Museu do Design) às 17h30 pelo jurista e docente universitário Jorge Bacelar Gouveia, analisa os desafios que os cristãos enfrentam em 18 países, onde sofrem problemas que vão desde o assédio à detenção, deslocação forçada ou assassinato. Uma das principais conclusões é, então, que “o epicentro da violência militante islamista deslocou-se do Médio Oriente para África”, onde se registou uma “intensificação da perseguição dos cristãos como inimigos do Estado e/ou da comunidade local”.

Nessas zonas, “os intervenientes estatais e não estatais utilizaram cada vez mais como arma a legislação existente e nova legislação que criminaliza actos considerados desrespeitosos para com a religião do Estado como forma de oprimir os cristãos e outros grupos religiosos minoritários” e assistiu-se a um incremento da “ameaça às crianças cristãs, especialmente as raparigas”.

Perseguidos e Esquecidos? refere o aumento da violência e ou da opressão sobre os cristãos na maioria dos 18 países escrutinados, embora se reconheça que, em muitos casos, esses problemas abrangeram apenas regiões específicas e não o total do país. Além de Moçambique, registou-se um agravamento na perseguição aos cristãos na Nicarágua, Burkina Faso, Nigéria, Iraque, Irão, Paquistão, Índia, China, Sudão e Eritreia. Por sua vez, registou-se uma melhoria ligeira no Vietname e a manutenção da situação na Birmânia, Síria, Egipto, Turquia, Arábia Saudita e Coreia do Norte.

Entretanto, a Fundação AIS recorda que “durante anos, os governos têm sido criticados por, na melhor das hipóteses, se limitarem a falar da necessidade de tomar medidas contra a perseguição dos cristãos e de outras minorias religiosas”. E antecipa que “é pouco provável que os governos recentemente (re)eleitos tomem medidas para pôr termo à perseguição, porque têm outras prioridades em termos de assuntos internacionais”.

No entanto, avisa que “ignorar a situação dos cristãos é ignorar os sinais de alarme, pois onde quer que aqueles sejam perseguidos, o direito à liberdade religiosa para todos é posto em causa”.

“Onde quer que os cristãos sejam assediados ou presos, detidos ou discriminados, torturados ou assassinados, os governos cometem ou toleram abusos também contra outros”.

A Fundação AIS depende directamente da Santa Sé e ajuda os cristãos onde quer que eles se encontrem perseguidos, refugiados ou ameaçados. Foi fundada em 1947, pelo padre Werenfried van Straaten, inspirado na mensagem de Fátima, sendo em Portugal dirigida actualmente por Catarina Martins de Bettencourt.

Ao final da tarde desta quarta-feira, após o lançamento do relatório, será iluminado de vermelho a estátua de D. José I, na Praça do Comércio, em Lisboa, e o monumento ao Cristo Rei, em Almada, lembrando as situações de perseguição religiosa, em particular dos cristãos, que se verificam em muitos países. Outros monumentos nacionais, um pouco por todo o país, vão ficar iluminados de vermelho durante esta semana.

O gesto é repetido em mais de 20 países, “para lembrar que a perseguição religiosa não é uma coisa do passado, mas sim uma realidade bem cruel dos dias de hoje”, frisa a Fundação AIS.