Vinícius descobre que tem antepassados dos Camarões
O craque brasileiro, tornado activista anti-racismo por já o ter sentido na pele, foi surpreendido com um teste de ADN que revelou a sua ligação genética a um povo africano.
É tida como a cidade com mais população negra do mundo fora de África, aquela onde vive a maior comunidade de afro-descendentes do Brasil. São Salvador da Bahia, fundada pelos portugueses há 475 anos e que prosperou em grande parte devido ao tráfico de escravos, foi o local escolhido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para lançar uma campanha contra o racismo no desporto e de valorização dos seus futebolistas com ascendência africana.
O mais famoso de entre eles, Vinícius Jr., descobriu esta terça-feira, 19 de Novembro, em pleno relvado antes do jogo entre o Brasil e o Uruguai, que os seus antepassados eram camaroneses.
Sem que o jogador soubesse, mas com a cumplicidade do pai, a CBF mandou analisar uma amostra de ADN de Vinícius e uma empresa de rastreamento genético concluiu que as suas origens familiares estão entre o povo Tikar, que há séculos habita uma região montanhosa dos Camarões.
A surpresa para o futebolista foi o arranque da campanha “Raízes de Ouro”, com que a CBF quer descobrir e valorizar as ascendências concretas dos seus jogadores afro-brasileiros. “Todos os atletas da selecção brasileira passarão por estes testes”, disse ao Globo o presidente da federação, Ednaldo Rodrigues. O mote desta iniciativa é “fazer com que a discriminação seja combatida de forma veemente, em particular o racismo, para que através do futebol a gente possa ter um mundo melhor”, disse ainda Rodrigues.
Esta quarta-feira assinala-se no Brasil o Dia da Consciência Negra. O Governo do estado da Bahia, que tem uma das mais expressivas populações negras do país, considera que “o racismo permanece como um dos maiores entraves ao desenvolvimento social e económico” a nível estadual e estatal. Isso verifica-se, segundo um relatório divulgado na terça-feira, no acesso à educação e ao mercado de trabalho e nos escalões salariais – nestes indicadores, a população negra está em situação de desvantagem em relação à branca, diz o documento.
Vinícius por diversas vezes tem sido alvo de racismo nos estádios e, ao mesmo tempo, tornou-se um dos mais veementes opositores à discriminação racial no desporto. “Eu sei da minha importância”, admitiu o jogador do Real Madrid em entrevista ao canal da CBF. “Eu sozinho não consigo combater tudo isso que os negros vêm sofrendo, mas eu sei do meu tamanho, mas eu sei da força que eu tenho, da minha fala, e posso falar por todas aquelas pessoas que não têm força”, acrescentou.
“Nos últimos três meses nós conseguimos colocar três ou quatro pessoas na cadeia e fazer elas pagarem pelo crime que cometeram”, destacou ainda, referindo-se a casos ocorridos em Espanha.
Quando recebeu no relvado o seu “certificado de ancestralidade”, Vini não escondeu o espanto e foi de poucas palavras. “Não sabia, estou vendo agora. Mas estou muito feliz. Agora é ganhar o jogo, bora p’ra cima”, disse, citado pelo site da CBF.
O jogo terminou empatado 1-1.