“Falta um fio condutor nas políticas públicas para a saúde oral”
Antecipando o 33.º Congresso da OMD, o bastonário da Ordem dos Médicos Dentista, Miguel Pavão, alerta para a importância do acesso a tratamentos dentários, com uma maior oferta pública e privada.
São mais de seis milhões os portugueses com falta de dentes, um problema que, para Miguel Pavão, é urgente resolver, uma vez que põe em causa a saúde pública, além de ser um problema social, com impacto na auto-estima e, muitas vezes, na empregabilidade. O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) reforça a importância das políticas públicas para colmatar, de forma mais eficiente, este problema. “Aquilo que mais preocupa a Ordem é não haver, em muitos momentos, um fio condutor, independentemente dos ciclos políticos que atravessamos, uma vez que trazem consequências para a definição e a orientação de políticas numa área que foi durante muitos anos negligenciada pelas políticas de saúde em Portugal”, afirma.
Manter o paciente no centro, um dos temas do 33.º Congresso da OMD, decorre de 21 a 23 de novembro, na FIL, em Lisboa, é também pensar políticas públicas que apostem mais na saúde oral. Para cumprir esta meta, a OMD, refere o bastonário, tem trabalhado permanentemente em estreita colaboração com os diferentes governos, destacando, de forma positiva, o programa cheque-dentista, em articulação com o sector privado, mas também a integração de médicos dentistas no SNS, com a instalação de gabinetes de medicina dentária em algumas Unidades de Saúde Familiar (USF). No entanto, Miguel Pavão defende que “é preciso mais”.
Por agora, a proposta da OMD continua a ser no sentido de reforçar o trabalho complementar entre sistema privado e sistema público, mantendo o que estava em curso e reforçando o programa cheque-dentista, nomeadamente, a criação dos cheques-dentista que estavam definidos há menos de um ano numa portaria: o cheque-dentista diagnóstico e prevenção, o cheque-dentista traumatismo, e o cheque-dentista reabilitação oral. “Há muito trabalho para ser feito em termos parlamentares e, para tal, é preciso decisão política”, defende o bastonário.
Miguel Pavão recorda que a saúde oral tem vivido com menos de 20 milhões de euros provenientes do Orçamento do Estado (OE), “o que é insuficiente”. A OMD apresentou, inclusivamente, algumas propostas para que o OE pudesse reforçar o investimento na saúde oral, entre as quais a utilização da receita de alguns impostos – sobre o tabaco ou as bebidas açucaradas, por exemplo.
Inovação é fundamental na medicina dentária
À semelhança de outras áreas da saúde, a inovação é, cada vez mais, um factor determinante também na saúde oral e será, por isso, mais um dos temas centrais em debate no 33.º Congresso da OMD. “Vamos falar de inovação, não apenas na investigação, mas também no que se refere a tecnologias ou soluções, disponibilizadas por start-ups associadas ao sector”, revela Miguel Pavão, que recorda que a capacidade de empreender é uma das principais características dos médicos dentistas, e uma das mais antigas.
Sem uma carreira médico-dentária no Serviço Nacional de Saúde, muitos são obrigados a pôr mãos-à-obra e a criar o seu próprio emprego. Geram postos de trabalho para outros médicos dentistas e para um conjunto variado de outros profissionais. Assim, além do exercício das suas competências profissionais, são gestores e decisores, obrigados a acompanhar não só as evoluções tecnológicas da medicina dentária, mas também os constantes avanços e desafios que a gestão implica. Este papel multifacetado significa ainda que têm de saber dar resposta às solicitações da comunidade onde estão inseridos.
No painel dedicado ao ‘Empreendedorismo em medicina dentária’ estará em placo Joana Branco, directora de inovação e desenvolvimento de ecossistema da Biocant Park, uma incubadora de start-ups em Coimbra; Carlos Carvalho, presidente da Direcção Nacional da ANJE (Associação Nacional de Jovens Empresários); Joaquim Cunha, director executivo do Health Cluster Portugal; e André Simões, Director Clínico da Ourémed Clínica Médica e Dentária.
Outro tema que Miguel Pavão destaca é a emigração dos profissionais de saúde oral. “A ausência de uma carreira de medicina dentária no SNS não contribui para a retenção destes médicos dentistas, especialmente os mais jovens”, afirma o bastonário. Mesmo na oferta privada, é difícil atrair profissionais para locais mais remotos, fora dos centros urbanos, uma vez que a oferta não é muito desafiante. Quando comparada com os desafios de estar noutro país da União Europeia, com salários mais elevados, e em cidades cosmopolitas, a escolha de sair do país é, na perspectiva de Miguel Pavão, “natural e compreensível”.
Para debater o tema, o congresso contará com o painel ‘Migração entre os jovens médicos dentistas’, uma sessão que abordará as motivações e os desafios enfrentados por profissionais de saúde que optam por trabalhar fora de Portugal, as oportunidades que encontram nos países de acolhimento bem como as razões que levam à emigração. Em palco estarão alguns médicos dentistas que seguiram este caminho e que irão partilhar a sua experiência.
Ao longo dos três dias do 33.º Congresso da OMD não faltarão outros temas, de carácter mais científico, que abordam os desafios e apresentam soluções para a actividade dos médicos dentistas.