Marine Le Pen acusa procuradores franceses de quererem a sua “morte política”

Le Pen e a União Nacional lançam ataques contra a justiça. Acusações surgem no meio das discussões orçamentais em França.

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Marine Le Pen mobiliza ataques à justiça francesa YOAN VALAT / EPA
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Depois do Ministério Público francês pedir a ineligibilidade de Marine Le Pen por cinco anos, chega a resposta da principal figura do partido da extrema-direita francesa, União Nacional. Numa entrevista à rádio francesa RTL, Marine Le Pen atirou acusações aos procuradores franceses, que estão, diz, a politizar o processo com "uma pena de morte política" dirigida à actual líder do grupo parlamentar do partido, o maior da Assembleia Nacional francesa.

"Esta acusação é revoltante por ser tão escandalosa", disse Le Pen na entrevista à rádio, tendo acusado o Ministério Público de pedir "penas desproporcionadas em relação a qualquer outra acusação do mesmo tipo, chegando ao ponto de pedir a pena de morte política com execução provisória", acrescentou.

Marine Le Pen está a ser julgada num processo sobre um alegado desvio de fundos europeus relativo aos assessores parlamentares no Parlamento Europeus da União Nacional (antes conhecida por Frente Nacional) entre 2006 e 2016 e que envolve directamente a ex-líder e ex-eurodeputada pelo Partido. Na semana passada, o Ministério Público francês pediu uma pena de cinco anos de prisão para Le Pen, assim como cinco anos de ineligibilidade para cargos públicos, algo que a retiraria da corrida para Presidente de França em 2028, naquela que seria a quarta tentativa de chegar ao Palácio do Eliseu.

Le Pen considerou que, caso fosse condenada à pena que foi pedida pelo Ministério Público francês, sofreria "uma sentença irreparável" sem hipótese de poder recorrer do dano reputacional que diz que lhe seria infligido. "O objectivo é atacar um adversário político", disse ainda a ex-líder da União Nacional, acrescentando que ainda ser "um ataque à democracia".

A reacção do partido de Le Pen ao pedido dos procuradores foi de levantar armas e apelar à militância em apoio à ex-líder da União Nacional. Na semana passada, Jordan Bardella, actual presidente do partido, acusou os procuradores de estarem a levar a cabo uma "perseguição e vingança" contra Marine Le Pen, na rede social X. Numa entrevista à BFMTV, Bardella acusou os procuradores de serem "parciais", levando a que Le Pen não seja "julgada como os outros".

Nas redes sociais, Bardella promoveu ainda uma recolha de assinaturas para apoiar Le Pen com o lema "Defenda a democracia, apoie Marine", acusando a justiça, na descrição da petição, de levar a cabo uma "tentativa de eliminar a voz da verdadeira oposição". A imprensa francesa liga a retórica usada por Le Pen e Bardella à usada por Donald Trump, o Presidente eleito dos Estados Unidos, que foi alvo de vários processos judiciais no passado recente.

"Para além do vocabulário rebelde, Marine Le Pen e a sua tropa fazem eco dos apelos à impugnação do presidente eleito nos Estados Unidos", escreve o jornalista Corentin Leuseur no jornal Le Monde, citando os apelos à mobilização de Bardella e de outros membros da União Nacional.

Ameaça de uma nova moção de censura

Esta fase do julgamento ocorre numa altura em que as negociações orçamentais em França se intensificam e colocam a União Nacional no centro das atenções, enquanto maior partido político representado na câmara baixa do Parlamento, face à possibilidade de uma nova moção de censura, depois do partido de extrema-direita se ter abstido e permitido a continuidade do governo.

Na entrevista à RTL, Le Pen definiu a sua "linha vermelha". "O certo é que não aceitaremos mais cortes no poder de compra dos franceses na situação em que se encontram actualmente. Trata-se, portanto, de uma linha vermelha. E se, de facto, esta linha vermelha for ultrapassada, votaremos a favor de uma moção de censura. Não há qualquer ambiguidade", delineou Le Pen, que retiraria assim o apoio tácito dado ao Governo caso o primeiro-ministro Michel Barnier force a passagem do orçamento através do controverso artigo 49.3 da Constituição, usado no passado para aprovar orçamentos e medidas controversas, como a reforma do sistema de pensões, apesar de faltar aprovação do Parlamento francês.

A espada da censura parlamentar é algo que pende sobre o governo de Barnier desde a sua tomada de posse, dada a oposição constante da Nova Frente Popular, que venceu as eleições em Junho de 2024 mas não teve maioria suficiente para garantir a nomeação pelo Presidente Emmanuel Macron da sua candidata à chefia do Governo, Lucie Castets.

O deputado do Partido Socialista, Philippe Brun, citado pelo jornal francês L'Opinion, anteviu o calendário futuro da política francesa.

"A votação final do orçamento terá lugar a 16 de Dezembro. Haverá um 49.3 e depois uma resposta automática. A moção de censura será apresentada a 18 ou 19 de Dezembro. A queda de Barnier terá um efeito surpreendente para os franceses em vésperas de Natal", disse.

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