Amorim “domou” Gyökeres de um ano para o outro e todos saíram a ganhar

Há estatísticas colectivas e individuais que sugerem pistas para a melhoria do desempenho do avançado sueco no Sporting.

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Viktor Gyokeres, jogador do Sporting Pedro Nunes / REUTERS
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Dificilmente alguém define o desempenho de Viktor Gyökeres na temporada 2024/25 como totalmente inesperado ou “caído do céu”, já que a época passada já tinha sido de alto nível. Mas também dificilmente alguém tem coragem de dizer com todas as letras que já esperava que o sueco fizesse o que tem feito.

Nesta terça-feira foram mais quatro golos, pela Suécia, e, com 32 golos em 24 jogos, entre clube e selecção, o jogador sueco já chegou aos 58 em 2024. Tem, até ao final do ano, oito jogos para marcar mais quatro – que o colocarão no top 5 de maiores goleadores num ano civil neste século, só atrás de Messi, Ronaldo (duas vezes) e Lewandowski.

Por que motivo esta temporada está a ser tão acima da anterior? Não sendo possível saber que trabalho individual o jogador tem feito de diferente, resta-nos tentar chegar às explicações visíveis. E essas sugerem que o avançado teve de ser “domado” de um ano para o outro e que a equipa, em geral, contribuiu para isso.

Mudanças colectivas

Primeiro, no plano geral, é evidente que o Sporting se dotou de ferramentas diferentes nesta temporada. Depois de uma época na qual apostou muito no ataque ao espaço, explorando as características de Gyökeres, o Sporting deixou de usar esse recurso de forma tão unidimensional.

Conjugando-o com diagonais curtas e envolvimento de jogadores entre linhas, a equipa tem, hoje, em ataque posicional, ferramentas de que não dispunha.

Individualmente, a presença de alguém como Bragança tantas vezes perto de Gyökeres é útil nesse domínio, mas também ter Catamo e Quenda, raramente tendo um lateral/ala defensivo, permite não só mais “requinte” nas alas como ter os avançados interiores sempre por dentro, também mais próximos de servir o sueco.

Alterações individuais

Esta mudança colectiva suscitou algumas alterações no futebol de Gyökeres, que parece ter sido “domado” por Ruben Amorim. Em 2024/25, o sueco passa bastante mais tempo dentro da área adversária, algo visível nos mapas de calor das acções do avançado.

Depois, com ajuda do Fbref, com dados da I Liga, podemos ver que baixou os valores de passes tentados (curtos e longos) e baixou os valores de conduções progressivas para o terço atacante, embora tenha aumentado essas conduções em direcção à área adversária.

Gyökeres passou também a tocar menos vezes na bola, com um detalhe curioso: o valor baixou bastante no terço central do campo, baixou residualmente no terço ofensivo e até aumentou dentro da área adversária. Também os passes progressivos recebidos baixaram um pouco, algo que tem nexo pelo facto de estar mais perto da área adversária, onde há menos locais para pedir bolas no espaço.

Tudo isto sugere que passou a pedir com menos frequência a bola longe da baliza adversária (ainda que vá sempre fazê-lo muito bem), podendo explorar mais aquilo em que é forte – as diagonais curtas e a finalização – e menos aquilo em que a sua técnica não ajuda tanto – a decisão e a definição.

Nesse domínio, nota para o facto de ter também menos perdas de bola por jogo e melhor percentagem de acerto no passe.

Toca menos, remata mais

É também curioso que, apesar desta menor participação na construção de jogo, Gyökeres esteja mais rematador.

Parece um paradoxo, já que menos bola deveria significar menos remates, mas não tem de o ser: se passa mais tempo perto da área é natural que apresente, nesta temporada, um valor mais alto de remates – ainda que seja um aumento residual.

Um dado secundário, mas que também ajuda a entender o processo, é que Gyökeres tem, nesta temporada, menos intercepções e recuperações de bola.

Não é possível aferir que isso se deva a um pedido de Amorim para que se desgaste menos na pressão aos adversários, mas é, pelo menos, uma curiosidade para reflexão.

Em geral, mesmo que algumas diferenças sejam curtas, parece claro que o treinador procurou reduzir o labor de Gyökeres na criação de jogo e na recuperação de bola e fazê-lo focar-se na tarefa da finalização, com raio de acção mais reduzido.

Se foi isso que trouxe todos estes golos nunca será possível garantir, mas é, pelo menos, uma boa pista.

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